São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Música

Pianista sacode tradição dos gêneros cubanos

Roberto Fonseca lança álbum "Zamazu", com participação de Carlinhos Brown

Artista diz querer acabar com estereótipo de músicos cubanos, ligados a uma imagem de alegria apesar das questões políticas

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Para quem achava que o hype em torno dos cubanos do Buena Vista Social Club já tinha acabado -após mais de dez anos de sucesso do álbum gravado por Ry Cooder em 1996 e com a morte de alguns protagonistas-, eis que um filhote legítimo do grupo surge com estrondosos elogios de crítica.
Trata-se de Roberto Fonseca, talentoso pianista de 32 anos que acaba de lançar no Brasil o quinto disco, "Zamazu". A parte boa é que seu repertório foge do saturado universo dos "chan-chans" e "candelas" e revigora a tradicional música cubana com elementos contemporâneos do hip hop e do drum'n'bass, embalados com percussão bem brasileira.
"O Buena Vista foi uma excelente escola. Faço também pesquisas, ouvindo o som que se ouve hoje nos clubes e esquinas da minha cidade", disse o artista em entrevista à Folha, por telefone, de Havana, onde vive.
Os temas de sua música têm um tom nostálgico, e são comuns as referências à infância e à saudade. A melancolia permeia todo o álbum. "Quero ir contra o estereótipo do músico cubano, aquele que é capaz de produzir uma música alegre e contagiante apesar dos nossos problemas políticos. Nem todos estamos sempre contentes e passeando pelo malecón com um copo de mojito nas mãos."
Nesse sentido, a música de Fonseca parece se identificar mais com o espírito do tango argentino. "É um gênero que adoro, assim como o de vários cantos da América Latina."
Carlinhos Brown é sua referência aqui. Além de ter participado do CD "Alegria Original", da Timbalada, Fonseca convidou o artista baiano a tocar gaita de serra em "Ishmael". "Brown é um dos músicos mais importantes que conheço. Considero uma sorte ele ter aceito meu convite e eu ter podido colaborar com um trabalho da Timbalada."
Outros brasileiros em "Zamazu" são Toninho Ferragutti, que toca acordeão em "Congo Árabe", e Alê Siqueira, que produziu o disco.
Entre as referências cubanas mais legítimas, Fonseca rende homenagem a Ibrahim Ferrer (1927-2005) e a Omara Portuondo. Ferrer é evocado diretamente em "El Niejo". "O meu sonho, o mesmo que Ibrahim Ferrer sonhou há tanto tempo, se converteu em realidade", diz, na abertura da música.
Já Portuondo surge como principal laço de Fonseca com a música guajira, típica do interior da ilha. Aqui, ela empresta a voz à canção "Mil Congojas".
A turnê de "Zamazu", que está na Europa, vai passar nos próximos meses pelo Brasil, mas as datas estão indefinidas.


ZAMAZU
Artista: Roberto Fonseca
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 29 (em média)



Texto Anterior: CDs
Próximo Texto: Sobrinha do pianista deu nome ao álbum
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.