São Paulo, sexta-feira, 06 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA

Diretor reprocessa fórmula para ter sucesso garantido

CLAUDIO SZYNKIER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um dos filões mais mágicos da comédia americana é o da troca de corpos. E, quem diria, os anos 80, terreno longínquo e colorido onde reside esse filão, estão assombrando o cinema atual. Até no Brasil. Que o diga Daniel Filho. "Se Eu Fosse Você" parte dessa possibilidade magnífica de câmbio: Claudio (Tony Ramos) e Helena (Glória Pires) vivem bem em um belo bairro no Rio. Mas o casamento cansou, e Claudio enfrenta uma crise em sua agência. É quando acorda no corpo da mulher e ela, no dele. Novo cotidiano: Helena, na carcaça de Claudio, reeducando o corpo para fazer xixi e chefiando a agência. Claudio na de Helena, regendo coral e menstruando.
Tudo se esgotou na comédia? Não. Ocorre que, no projeto comercial de Daniel, e da Globo, o que vale é reprocessar, cuidadosamente, fórmulas consagradas e argumentos criativos. Para dar certo. E é exatamente essa vocação de empreendimento planejado e cuidadoso dos filmes de Daniel a razão que faz sua lucrativa obra representar não muito como cinema. Há, sim, elegância clara na forma como o diretor, em uma ronda com a câmera, apresenta a casa e a rotina matinal dos personagens para depois embaralhar tudo: com a troca de corpos e por meio dos mesmíssimos ângulos, cria um interessante sentido de estranhamento minutos depois, em um segundo passeio pela casa.
Mas esse esforço esconde a vontade de se costurar apenas uma parábola sobre o casamento como grande e didático aprendizado. Em outra pele, os dois, nesse embaralhamento, enxergarão a vida conjugal de forma mais justa e equilibrada. Daniel, como prevê a cartilha da Globo, quer agregar, quer conciliar. Agregam-se e conciliam-se os cônjuges; agrega-se o espectador ao empreendimento global, via códigos que o confortam, que o conduzem por estímulos de uma felicidade fácil. A elegância revela-se meio doutrinadora e burocrática. E o humor, calcado na figura dos personagens "mutantes" no quadro, mas antes na cultura do empreendimento cuidadoso, não dá grandes gags: o que poderia se caracterizar pela astúcia soa mesmo brando e previsível.


Se Eu Fosse Você
 
Direção: Daniel Filho
Produção: Brasil, 2005
Com: Tony Ramos, Glória Pires, Thiago Lacerda, Danielle Winits
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Eldorado, Frei Caneca Unibanco Arteplex e circuito


Texto Anterior: Filme de Daniel Filho antecipa final feliz de "Belíssima"
Próximo Texto: Mínimo Múltiplo Comum
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.