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Crítica/"Ninguém Sabe dos Gatos Persas"
Iraniano foragido move-se entre o riso e a tragédia
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem ainda associa o cinema iraniano aos
tempos lentos e às pai-
sagens inóspitas deve
surpreender-se com "Ninguém
Sabe dos Gatos Persas", de Bahman Ghobadi ("Tempo de Embebedar Cavalos").
O filme é um retrato vibrante, e cheio de graça, da juventude de Teerã. Mas é, também,
um triste documento de um povo que os governos autoritários
tentam calar. E nada poderia
ser mais simbólico dessas vozes
que teimam em falar, a despeito da repressão, do que a música trazida à tona por Ghobadi.
O filme acompanha Negar e
Ashkan, casal de jovens músicos que, após amargar dias na
prisão, decide deixar o país para que seu "indie rock" seja ouvido em algum lugar. Ele quer ir
embora o mais rápido possível.
Ela deseja, antes de partir, fazer
um show para que os pais possam ouvi-la.
Enquanto criam e compartilham canções ocidentais, eles
tentam tirar passaportes falsos.
Com o casal, somos levados a
visitar o Irã urbano, tecnológico, ilegal. Conhecemos o falsificador de passaportes e vistos
que desfia sua tabela de preços
com total desenvoltura.
"O visto afegão custa 4 mil tomans; o iraquiano, 8 mil; o norte-americano, 12 milhões."
Questionado sobre o que rege a
tabela, não se inibe: "São muitos fatores: o lugar, o preço do
petróleo...".
Ghobadi soube enxergar a
graça do absurdo. É impagável,
por exemplo, a cena em que um
jovem que diz ter soluções para
tudo tenta convencer o policial
a libertá-lo após ser apanhado
com filmes pirateados.
A despeito do bom humor, a
tragédia está sempre à espreita.
É que o próprio Ghobadi, enquanto fazia o filme, temia a
ofensiva da censura.
Conseguiu terminá-lo, mas
teve de fugir do país. Deixou registrados, porém, os versos duros do rapper, as rimas românticas que Teerã ouve em seus
porões. A arte sempre encontra
suas frestas.
(APS)
NINGUÉM SABE DOS GATOS PERSAS
Quando: hoje, às 12h,
no Unibanco Arteplex 1
Classificação: 12 anos
Avaliação: ótimo
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