São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2004

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Cansei de Ser Sexy vira "megarreal"

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Para quem não sabia tocar nada até o ano passado e agora está escalado no mesmo festival de Primal Scream, Kraftwerk e Brian Wilson, que há décadas sabem tocar tudo, o combo paulistano electropunkpop fashionista Cansei de Ser Sexy é um fenômeno.
Sonho realizado de banda independente brasileira, que em pouco mais de um ano trouxe o lema punk do "vamos nessa nós mesmos e agora" aos tempos modernos, o septeto de seis meninas e um rapaz chega ao principal festival pop sem ao menos ter um disco lançado. Cria da geração internet que se fez e se faz através de e-mails, blogs e fotologs, o CSS é atração de hoje no palco Motomix do Tim Festival, espremido na programação pelos belgas Soulwax e 2ManyDJs.
Liderado pelo baterista Adriano Cintra, o único que tinha uma carreira no grupo (é guitarrista do atuante Thee Butchers" Orchestra), o CSS agitou a música independente paulistana com shows badaladíssimos, uma zoeira sonora debochadamente sem muita técnica, mas com muita atitude, e uma aproximação com a moda, graças à veia fashion de metade do grupo, que estuda ou trabalha no meio. E o CSS decolou.
Depois de um início virtual que lançou um EP que poucos viram e soltou canções em uma espécie de blog de MP3s da gravadora Trama, o Trama virtual, o Cansei de Ser Sexy já tem finalmente seu primeiro disco em fase final de mixagens. E uma audição inicial de "CSS Suxxx", nome provisório do tão-secreto CD, deu para perceber que o disco é surpreendente. Surpreendente de bom, surpreendente de caprichado, surpreendentemente significativo.
O dedo produtor de Adriano Cintra transformou toda a indisciplina punk barulhenta do CSS dos shows em um electro sujo e delicioso, nove faixas que são ótimas para entrar desde nas discotecagens modernas do 2ManyDJs ou num perfeito disco de covers da Kelly Key.
Faixas como a singela "Poney Honey Money", furiosa como "Sô Lôra, Sô Burra" (cover do grupo indie Disk Putas) e agitada como "A-La-La", para citar só três das nove do disco que sai até o final do ano, botam a banda em um patamar bem acima da média da cena independente nacional.
A importância de uma banda como o CSS roça a "última tendência" da indústria musical americana, que é o fenômeno dos MP3s blogs, sites para iniciativas informativas e auditivas independentes que transformam em um executivo-de-grande-gravadora amador qualquer menino que tem dois ouvidos e um computador, segundo festejam no underground dos EUA.
É o que oferece a oportunidade do reconhecimento e confere notabilidade a bandas minúsculas como o CSS e a sites como o da Trama Virtual (www.tramavirtual.com.br). O Cansei de Ser Sexy, que a partir da madrugada deste sábado vai ter um megafestival no currículo sem nem mesmo ter um álbum lançado, está nessa justamente porque postava suas músicas (à medida que elas ficavam prontas) no MP3 blog brasileiro e liderou o top 100 da Trama Virtual.
Virtualidades à parte, hoje à noite, já amanhã, é hora de ver que o Cansei de Ser Sexy é uma banda bem real.


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