São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2000


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MÍDIA
Antônio Athayde revela que, em sociedade com Boni, quase comprou o SBT e, depois, a Manchete
Futuro da TV é Internet e co-produções

ANNA LEE
Colunista da Folha

Se não tivesse sido, inesperadamente, afastado da vice-presidência da Rede Bandeirantes, Antônio Athayde, 54, estaria comemorando a concretização da primeira meta que traçou para sua gestão na emissora: a parceria da emissora com o portal e provedor de acesso à Internet iG. Depois, pretendia até maio reestruturar a programação da Band, que teria como base co-produções.
Não deu tempo. Na semana passada, foi convidado a deixar a emissora.
Athayde -que foi superintendente comercial da TV Globo e implantou o sistema Net/Globosat no Brasil- contou que fez parte de um grupo de investidores que tentou comprar o SBT e a TV Manchete. A seguir leia trechos da entrevista que Athayde concedeu à Folha:

Folha - Qual foi o motivo de sua saída da Bandeirantes?
Antônio Athayde -
Na semana passada, quando cheguei à emissora, encontrei uma série de observações do Johnny (Saad) sobre minhas decisões rotineiras e de contratos que estávamos assinando. Então eu o procurei e disse que, como estava sendo questionado, estava interpretando que ele não queria que eu ficasse. Ele respondeu que era isso mesmo.

Folha - O que foi questionado?
Athayde -
Isso não é importante. Ele estava simplesmente provocando um desconforto. Não tenho dúvida de que os contratos de co-produções vão continuar. E, se não fossem os contratos naquele dia, seria outra coisa no dia seguinte. Ele estava procurando um motivo, nem é para ele me mandar embora, mas para eu fazer a pergunta. Eu joguei o jogo dele. Tenho uma parcela de responsabilidade na minha saída, pois não fui capaz de administrar uma relação familiar. Sou assim mesmo.

Folha -As Organizações Globo pertencem à família Marinho. O sr. também teve problemas "familiares" lá?
Athayde -
Não. Eu fui superintendente comercial da Globo e tinha 100% de autonomia. Esse é o jeito da Globo, as pessoas tocam suas áreas com independência.

Folha - Não é o que se fala...
Athayde -
Eu não sei hoje, mas na minha época era assim. Também montei o sistema Net/Globosat com total independência. Eu apresentava um plano estratégico e, dentro do estabelecido, eu tinha total autonomia, como o Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho) na área de programação e o Miguel (Pires Gonçalves) na área de comercialização. Eu não tinha um acionista a me pentelhar.

Folha - Como foi sua experiência na Band?
Athayde -
Foi frustrante. Um experiente "head hunter", conhecedor da minha paixão por televisão, me disse que, na Band, eu só teria "up sides", pois, se desse certo, seria um herói, senão, todos diriam que já era esperado. Em julho, assinei com a Band um contrato de consultoria por quatro meses. No meio do caminho, o Johnny me convidou para assumir a vice-presidência de televisão e ficou de me apresentar uma proposta de contrato que nunca apareceu. Por isso, ficou muito mais fácil ele me dispensar, não há multa rescisória. Eu tinha apresentado um plano estratégico e estava executando-o. A audiência estava dando os primeiros sinais de vida pela simples persistência numa linha de programação, o mercado publicitário estava prestando mais atenção na Band pela implantação de uma relação profissional com agências e anunciantes.

Folha - Antes de ir para a Band, o sr. chegou a pensar em adquirir uma rede de TV?
Athayde -
Em 98, eu fiz parte de um grupo de investidores (que incluía Boni) que propôs ao Silvio Santos a compra do SBT. Ele chegou a considerar a hipótese. Nosso grupo assumiria a gestão do SBT e a programação de segunda a sexta. Ele ficaria com o sábado e o domingo. Mas, no dia em que íamos fechar o negócio, ele nos telefonou e, sem maiores explicações, disse que tinha desistido.

Folha - Então esse grupo desistiu do projeto da TV aberta?
Athayde -
Não. Luiz Carlos Mendonça de Barros (ex-ministro das Comunicações) se juntou a nós e tentamos comprar a Manchete, mas o negócio era inviável. Chegamos à conclusão de que seria impossível fazer o que a Rede TV! acabou fazendo: separar totalmente a parte podre da empresa e ficar só com as concessões.

Folha -A associação da Band com a Traffic foi uma estratégia para enfrentar a Globo na área de eventos esportivos?
Athayde -
O acordo com a Traffic foi uma necessidade de momento para a Band e uma tremenda oportunidade para a Traffic. Muitos eventos tiveram sucesso, como o Campeonato Mundial de Clubes, que na final rendeu à Band 53 pontos de audiência. A Globo está sendo muito agressiva na disputa por direitos esportivos, e a Band tem que buscar novos caminhos. É um erro pensar que é possível viabilizar um evento, só com o evento em si. Na TV, vende-se a programação, não os programas isolados. O projeto Futebol 2000, que a Globo ofereceu para o mercado, está num pacote que inclui toda a sua programação, de janeiro a dezembro.

Folha - E as co-produções?
Athayde -
Existem grupos nacionais e estrangeiros loucos para investir no Brasil. Como a Globo parece fechada para este tipo de acordo, o SBT tem suas próprias idéias sobre o assunto, a Rede TV! ainda é uma incógnita e a Record pertence a uma igreja e tem uma visão particular do negócio, a Band virou quase que uma opção única.Com as co-produções eu estava investindo em qualidade de programação.

Folha - E o acordo com o iG?
Athayde -
A Bandeirantes tem participação acionária no iG, cujo percentual não posso revelar. O que atraiu o iG para a Band foi a possibilidade de ter acesso ao conteúdo da emissora e começar a fazer experiências em banda larga. Para a Bandeirantes foi bom para se aproximar da Internet e fazer programas interativos, já que o futuro é por aí. Aliás, meu futuro parece ser na Internet também. Espero que a banda seja suficientemente larga...


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