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Procura-se ator "com carisma" para viver Lula
Diretor Fábio Barreto já fez mais de 50 testes, mas filme ainda não tem protagonista
Apenas dois nomes estão confirmados no elenco: o de Glória Pires, como mãe de Lula, e o de Cleo Pires, como Lourdes, sua primeira mulher
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Procura-se um ator que encarne Luiz Inácio Lula da Silva
no cinema. Mais de 50 candidatos já foram testados pelo diretor Fábio Barreto, que pretende iniciar em janeiro as filmagens do longa "Lula - O Filho do
Brasil", baseado no livro homônimo, de Denise Paraná.
A maratona de testes começou depois que João Miguel,
premiado pelas atuações como
o sertanejo Ranulpho, de "Cinema, Aspirinas e Urubus", e
como o retirante Raimundo
Nonato, de "Estômago", recusou o papel.
"O personagem Lula é uma
figura incrível. Óbvio que eu teria interesse em fazer, mas já
estava comprometido com dois
outros filmes, "Quincas Berro
d'Água", de Sérgio Machado, e
"A Hora e a Vez de Augusto Matraga", de Vinicius Coimbra.
Olhei a agenda e vi que não tinha condições de encarar essa
empreitada", diz o ator.
De volta à estaca zero, o diretor decidiu que "carisma" é a
principal característica que deve ter o intérprete do operário
que chegou à Presidência.
A semelhança física com Lula
ou a capacidade de imitar suas
características mais marcantes
não caem na prova. "Alguns
atores chegam para o teste falando com a língua presa", conta Barreto. Enganam-se.
Até agora, apenas dois nomes
estão confirmados no elenco
-o de Glória Pires como dona
Lindu, a mãe de Lula, e o de
Cleo Pires como Lourdes, sua
primeira mulher, que morreu
durante a primeira gravidez,
quando teve hepatite.
Roteiro mal escrito
"Naquela época [1971], o Brasil detinha um dos maiores índices mundiais de morte no
parto ", observa Denise Paraná.
A coincidência entre aspectos
da biografia de Lula e traços
marcantes da história do Brasil
foi o que motivou Paraná a escrever o livro, que é sua tese de
doutorado em história pela
USP. "Eu ouvia Lula contar a
vida dele e pensava: "É como
um roteiro de filme mal escrito,
porque tudo se encaixa'", diz.
Encaixa-se, por exemplo, o
momento em que dona Lindu
deixa o Nordeste com os filhos
em direção a Santos com "o
maior movimento de migração
interna que tivemos", aponta
Paraná. O alcoolismo que marca a trajetória do pai de Lula reflete "um momento de incidência epidêmica da doença no
Nordeste", diz ela.
Da mesma forma, é representativo de uma realidade
mais geral o fato de que "irmãs
de Lula passaram a trabalhar
como domésticas no Sudeste e
irmãos dele tornaram-se operários de pouca qualificação".
O roteiro foi escrito a seis
mãos por Paraná, Fábio Barreto e Daniel Tendler. O escritor
Fernando Bonassi se encarrega
de dar forma final ao trabalho.
A história começa com o nascimento de Lula e termina no
enterro de sua mãe, quando ele
tem 35 anos e a condição de líder de massa, como sindicalista. O percurso político-partidário posterior será apenas insinuado, na última imagem.
Barreto diz que a trama contemplará "as diversas mazelas
do personagem", porque "esse
não é um filme chapa-branca".
"Lançamento continental"
A produção é de Luiz Carlos
Barreto, pai do diretor, e de
Paula Barreto, sua irmã. "Como
produtores, temos de ser megalomaníacos, mantendo os pés
no chão", diz o patriarca do clã.
"Pretendemos fazer com esse filme o primeiro lançamento
continental de um longa brasileiro", anuncia. A estréia, prevista para o fim de 2009, ocorreria simultaneamente nas
Américas e em alguns países
europeus, caso se concretizem
acordos de co-produção internacional em andamento.
O orçamento também é superlativo para padrões brasileiros -R$ 15 milhões, que Barreto pretende reunir "sem subsídio municipal, estadual ou federal", para evitar críticas.
Para atrair o público a ver "a
história de Lula, que é a de todos os Silva", Luiz Carlos Barreto já pensou num slogan:
"Você conhece o homem. Mas
não conhece a sua história".
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