São Paulo, sexta, 6 de fevereiro de 1998

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ACONTECE NO RIO
'Hamlet' reduzido reinaugura o Ipanema

Divulgação
Márcia Monteiro e Nildo Parente em ensaio de "Hamlet"


RONI LIMA
da Sucursal do Rio

Palco de peças que marcaram a vida cultural do Rio, principalmente nos anos 70, época da chamada "geração desbunde", o teatro Ipanema reabre hoje rebatizado de Rubens Corrêa, após 11 meses de reforma, com a encenação do clássico "Hamlet".
Amigo e sócio de Rubens Corrêa no Ipanema até a morte do ator, há dois anos, o diretor Ivan de Albuquerque, 65, tem dois desafios com a estréia de "Hamlet", um dos textos mais famosos do inglês William Shakespeare (1564-1616).
O primeiro é conseguir -sem provocar a insatisfação dos mais tradicionalistas- atrair a atenção do público contemporâneo para esse clássico do teatro mundial. O texto de Shakespeare foi cortado para que Albuquerque conseguisse reduzir a encenação original de cerca de cinco horas para pouco mais de duas horas.
O segundo desafio é fazer com que o novo teatro, em Ipanema (zona sul), que passou por uma reforma de R$ 400 mil, patrocinada pela Fundação Banco do Brasil, volte a ser um dos pontos de referência da cena teatral carioca.
Após sua inauguração, em 1968, com a peça "O Jardim das Cerejeiras", do russo Tchekhov (1860-1904), o teatro se tornaria, assim como as "dunas do barato", na praia de Ipanema, um dos marcos do movimento da contracultura no Rio.
Peças como "O Arquiteto e o Imperador da Assíria" e "Hoje é Dia de Rock", estreladas pelo próprio Corrêa, no início dos 70, atraíram milhares de pessoas, de todas as idades, para o Ipanema.
Shows musicais, como os de Beto Guedes e Milton Nascimento, também passaram a ser realizados ali. Em pleno regime militar, quem fosse ao Ipanema podia sentir no ar o cheiro de maconha -sinal de que estava em uma espécie de território livre.
Atores como José Wilker, Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães conheceram seus primeiros grandes sucessos no Ipanema.
Em 69, desesperançado com as dificuldades da vida de ator, Wilker estava decidido a abandonar a carreira. Até que encontrou Rubens Corrêa em um café e recebeu o convite para encenar com ele "O Arquiteto e o Imperador da Assíria", texto de Francisco Arrabal que faz uma crítica ao dito mundo civilizado.
A peça marcou um dos grandes problemas dos sócios do teatro com a censura. Mas, apesar de receber cortes, que foram assinalados em cena por uma estridente sirene, a encenação foi um sucesso de público.
Wilker reivindica para o Ipanema um reconhecimento nacional, assim como tiveram os teatro de Arena e Opinião, entre outros. Segundo ele, no mínimo "pelo lado estético", as peças encenadas no teatro Ipanema marcaram época.
Para o ator Evandro Mesquita, o Ipanema "contribuiu fundamentalmente para a cultura contemporânea brasileira". Ao lado de Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães, ele encenou outro dos grandes sucessos do Ipanema.
Dirigida por Hamilton Vaz Pereira, a peça "Trate-me Leão", que falava dos problemas e ansiedades da juventude, virou em 1976 ponto de encontro obrigatório para muitos.
Mas Mesquita já havia sentido o gosto do sucesso pela primeira vez em 1971, ao encenar no Ipanema "Hoje é Dia de Rock", de José Vicente, com Rubens Corrêa e Nildo Parente, entre outros.
No dia do aniversário de um ano em cartaz, quando as pessoas foram convidadas a ir de branco e a levar flores, havia tanta gente que se optou por sair dali e encenar a peça na praia.



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