São Paulo, sábado, 05 de novembro de 2005

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TRILHA SONORA

"O ENCOURAÇADO POTEMKIN"

Orquestra se funde com frota russa

Caio Guatelli/Folha Imagem
A Orquestra Jazz Sinfônica acompanha a exibição de "O Encouraçado Potemkin" no Memorial da América Latina, anteontem


MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

Quem já viu "O Encouraçado Potemkin" em DVD talvez tenha lembrança do rigor ácido, esportivo e funcional da sua música de acompanhamento: trata-se de trechos sinfônicos do compositor soviético Dmitri Shostakovitch (1906-1975).
Na exibição de gala da cópia restaurada do filme, na noite de anteontem, no encerramento da 29ª Mostra de Cinema, o maestro José Mauricio Galindo e a Orquestra Jazz Sinfônica executaram (com admirável ímpeto e precisão) a partitura do austríaco Edmund Meisel (1894-1930), escrita especialmente para a estréia do filme na Alemanha.
É música pesada, espessa, wagneriana. Reminiscências da "Cavalgada das Valquírias" pontuam as proezas dos marinheiros revolucionários russos, e a retórica do sinfonismo tardo-romântico -com toques da "Marselhesa" para completar- parecia a princípio incompatível com a modernidade técnica, ainda hoje surpreendente, desse clássico do cinema.
Sergei Eisenstein (1898-1948) tinha 27 anos quando transpôs para o cinema a revolta dos marinheiros do Potemkin contra as péssimas condições da comida no navio.
A dureza dos oficiais czaristas, o cinismo do médico de bordo -insistindo em que a carne a ser servida para os marinheiros não estava podre-, a pureza indignada e autêntica dos rostos populares, o choro das mulheres e crianças, tudo poderia ser melodramático no filme.
A obra-prima de Eisenstein se beneficia, entretanto, de uma linguagem inovadora, intelectualizada, em que cada fotograma parece obedecer às leis rigorosas de uma fuga musical. Essa modernidade extrema elimina qualquer sentimentalismo do "Encouraçado Potemkin"; é um filme que parece diferente cada vez que é visto. A famosa seqüência da escadaria, uma das mais célebres da história do cinema, é sem dúvida seu ponto culminante; os preparativos da revolta, no navio, se tornam mais fortes quando se assiste ao filme uma segunda vez.
Na exibição no Memorial da América Latina, o melhor momento foi o desfecho da história, quando o Potemkin encontra a frota de guerra encarregada de torpedeá-lo: é nesse momento que os músicos da Jazz Sinfônica mostraram todo o seu poder de fogo: um "accelerando" obstinado que fez da orquestra como que um só instrumento de percussão. Música e filme, então, se confraternizaram em triunfo.

"O Encouraçado Potemkin" ao som da Orquestra Jazz Sinfônica
     Quando: hoje, às 21h
Onde: Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade, 644, Barra Funda, tel. 0/xx/11/3823-4600)
Quanto: grátis (ingressos esgotados)

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