|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Música
Pianista sacode tradição dos gêneros cubanos
Roberto Fonseca lança álbum "Zamazu", com participação de Carlinhos Brown
Artista diz querer acabar com estereótipo de músicos cubanos, ligados a uma imagem de alegria apesar das questões políticas
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Para quem achava que o hype
em torno dos cubanos do Buena Vista Social Club já tinha
acabado -após mais de dez
anos de sucesso do álbum gravado por Ry Cooder em 1996 e
com a morte de alguns protagonistas-, eis que um filhote legítimo do grupo surge com estrondosos elogios de crítica.
Trata-se de Roberto Fonseca, talentoso pianista de 32
anos que acaba de lançar no
Brasil o quinto disco, "Zamazu". A parte boa é que seu repertório foge do saturado universo dos "chan-chans" e "candelas" e revigora a tradicional
música cubana com elementos
contemporâneos do hip hop e
do drum'n'bass, embalados
com percussão bem brasileira.
"O Buena Vista foi uma excelente escola. Faço também pesquisas, ouvindo o som que se
ouve hoje nos clubes e esquinas
da minha cidade", disse o artista em entrevista à Folha, por
telefone, de Havana, onde vive.
Os temas de sua música têm
um tom nostálgico, e são comuns as referências à infância
e à saudade. A melancolia permeia todo o álbum. "Quero ir
contra o estereótipo do músico
cubano, aquele que é capaz de
produzir uma música alegre e
contagiante apesar dos nossos
problemas políticos. Nem todos estamos sempre contentes
e passeando pelo malecón com
um copo de mojito nas mãos."
Nesse sentido, a música de
Fonseca parece se identificar
mais com o espírito do tango
argentino. "É um gênero que
adoro, assim como o de vários
cantos da América Latina."
Carlinhos Brown é sua referência aqui. Além de ter participado do CD "Alegria Original", da Timbalada, Fonseca convidou o artista baiano a tocar gaita de serra em "Ishmael". "Brown é um dos músicos mais importantes que conheço. Considero uma sorte
ele ter aceito meu convite e eu
ter podido colaborar com um
trabalho da Timbalada."
Outros brasileiros em "Zamazu" são Toninho Ferragutti,
que toca acordeão em "Congo
Árabe", e Alê Siqueira, que produziu o disco.
Entre as referências cubanas
mais legítimas, Fonseca rende
homenagem a Ibrahim Ferrer
(1927-2005) e a Omara Portuondo. Ferrer é evocado diretamente em "El Niejo". "O meu
sonho, o mesmo que Ibrahim
Ferrer sonhou há tanto tempo,
se converteu em realidade",
diz, na abertura da música.
Já Portuondo surge como
principal laço de Fonseca com
a música guajira, típica do interior da ilha. Aqui, ela empresta
a voz à canção "Mil Congojas".
A turnê de "Zamazu", que está na Europa, vai passar nos
próximos meses pelo Brasil,
mas as datas estão indefinidas.
ZAMAZU
Artista: Roberto Fonseca
Gravadora: Biscoito Fino
Quanto: R$ 29 (em média)
Texto Anterior: CDs Próximo Texto: Sobrinha do pianista deu nome ao álbum Índice
|