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Fischer sustenta
conflito manco em
"Gata"
do enviado especial ao Rio
Escorre algo de anacrônico
de "Gata em Teto de Zinco
Quente", de Tennessee Williams. O puritanismo da família Pollitt, latifundiária, da
"plantação", soa impensável,
hoje, quando o presidente dos
EUA tem suas ações sexuais esmiuçadas diante de milhões,
ao que parece, dispostos a desculpar seja lá o que for.
E "Gata" é construída em
torno de um homem, Brick,
casado com uma linda mulher,
mas cujo amor verdadeiro seria por um amigo. É difícil imaginar que isso tenha sustentado um drama modelar do teatro no século. Mas é assim,
com um conflito manco, que
ele ressurge no palco.
Combine isso a uma encenação de mão pesada sobre a interpretação, com marcas estanques, e a uma cenografia
que parece querer reproduzir à
risca o que seria um drama da
Broadway (quando ainda existiam) e o que se tem é a melhor
representação do que alguém,
um dia, chamou "teatrão".
Mas o espetáculo não pára aí.
Qualquer peça com Vera Fischer no elenco será, inevitavelmente, engolida pela estrela.
Uma cena: Maggie the Cat, a
gata, que está fora de cena enquanto a família se estende em
diálogos dramáticos, entra
com um vestido vermelho, justo, salto alto, o cabelo loiro em
ondas, o rosto de Vera Fischer,
o corpo de Vera Fischer.
A platéia perde o ritmo da
respiração. E quem vai atentar
para diálogo, diante da imagem da estrela. Na frase sumária da sexóloga Marta Suplicy,
no programa da peça: "Com
Vera, tudo parece ter intensidade máxima de dor e prazer".
E é certo que ela progrediu
muito -se tal observação não
soasse mesquinha, diante das
proporções da estrela- como
atriz. Segura, com altos e baixos, os "bifes", as longas falas
do início da peça. Maggie exigiria talvez maior mordacidade,
também caracterização mais
"dura, histérica, cruel"; por
outro lado, "só, tão só".
Mas o que importa quando,
durante os "bifes", Vera Fischer salta de um sofá para outro, desfila, pára com uma
combinação branca, de salto
alto, como Elizabeth Taylor no
filme, mas com contornos tão
mais exuberantes, como uma
Marilyn Monroe? E ainda diz,
"olha como o meu corpo continua perfeito..."
Mas é preciso falar da montagem. Fernando Peixoto é um
Brick Pollitt eficiente, em que a
marca do homossexualismo
está presente (ao contrário do
filme, com Paul Newman),
mas anulando por demais a
sensualidade, o que dificulta a
composição com Maggie.
Ítalo Rossi, como pai de
Brick, Big Daddy, Papai, acrescenta um inesperado humor de
trejeitos ao personagem, longe
do patriarca fundador, grande
raiz da "casa grande" americana. Mas sabe o que fala.
Também no elenco, é graciosa, apesar do maniqueísmo de
telenovela que a montagem
impõe ao personagem, a Mae
de Guida Vianna. É a cunhada
malvada, casada com Gooper,
irmão de Brick, que quer ficar
com a herança da família.
A tradução não é das mais felizes, com tropeços como "milhas e milhas distante daqui".
Quanto ao título, que causou
controvérsia, é difícil imaginar
alternativas como "Gata em
Telhado de Estanho Quente".
Sobre a cenografia de Hélio
Eichbauer, se era para abraçar
o drama americano, como parece, o palco pedia mais do que
a tela de pano ao fundo; e os
três brinquedos antigos, na boca de cena, soam como decoração, ainda mais que foram descartadas as crianças. (NS)
Peça: Gata em Teto de Zinco Quente
Direção: Moacyr Góes
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às
20h
Onde: teatro Villa-Lobos (r. Princesa
Isabel, 440, Rio, tel. 021/275-6695)
Quanto: R$ 30 (qui. e dom.) e R$ 40
(sex. e sáb.)
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