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"NINA"
Adaptação livre de "Crime e Castigo", longa de Heitor Dhalia conta com Guta Stresser em ótima performance
Filme é xerox do cinema paulista dos anos 80
PAULO SANTOS LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Nina", de Heitor Dhalia,
tenta ao estilo pós-moderno seqüestrar estilos cinematográficos para criar uma narrativa própria. Como nem todo cineasta é Tarantino, os "empréstimos" aqui ficam num fetichismo.
Dhalia não é propriamente um
mau diretor, mas as referências
presentes em "Nina" não nutrem
a trama. E a maior delas, a adaptação livre de "Crime e Castigo", de
Dostoiévski, soa como um slogan.
O filme começa com a voz da
protagonista, Nina, distinguindo
os ordinários dos extraordinários,
idéia presente no original. Mas o
personagem do livro comete um
crime para levar a cabo seus estudos. Crendo ser um extraordinário, matar é algo então justificável.
Nina (a charmosa Guta Stresser,
melhor coisa do filme) é uma boçal que não honra o aluguel há
meses. Arrogante, se vê acima dos
ordinários. A senhoria, Eulália
(Myriam Muniz), não tem outra
atitude senão pegar no pé da inadimplente. Ora, quem não tomaria tais medidas? Daí que mesmo
demonizando-se Eulália, o crime
não se justifica dramaticamente.
Nina seria uma ordinária, e a
premissa dostoievskniana não
passa de um timbre. Há outros
slogans no correr do filme, das
participações-relâmpago de atores renomados da Globo a planos
de corredores em grande angular
("O Iluminado"?) ou seqüências
oníricas enevoando a razão.
A trama, justiça seja feita, livre
deste mandamento (tipicamente
publicitário) da imagem-símbolo,
consegue traduzir o olhar de Nina, sobretudo no rigor da fotografia e montagem. É quando Dhalia
liberta-se da cinefilia de butique e
opta por uma gramática cinematográfica já consagrada (a expressionista), mas funcional.
Enfim, o mundo distópico não
faz de "Nina" necessariamente
um filme-sintoma dos nossos
tempos. Porque a sua adesão a essa personagem ególatra reforça
uma autocomiseração covarde
que jamais questiona a idéia primeira do filme, a vilania da metrópole. Estiloso e cinematográfico, sem dúvida, "Nina" é sobretudo uma fotocópia do cinema pós-moderno paulista dos anos 80.
Nina
Produção: Brasil, 2004
Direção: Heitor Dhalia
Com: Guta Stresser, Myriam Muniz
Quando: a partir de hoje nos cines Frei
Caneca Unibanco Arteplex, HSBC Belas
Artes, Jardim Sul e Sala UOL de Cinema
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