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MÚSICA MEMÓRIA
Caldas foi referência para os melhores
CARLOS RENNÓ
especial para a Folha
Silvio Caldas foi um dos maiores
cantores populares que o Brasil já
produziu e produzirá. Ao lado (e
no mesmo, altíssimo, nível) de
Orlando Silva e do melhor Francisco Alves (o mais contido, da
primeira fase), ele definiu a forma
moderna de interpretação das modalidades mais refinadas e mais
cadenciadas que o samba adotou
nos áureos anos 30.
Para tanto, não precisou exibir
vozeirão algum, mas um fraseado
redondo, que dava vazão a toda a
espontaneidade de seu sentimento.
Assim, por mais intensa e potente que fosse sua emissão, nada afetava essa característica tão cara à
sua voz: a melodiosidade.
Cantor inteligente é isso: o que
sabe o que fazer com a garganta.
Mais: que sabe manter sempre alta
também a qualidade do seu repertório, outro quesito em que o
"Caboclinho Querido" -como
era chamado esse carioca com algo de mulato- deu inesquecíveis,
memoráveis, lições de classe e sabedoria.
Uma rápida passada por alguns
de seus muitos sucessos é suficiente basta para entender
o que e quem ele cantava: "As Pastorinhas", de João de Barro e Noel Rosa; "Da
Cor do Pecado", de
Bororó; "Mulher", de
Custódio Mesquita e
Sadi Cabral; "Maria"
e "Morena Boca de
Ouro", de Ary Barroso; "Cabelos Brancos", de Herivelto
Martins.
Mas ele próprio foi
compositor, função
em que, mesmo longe
de se equiparar a um
Custódio ou a um Ary,
deixou sua marca indelével na história da
música popular no
Brasil.
Afinal, foram suas
belas emoldurações
melódicas para as letras literárias
de Orestes Barbosa que deram forma final a clássicos de absoluta
originalidade como "Arranha-Céu" e, sobretudo, "Chão de
Estrelas", ainda hoje (é de 1937!)
uma das mais populares canções
brasileiras.
O mestre que foi Silvio Caldas
nunca deixou de servir de referência e reverência para os melhores
das gerações que se seguiram à dele.
Caetano Veloso, por exemplo,
confessou em seu livro "Verdade
Tropical" ser "notadamente Silvio Caldas (o anticelestino)"
quem marcou seu estilo de cantar.
As atuais gerações precisam descobri-lo.
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