São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2008

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Procura-se ator "com carisma" para viver Lula

Diretor Fábio Barreto já fez mais de 50 testes, mas filme ainda não tem protagonista

Apenas dois nomes estão confirmados no elenco: o de Glória Pires, como mãe de Lula, e o de Cleo Pires, como Lourdes, sua primeira mulher

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

Procura-se um ator que encarne Luiz Inácio Lula da Silva no cinema. Mais de 50 candidatos já foram testados pelo diretor Fábio Barreto, que pretende iniciar em janeiro as filmagens do longa "Lula - O Filho do Brasil", baseado no livro homônimo, de Denise Paraná.
A maratona de testes começou depois que João Miguel, premiado pelas atuações como o sertanejo Ranulpho, de "Cinema, Aspirinas e Urubus", e como o retirante Raimundo Nonato, de "Estômago", recusou o papel.
"O personagem Lula é uma figura incrível. Óbvio que eu teria interesse em fazer, mas já estava comprometido com dois outros filmes, "Quincas Berro d'Água", de Sérgio Machado, e "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", de Vinicius Coimbra. Olhei a agenda e vi que não tinha condições de encarar essa empreitada", diz o ator.
De volta à estaca zero, o diretor decidiu que "carisma" é a principal característica que deve ter o intérprete do operário que chegou à Presidência.
A semelhança física com Lula ou a capacidade de imitar suas características mais marcantes não caem na prova. "Alguns atores chegam para o teste falando com a língua presa", conta Barreto. Enganam-se.
Até agora, apenas dois nomes estão confirmados no elenco -o de Glória Pires como dona Lindu, a mãe de Lula, e o de Cleo Pires como Lourdes, sua primeira mulher, que morreu durante a primeira gravidez, quando teve hepatite.

Roteiro mal escrito
"Naquela época [1971], o Brasil detinha um dos maiores índices mundiais de morte no parto ", observa Denise Paraná. A coincidência entre aspectos da biografia de Lula e traços marcantes da história do Brasil foi o que motivou Paraná a escrever o livro, que é sua tese de doutorado em história pela USP. "Eu ouvia Lula contar a vida dele e pensava: "É como um roteiro de filme mal escrito, porque tudo se encaixa'", diz.
Encaixa-se, por exemplo, o momento em que dona Lindu deixa o Nordeste com os filhos em direção a Santos com "o maior movimento de migração interna que tivemos", aponta Paraná. O alcoolismo que marca a trajetória do pai de Lula reflete "um momento de incidência epidêmica da doença no Nordeste", diz ela.
Da mesma forma, é representativo de uma realidade mais geral o fato de que "irmãs de Lula passaram a trabalhar como domésticas no Sudeste e irmãos dele tornaram-se operários de pouca qualificação".
O roteiro foi escrito a seis mãos por Paraná, Fábio Barreto e Daniel Tendler. O escritor Fernando Bonassi se encarrega de dar forma final ao trabalho.
A história começa com o nascimento de Lula e termina no enterro de sua mãe, quando ele tem 35 anos e a condição de líder de massa, como sindicalista. O percurso político-partidário posterior será apenas insinuado, na última imagem.
Barreto diz que a trama contemplará "as diversas mazelas do personagem", porque "esse não é um filme chapa-branca".

"Lançamento continental"
A produção é de Luiz Carlos Barreto, pai do diretor, e de Paula Barreto, sua irmã. "Como produtores, temos de ser megalomaníacos, mantendo os pés no chão", diz o patriarca do clã.
"Pretendemos fazer com esse filme o primeiro lançamento continental de um longa brasileiro", anuncia. A estréia, prevista para o fim de 2009, ocorreria simultaneamente nas Américas e em alguns países europeus, caso se concretizem acordos de co-produção internacional em andamento.
O orçamento também é superlativo para padrões brasileiros -R$ 15 milhões, que Barreto pretende reunir "sem subsídio municipal, estadual ou federal", para evitar críticas.
Para atrair o público a ver "a história de Lula, que é a de todos os Silva", Luiz Carlos Barreto já pensou num slogan: "Você conhece o homem. Mas não conhece a sua história".


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