São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2007

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Última Moda

ALCINO LEITE NETO, em Paris - ultima.moda@folha.com.br

Romance futurista em Paris

Grife Balenciaga consegue dar forma nova ao desejo de feminilidade para o verão 2008

A semana de moda de Paris, que começou no sábado e termina neste domingo, acrescentou o vento forte da novidade à brisa romântica que soprou nos desfiles de Milão.
A Balenciaga fez nada mais nada menos do que promover o encontro do romantismo com o futurismo, numa impactante coleção em que motivos florais encantadores ilustravam silhuetas muito arquitetônicas e pouco convencionais.
As imagens das flores vieram dos arquivos Balenciaga. Foram utilizadas por este notável estilista no passado, e agora retrabalhadas com técnicas avançadas pelo atual designer da grife, o francês Nicholas Ghesquière, que mais uma vez confirmou seu papel de ponta de lança da cultura fashion.
Na nova coleção, a pesquisa formalista pesou tanto quanto o gosto decorativo. Ghesquière criou peças ao mesmo tempo superfemininas e muito fortes, esculturais, em que os ombros ressaltados dão grande vigor ao look, e algumas peças chegam a lembrar armaduras de uma princesa de ficção-científica.
A Balenciaga também confirmou a onda neokitsch que tomou conta da temporada primavera-verão 2008, com sua ênfase nos florais bombásticos e nas cores berrantes -sem falar no imaginário telúrico que a Prada evocou. Deve ter a ver com a expansão das grandes grifes no mercado chinês.
Já Martin Margiela apostou numa silhueta sem nostalgias nem romantismos -seguindo seu caminho muito particular, quase minimalista.
A fim de enxugar todo efeito ornamental, ele explorou bastante a cor "nude" (pele), combinada com o preto ou branco. Os contrastes fortes impunham a visão construtiva das roupas, como se elas fossem peças de encaixar, que por sua vez brincavam com a anatomia, liberando e ocultando o corpo.
É parte do talento deste estilista belga dosar seu intelectualismo com muito ironia e uma sensualidade misteriosa, como se quisesse abolir a própria roupa e deixar o corpo livre.
Bem ao contrário foi a coleção da Christian Dior. O estilista John Galliano não tem medo da exuberância nem do glamour, muito menos do passado. Por isso, foi fundo no seu mix hollywoodiano de décadas, inspirado em Marlene Dietrich e em outras estrelas.
A coleção é menos inventiva e grandiloquente que a do inverno, mas é bastante charmosa, sobretudo em suas apostas no mix com o guarda-roupa masculino, nas peças com estampas leopardo e nas transparências e adaptações da lingerie (tendências da temporada).
Viktor & Rolf também amenizaram suas loucurinhas e mostraram uma coleção mais comportada, com homenagem ao mímico Marcel Marceau e aos pierrôs. A grife lança neste mês no Brasil o perfume masculino Antidote.
Também chamaram a atenção nos primeiros dias da semana de Paris o desfile emotivo de Valentino, que está se despedindo do mundo fashion (vai se aposentar em janeiro de 2008), as piratas de Jean-Paul Gaultier, as criações muito inventivas da irlandesa Sharon Wauchob e a estréia na capital francesa da grife pop e exuberante Manish Arora, da Índia - outro dos mercados muito visados pelas megagrifes, junto com China e Rússia. Não, o Brasil não está na lista.

TEMPORADA ITALIANA

Milão define verão com glamour e cor

A semana de Milão -que terminou no último sábado- projetou para 2008 um verão glamouroso, descontraído, supercolorido e muito romântico. Feitas as contas, foi um grande sucesso, e impressiona o prazer das grifes de lá em fazer belas roupas e em querer embelezar as mulheres, apesar de poucos estilistas enfrentarem riscos maiores em termos criativos.
Algumas marcas que costumam apostar em imagens muito sexies desta vez resolveram esconder um pouco suas garras, caso da Dolce & Gabbana.
A grife utilizou como principal motivo pinturas de flores criadas por artistas, desenvolvendo-as em looks sofisticados, cuja perfeição formal era quebrada por assimetrias e impurezas -estas propiciadas pelas manchas de tintas dos trabalhos originais dos pintores.
A Versace apostou numa sensualidade forte que vinha menos do exibicionismo ostensivo do que do impacto das cores vibrantes, dos movimentos do jérsei de seda (onipresente), das dobras sinuosas e de recortes estratégicos.
A Emilio Pucci foi buscar inspiração na cultura do Oeste norte-americano e dos índios Navajo. Os motivos indígenas foram utilizados de maneira inteligente e cuidadosa.
O problema do estilista Matthew Williamsom, contudo, foi adequar o estilo natural e quase selvagem que lhe serviu de tema à tradição "perua" da maison Pucci. Às vezes ele conseguiu, às vezes não.
Quem não seguiu a regra da moderação foram os gêmeos Dean e Dan Caten, da grife DSquared, que investiram em looks ultra-sensuais e num desfile eletrizante, que levou até modelos com cigarros nas mãos à passarela. Pena que a coleção seja bem menos arrojada do ponto de vista do design.

Campanha é censurada

Na última terça-feira, a prefeita de Milão, Letizia Moratti, deu ordens para que a campanha publicitária mostrando uma modelo anoréxica fosse retirada dos outdoors controlados pela prefeitura da cidade -as imagens foram consideradas muito "agressivas".
A campanha, da grife de roupas No.l.ita, no entanto, continuará sendo exibida em outdoors de empresas privadas.
As imagens da campanha -que mostram o corpo nu da modelo francesa Isabelle Caro e o slogan "não à anorexia"- foram feitas pelo fotógrafo italiano Oliviero Toscani, conhecido por seus polêmicos trabalhos para a grife Benetton.
Na França, entidades ligadas à pesquisa da anorexia no país estão incentivando os proprietários de outdoors privados a não exibirem a campanha.

Dicionário bilíngüe reúne termos de moda

Interessada nas novidades lançadas nas semanas de moda européias, a fashionista bem informada dá um giro na internet e descobre que o "boho" voltará com tudo e que um vestido com estampa, digamos, "granny floral", é tudo o que ela precisará para os dias quentes.
Para decifrar esse delicioso dialeto, os interessados no mundo fashion podem agora contar com a ajuda do "Dicionário de Termos de Moda" (Publifolha, 104 págs., R$ 29,90), escrito por Diana Aflalo.
São mais de 2.000 verbetes em português e inglês -divididos em categorias como termos de costura, acessórios e tecidos- e que ajudariam a fashionista acima a descobrir que o estilo boêmio hippie-chic ("boho") e as estampas florais antiguinhas, tipo vovó ("granny floral"), vão pegar em 2008.


com VIVIAN WHITEMAN


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