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Última Moda
ALCINO LEITE NETO - ultima.moda@grupofolha.com.br
Olha o corte, rapaz!
Estilistas, como Ivan Aguilar, tentam colocar a alfaiataria outra vez na linha de frente da moda masculina
Houve um tempo em que
moda masculina e alfaiataria
eram sinônimos. Hoje, a alfaiataria foi praticamente relegada
aos ternos de trabalho e tem
que brigar muito com os jeans e
a malharia industrial para encontrar um lugar no guarda-roupa dos rapazes brasileiros.
Apesar disso, grifes masculinas do país têm insistido em
atualizar a velha arte de criar
calças, camisas e paletós bem
cortados, como demonstram as
últimas semanas de moda e o
trabalho de estilistas como Ricardo Almeida, Mario Queiroz,
Lorenzo Merlino e, mais recentemente, João Pimenta. No último ano, designers que só se
dedicavam à roupa feminina
também decidiram criar moda
masculina, como André Lima.
Mesmo as grifes de streetwear começaram a apresentar
soluções novas para combinar
a tradição da alfaiataria com a
informalidade da época -como
fazem Alexandre Herchcovitch, Osklen, V.ROM, Redley e
Reserva, entre outras.
Um nome que desponta neste cenário de renovação é o de
Ivan Aguilar, 45, mineiro que
vive desde os sete anos em Vitória e foi um dos destaques do
Fashion Rio. Ele é um dos raros
exemplos de estilistas que têm
forte formação em alfaiataria.
"Todos disseram para eu parar
com isso e começar a fazer roupa de malha, pois no Brasil é o
que vende. Mas insisti, pois este é o meu tronco", diz.
Em 2002, antes de começar a
desfilar, ele ganhou notoriedade ao fazer ternos para o presidente Lula e outros políticos,
como José Sarney. "Foi uma fase agitada da minha vida, eu
viajei a Brasília semanalmente,
durante dois anos", conta Aguilar, que conheceu Lula numa
viagem de avião e, depois, enviou-lhe um terno. "Tirei as
medidas dele no olho", revela.
O presidente gostou e encomendou outros ternos ao estilista, que também fez vestidos
para a primeira-dama Marisa
Letícia. "Nunca cobrei nada pelo trabalho, foi um presente."
"Políticos são exigentes, gostam de roupas duráveis e se
preocupam mais com o conforto", descreve Ivan, que deixou
de frequentar Brasília para se
dedicar mais à moda. "Aquele
trabalho todo estava atrasando
meu desenvolvimento no prêt-à-porter", justifica o estilista,
que é casado e tem dois filhos.
Ele continua, porém, atendendo à elite política e econômica do Espírito Santo, em sua
loja em Vitória, onde também
faz roupas sob medida. "Esta
função ocupa 60% da minha
mente", calcula. O restante do
espaço mental é preenchido
com a tarefa que ele prefere:
criar as coleções que exibe no
Fashion Rio desde 2006.
Linguagem jovem
Para Ivan, os jovens receiam
usar alfaiataria por medo de parecerem velhos ou muito chiques. "É um problema cultural.
Eu canso de atender rapazes
que estão usando terno pela
primeira vez para se casarem."
Na sua opinião, é possível
combinar a alfaiataria com
uma linguagem mais jovem. "É
o que têm feito grifes como
Dior e Lanvin. Fora do país, já
existe uma nova geração mais
receptiva à alfaiataria e que a
combina com outras referências de moda. Mas aqui ainda
predomina o jeans e a camiseta
cortada no facão." "Cortada no
facão" é como ele define a roupa feita sem nenhum apuro.
"Não luto contra o jeans e a malharia, que são grandes aliados.
O que proponho é que os homens sejam mais exigentes."
As últimas coleções de Ivan
Aguilar exemplificam este raciocínio. Escudado por uma alfaiataria de primeira, ele aposta
em inovações sutis e calculadas, equilibrando como poucos
a tradição e a novidade. É um
jeito de não assustar em demasia os consumidores masculinos e tentar convencê-los de
que vale arriscar em outros territórios da moda. "No fundo,
todos sabem como faz diferença vestir uma roupa criativa e
bem cortada", diz.
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