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Última Moda
ALCINO LEITE NETO, em Paris - ultima.moda@folha.com.br
Romance futurista em Paris
Grife Balenciaga consegue dar forma nova ao desejo de feminilidade para o verão 2008
A semana de moda de Paris,
que começou no sábado e termina neste domingo, acrescentou o vento forte da novidade à
brisa romântica que soprou nos
desfiles de Milão.
A Balenciaga fez nada mais
nada menos do que promover o
encontro do romantismo com o
futurismo, numa impactante
coleção em que motivos florais
encantadores ilustravam silhuetas muito arquitetônicas e
pouco convencionais.
As imagens das flores vieram
dos arquivos Balenciaga. Foram utilizadas por este notável
estilista no passado, e agora retrabalhadas com técnicas avançadas pelo atual designer da
grife, o francês Nicholas Ghesquière, que mais uma vez confirmou seu papel de ponta de
lança da cultura fashion.
Na nova coleção, a pesquisa
formalista pesou tanto quanto
o gosto decorativo. Ghesquière
criou peças ao mesmo tempo
superfemininas e muito fortes,
esculturais, em que os ombros
ressaltados dão grande vigor ao
look, e algumas peças chegam a
lembrar armaduras de uma
princesa de ficção-científica.
A Balenciaga também confirmou a onda neokitsch que tomou conta da temporada primavera-verão 2008, com sua ênfase nos florais bombásticos
e nas cores berrantes -sem falar no imaginário telúrico que a
Prada evocou. Deve ter a ver
com a expansão das grandes
grifes no mercado chinês.
Já Martin Margiela apostou
numa silhueta sem nostalgias
nem romantismos -seguindo
seu caminho muito particular,
quase minimalista.
A fim de enxugar todo efeito
ornamental, ele explorou bastante a cor "nude" (pele), combinada com o preto ou branco.
Os contrastes fortes impunham a visão construtiva das
roupas, como se elas fossem peças de encaixar, que por sua vez
brincavam com a anatomia, liberando e ocultando o corpo.
É parte do talento deste estilista belga dosar seu intelectualismo com muito ironia e uma
sensualidade misteriosa, como
se quisesse abolir a própria
roupa e deixar o corpo livre.
Bem ao contrário foi a coleção da Christian Dior. O estilista John Galliano não tem medo
da exuberância nem do glamour, muito menos do passado. Por isso, foi fundo no seu
mix hollywoodiano de décadas,
inspirado em Marlene Dietrich
e em outras estrelas.
A coleção é menos inventiva
e grandiloquente que a do inverno, mas é bastante charmosa, sobretudo em suas apostas
no mix com o guarda-roupa
masculino, nas peças com estampas leopardo e nas transparências e adaptações da lingerie
(tendências da temporada).
Viktor & Rolf também amenizaram suas loucurinhas e
mostraram uma coleção mais
comportada, com homenagem
ao mímico Marcel Marceau e
aos pierrôs. A grife lança neste
mês no Brasil o perfume masculino Antidote.
Também chamaram a atenção nos primeiros dias da semana de Paris o desfile emotivo
de Valentino, que está se despedindo do mundo fashion (vai se
aposentar em janeiro de 2008),
as piratas de Jean-Paul Gaultier, as criações muito inventivas da irlandesa Sharon Wauchob e a estréia na capital francesa da grife pop e exuberante
Manish Arora, da Índia - outro
dos mercados muito visados
pelas megagrifes, junto com
China e Rússia. Não, o Brasil
não está na lista.
TEMPORADA ITALIANA
Milão define verão com glamour e cor
A semana de Milão -que terminou no último sábado- projetou para 2008 um verão glamouroso, descontraído, supercolorido e muito romântico.
Feitas as contas, foi um grande
sucesso, e impressiona o prazer
das grifes de lá em fazer belas
roupas e em querer embelezar
as mulheres, apesar de poucos
estilistas enfrentarem riscos
maiores em termos criativos.
Algumas marcas que costumam apostar em imagens muito sexies desta vez resolveram
esconder um pouco suas garras, caso da Dolce & Gabbana.
A grife utilizou como principal motivo pinturas de flores
criadas por artistas, desenvolvendo-as em looks sofisticados,
cuja perfeição formal era quebrada por assimetrias e impurezas -estas propiciadas pelas
manchas de tintas dos trabalhos originais dos pintores.
A Versace apostou numa
sensualidade forte que vinha
menos do exibicionismo ostensivo do que do impacto das cores vibrantes, dos movimentos
do jérsei de seda (onipresente),
das dobras sinuosas e de recortes estratégicos.
A Emilio Pucci foi buscar inspiração na cultura do Oeste
norte-americano e dos índios
Navajo. Os motivos indígenas
foram utilizados de maneira inteligente e cuidadosa.
O problema do estilista Matthew Williamsom, contudo, foi
adequar o estilo natural e quase
selvagem que lhe serviu de tema à tradição "perua" da maison Pucci. Às vezes ele conseguiu, às vezes não.
Quem não seguiu a regra da
moderação foram os gêmeos
Dean e Dan Caten, da grife
DSquared, que investiram em
looks ultra-sensuais e num desfile eletrizante, que levou até
modelos com cigarros nas
mãos à passarela. Pena que a
coleção seja bem menos arrojada do ponto de vista do design.
Campanha é censurada
Na última terça-feira, a prefeita de Milão, Letizia Moratti,
deu ordens para que a campanha publicitária mostrando
uma modelo anoréxica fosse
retirada dos outdoors controlados pela prefeitura da cidade
-as imagens foram consideradas muito "agressivas".
A campanha, da grife de roupas No.l.ita, no entanto, continuará sendo exibida em outdoors de empresas privadas.
As imagens da campanha
-que mostram o corpo nu da
modelo francesa Isabelle Caro
e o slogan "não à anorexia"-
foram feitas pelo fotógrafo italiano Oliviero Toscani, conhecido por seus polêmicos trabalhos para a grife Benetton.
Na França, entidades ligadas
à pesquisa da anorexia no país
estão incentivando os proprietários de outdoors privados a
não exibirem a campanha.
Dicionário bilíngüe reúne termos de moda
Interessada nas novidades
lançadas nas semanas de moda
européias, a fashionista bem
informada dá um giro na internet e descobre que o "boho"
voltará com tudo e que um vestido com estampa, digamos,
"granny floral", é tudo o que ela
precisará para os dias quentes.
Para decifrar esse delicioso
dialeto, os interessados no
mundo fashion podem agora
contar com a ajuda do "Dicionário de Termos de Moda" (Publifolha, 104 págs., R$ 29,90),
escrito por Diana Aflalo.
São mais de 2.000 verbetes
em português e inglês -divididos em categorias como termos
de costura, acessórios e tecidos- e que ajudariam a fashionista acima a descobrir que o
estilo boêmio hippie-chic ("boho") e as estampas florais antiguinhas, tipo vovó ("granny floral"), vão pegar em 2008.
com VIVIAN WHITEMAN
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