São Paulo, sexta, 6 de fevereiro de 1998

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MÚSICA MEMÓRIA
Caldas foi referência para os melhores

CARLOS RENNÓ
especial para a Folha

Silvio Caldas foi um dos maiores cantores populares que o Brasil já produziu e produzirá. Ao lado (e no mesmo, altíssimo, nível) de Orlando Silva e do melhor Francisco Alves (o mais contido, da primeira fase), ele definiu a forma moderna de interpretação das modalidades mais refinadas e mais cadenciadas que o samba adotou nos áureos anos 30.
Para tanto, não precisou exibir vozeirão algum, mas um fraseado redondo, que dava vazão a toda a espontaneidade de seu sentimento.
Assim, por mais intensa e potente que fosse sua emissão, nada afetava essa característica tão cara à sua voz: a melodiosidade.
Cantor inteligente é isso: o que sabe o que fazer com a garganta. Mais: que sabe manter sempre alta também a qualidade do seu repertório, outro quesito em que o "Caboclinho Querido" -como era chamado esse carioca com algo de mulato- deu inesquecíveis, memoráveis, lições de classe e sabedoria.
Uma rápida passada por alguns de seus muitos sucessos é suficiente basta para entender o que e quem ele cantava: "As Pastorinhas", de João de Barro e Noel Rosa; "Da Cor do Pecado", de Bororó; "Mulher", de Custódio Mesquita e Sadi Cabral; "Maria" e "Morena Boca de Ouro", de Ary Barroso; "Cabelos Brancos", de Herivelto Martins.
Mas ele próprio foi compositor, função em que, mesmo longe de se equiparar a um Custódio ou a um Ary, deixou sua marca indelével na história da música popular no Brasil.
Afinal, foram suas belas emoldurações melódicas para as letras literárias de Orestes Barbosa que deram forma final a clássicos de absoluta originalidade como "Arranha-Céu" e, sobretudo, "Chão de Estrelas", ainda hoje (é de 1937!) uma das mais populares canções brasileiras.
O mestre que foi Silvio Caldas nunca deixou de servir de referência e reverência para os melhores das gerações que se seguiram à dele.
Caetano Veloso, por exemplo, confessou em seu livro "Verdade Tropical" ser "notadamente Silvio Caldas (o anticelestino)" quem marcou seu estilo de cantar. As atuais gerações precisam descobri-lo.



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