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TRILHA SONORA
"O ENCOURAÇADO POTEMKIN"
Orquestra se funde com frota russa
Caio Guatelli/Folha Imagem
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A Orquestra Jazz Sinfônica acompanha a exibição de "O Encouraçado Potemkin" no Memorial da América Latina, anteontem |
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
Quem já viu "O Encouraçado Potemkin" em DVD talvez tenha lembrança do rigor
ácido, esportivo e funcional da
sua música de acompanhamento: trata-se de trechos sinfônicos
do compositor soviético Dmitri
Shostakovitch (1906-1975).
Na exibição de gala da cópia
restaurada do filme, na noite de
anteontem, no encerramento da
29ª Mostra de Cinema, o maestro José Mauricio Galindo e a
Orquestra Jazz Sinfônica executaram (com admirável ímpeto e
precisão) a partitura do austríaco Edmund Meisel (1894-1930),
escrita especialmente para a estréia do filme na Alemanha.
É música pesada, espessa, wagneriana. Reminiscências da "Cavalgada das Valquírias" pontuam as proezas dos marinheiros revolucionários russos, e a
retórica do sinfonismo tardo-romântico -com toques da "Marselhesa" para completar- parecia a princípio incompatível com
a modernidade técnica, ainda
hoje surpreendente, desse clássico do cinema.
Sergei Eisenstein (1898-1948)
tinha 27 anos quando transpôs
para o cinema a revolta dos marinheiros do Potemkin contra as
péssimas condições da comida
no navio.
A dureza dos oficiais czaristas,
o cinismo do médico de bordo
-insistindo em que a carne a
ser servida para os marinheiros
não estava podre-, a pureza indignada e autêntica dos rostos
populares, o choro das mulheres
e crianças, tudo poderia ser melodramático no filme.
A obra-prima de Eisenstein se
beneficia, entretanto, de uma
linguagem inovadora, intelectualizada, em que cada fotograma parece obedecer às leis rigorosas de uma fuga musical. Essa
modernidade extrema elimina
qualquer sentimentalismo do
"Encouraçado Potemkin"; é um
filme que parece diferente cada
vez que é visto. A famosa seqüência da escadaria, uma das
mais célebres da história do cinema, é sem dúvida seu ponto
culminante; os preparativos da
revolta, no navio, se tornam
mais fortes quando se assiste ao
filme uma segunda vez.
Na exibição no Memorial da
América Latina, o melhor momento foi o desfecho da história,
quando o Potemkin encontra a
frota de guerra encarregada de
torpedeá-lo: é nesse momento
que os músicos da Jazz Sinfônica
mostraram todo o seu poder de
fogo: um "accelerando" obstinado que fez da orquestra como
que um só instrumento de percussão. Música e filme, então, se
confraternizaram em triunfo.
"O Encouraçado Potemkin" ao
som da Orquestra Jazz
Sinfônica
Quando: hoje, às 21h
Onde: Memorial da América Latina (av.
Auro Soares de Moura Andrade, 644,
Barra Funda, tel. 0/xx/11/3823-4600)
Quanto: grátis (ingressos esgotados)
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