São Paulo, sexta, 6 de fevereiro de 1998

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"No Escurinho" ri da solidão

do enviado especial ao Rio

Luiz, de 11 anos, chora porque os colegas não querem brincar com ele e o chamam de "florzinha". Wilma, a mãe de 40, acabou de pegar o marido, que vive bebendo e não dá dinheiro, com outra.
No cinema em que ela esquece da vida vendo velhos filmes, o menino pergunta se existe alguém feliz no mundo. A mãe diz que sim, claro, e estão na ilha de Caras.
É assim, uma comédia em meio à tristeza, a peça "No Escurinho do Cinema", de Luís Carlos Góes. É dedicada ao dramaturgo Vicente Pereira, cujas peças, que ajudaram a estabelecer o besteirol, traziam uma tristeza de mesmo gênero.
"No Escurinho do Cinema" faz clara referência a uma das últimas peças de Vicente, "Solidão, a Comédia". O mesmo cinema, as mesmas cadeiras, a mesma busca de uma ilusão, para encobrir a realidade.
O diretor Jorge Fernando, que volta ao palco, faz o menino Luiz. É quem concentra a comédia, ou o besteirol, com muitos "cacos", improvisações, com domínio de cena muito grande, apesar da longa ausência dos palcos.
Além do jogo na platéia, brincando com os espectadores, atravessando as fileiras, caindo, muitas piadas com som anacrônico, estranho, como é próprio do besteirol. Da "bainha godê" aos trocadilhos com títulos de filmes.
Patrícia Travassos, também ótima no humor, ela que veio do Asdrubal Trouxe o Trombone, concentra o drama. Está envolvente, emocionante, embora sempre se possa dizer que empatia com a personagem da mãe é inevitável.
Sem excessos, vai dizendo o que é estar sozinho, o que é a morte, "essa viagem que todo ser humano faz sozinho". E que ela faz, na tela. Um belo espetáculo, com os lugares-comuns que as mães dizem com dolorosa verdade. (NS)


Peça: No Escurinho do Cinema
Autor: Luís Carlos Góes Direção: Jorge Fernando
Quando: quinta a sábado, às 21h30; domingo, às 20h
Onde: teatro Clara Nunes (Shopping da Gávea, r. Marquês de São Vicente, 52, Rio, tel. 021/274-9669)
Quanto: R$ 20 (quinta e sexta), R$ 25 (domingo) e R$ 30 (sábado)



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