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Cansei de Ser Sexy vira "megarreal"
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
Para quem não sabia tocar nada
até o ano passado e agora está escalado no mesmo festival de Primal Scream, Kraftwerk e Brian
Wilson, que há décadas sabem tocar tudo, o combo paulistano
electropunkpop fashionista Cansei de Ser Sexy é um fenômeno.
Sonho realizado de banda independente brasileira, que em pouco mais de um ano trouxe o lema
punk do "vamos nessa nós mesmos e agora" aos tempos modernos, o septeto de seis meninas e
um rapaz chega ao principal festival pop sem ao menos ter um disco lançado. Cria da geração internet que se fez e se faz através de e-mails, blogs e fotologs, o CSS é
atração de hoje no palco Motomix
do Tim Festival, espremido na
programação pelos belgas Soulwax e 2ManyDJs.
Liderado pelo baterista Adriano
Cintra, o único que tinha uma
carreira no grupo (é guitarrista do
atuante Thee Butchers" Orchestra), o CSS agitou a música independente paulistana com shows
badaladíssimos, uma zoeira sonora debochadamente sem muita
técnica, mas com muita atitude, e
uma aproximação com a moda,
graças à veia fashion de metade
do grupo, que estuda ou trabalha
no meio. E o CSS decolou.
Depois de um início virtual que
lançou um EP que poucos viram e
soltou canções em uma espécie de
blog de MP3s da gravadora Trama, o Trama virtual, o Cansei de
Ser Sexy já tem finalmente seu
primeiro disco em fase final de
mixagens. E uma audição inicial
de "CSS Suxxx", nome provisório
do tão-secreto CD, deu para perceber que o disco é surpreendente. Surpreendente de bom, surpreendente de caprichado, surpreendentemente significativo.
O dedo produtor de Adriano
Cintra transformou toda a indisciplina punk barulhenta do CSS
dos shows em um electro sujo e
delicioso, nove faixas que são ótimas para entrar desde nas discotecagens modernas do 2ManyDJs
ou num perfeito disco de covers
da Kelly Key.
Faixas como a singela "Poney
Honey Money", furiosa como "Sô
Lôra, Sô Burra" (cover do grupo
indie Disk Putas) e agitada como
"A-La-La", para citar só três das
nove do disco que sai até o final
do ano, botam a banda em um patamar bem acima da média da cena independente nacional.
A importância de uma banda
como o CSS roça a "última tendência" da indústria musical
americana, que é o fenômeno dos
MP3s blogs, sites para iniciativas
informativas e auditivas independentes que transformam em um
executivo-de-grande-gravadora
amador qualquer menino que
tem dois ouvidos e um computador, segundo festejam no underground dos EUA.
É o que oferece a oportunidade
do reconhecimento e confere notabilidade a bandas minúsculas
como o CSS e a sites como o da
Trama Virtual (www.tramavirtual.com.br). O Cansei de Ser
Sexy, que a partir da madrugada
deste sábado vai ter um megafestival no currículo sem nem mesmo ter um álbum lançado, está
nessa justamente porque postava
suas músicas (à medida que elas
ficavam prontas) no MP3 blog
brasileiro e liderou o top 100 da
Trama Virtual.
Virtualidades à parte, hoje à
noite, já amanhã, é hora de ver
que o Cansei de Ser Sexy é uma
banda bem real.
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