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ARTES PLÁSTICAS
Na Pinacoteca, mostra "Entre Muitos" abriga 60 obras de uma das principais artistas contemporâneas do país
Exposição reúne polaridades de Maiolino
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Há artistas que baseiam sua
poética em apenas um suporte
(fotografia, pintura, vídeo), e nele
desenvolvem toda sua pesquisa.
Outros, partem de um caminho
inverso e se utilizam dos mais diversos suportes para abordar sua
poética. Esse é o caso de Anna
Maria Maiolino, escultora, gravadora, pintora, videasta e instaladora. Não há limites para os recursos que a artista utiliza para
criar seus trabalhos, como pode
ser comprovado na mostra "Entre Muitos", que é inaugurada,
hoje, na Pinacoteca do Estado.
Aos 63 anos, Maiolino tem uma
das carreiras mais profícuas de
sua geração. Participou de mostras históricas, como Opinião 65 e
Nova Objetividade Brasileira, ambas no Museu de Arte Moderna
do Rio, na década de 60, que determinou um novo caminho para
a produção nacional a partir do
neoconcretismo, com a busca de
vincular arte e vida. Mas, ao contrário de muitos de seus pares daquela época, continuou uma investigadora, inscrevendo-se entre
as mais importantes artistas contemporâneas do país.
"Ela não tem uma linha evolutiva, mas momentos de fluxo, é difícil definir seu perfil, se é pintora,
escultora. De fato, ela é uma pesquisadora", afirma Paulo Venâncio, curador da mostra.
"Estou sempre numa bifurcação, assim nunca tenho os pés
presos em apenas um local. É uma
forma de não criar teias de aranha, de não me fixar num mesmo
discurso", conta Maiolino em
meio à sua instalação "Aqui", no
Octógono da Pinacoteca.
"Aqui" é uma versão de outra
instalação apresentada na Bienal
de São Paulo, em 1998. Composta
por dezenas de pequenas esculturas em argila, a obra busca revelar
não apenas formas orgânicas mas
também o processo criativo da artista a partir do gesto manual.
"É uma instalação viva, já que a
argila se transforma ao longo do
tempo, em algumas semanas, tudo aqui vai virar pó, mas com
água tudo pode ser novamente
criado", afirma Maiolino. Esse ciclo vital revela-se presente ao longo de toda carreira da artista, que
na Pinacoteca é vista em 60 obras
distribuídas por três espaços distintos. Além do Octógono, são
utilizadas três salas expositivas e
mais um hall de passagem.
"Busquei não organizar a mostra de uma forma cronológica restrita, pois na obra de Maiolino há
muitas ressonâncias encontradas
em diferentes fases", conta Venâncio. Assim, logo na entrada
das salas, três obras tornam-se
ícone de seu trabalho: o vídeo
"In/Out (Antropofagia)", de 1973,
o objeto "Glu, Glu, Glu...", de
1966, e uma escultura dos anos 80,
feita com rolinhos, uma de suas
marcas. "Sem querer simplificar
suas obras, em todos esses trabalhos há uma ligação com o corpo,
com elementos orgânicos", afirma o curador. "Eu me considero
uma artista do corpo", define a
própria Maiolino.
Polaridades
Na mostra, há obras de quase
todas as fases da carreira de Maiolino: do momento pop e experimental dos anos 60 até a nova instalação "Aqui".
Em comum, sua poética é marcada por polaridades: cheio e vazio, branco e negro, dentro e fora.
Aqui está, aliás, uma das facetas
do que a artista afirma ser a "bifurcação". Suas obras estão sempre num momento de tensão,
sem uma síntese, deixando ao observador maior liberdade.
Tal marca tem relação com o
que Maiolino destaca como uma
das inspirações para seus trabalhos: o "resgate do ancestral,
quando o homem ainda não usava a linguagem falada, mas as
mãos para se comunicar e sobreviver". É como se a artista buscasse uma forma de comunicação
mais direta, pré-oral, que torna
suas obras aparentemente ingênuas, mas repletas de uma pulsão
vital, caso da icônica "Glu, Glu,
Glu...", composta por vísceras coloridas na parte inferior e um corpo azulado (asfixiado?) que se utiliza da onomatopéia como recurso pré-linguagem.
Além da mostra na Pinacoteca,
Maiolino expõe ainda no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, a partir
da próxima quarta, com um exposição que complementa a retrospectiva principal. Lá estão
seus primeiros desenhos dos anos
60 e novas esculturas, projetadas
há mais de dez anos, mas só agora
realizadas.
Paralelamente às mostras, dois
livros, de outros artistas, são lançados. Hoje, na Pinacoteca, Eliane
Prolik lança "Noutro Lugar" (130
págs., R$ 60), com texto de Paulo
Herkenhoff e organização de Ivo
Mesquita, e na próxima quarta-feira é a vez de Cassio Michalany,
com "Como Anda a Cor", com
texto de Tiago Mesquita. O artista
também apresenta novos trabalhos no Gabinete de Arte.
Anna Maria Maiolino: Entre
Muitos - Retrospectiva
Quando: abertura hoje, 11h; de ter.
a dom., das 10h às 18h. Até 8/1/2006
Onde: Pinacoteca do Estado (praça da
Luz, 2, SP, tel. 0/xx/11/3229-9844)
Quanto: R$ 4
Anna Maria Maiolino:
Hilomorfos
Quando: abertura dia 9, 20h; de seg. a
sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às
14h. Até 17/12
Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud
(r. Artur de Azevedo, 401, SP,
tel. 0/xx/ 11/ 3083-6114)
Quanto: entrada franca; obras de US$ 1
mil a US$ 20 mil (R$ 2,2 mil a R$ 44,6 mil)
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