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ARTES VISUAIS
Obra "Acampamento dos Anjos", de Eduardo Srur, foi instalada em edifício do futuro Instituto Dr. Arnaldo
Artista monta barracas em prédio em SP
TEREZA NOVAES
DO GUIA DA FOLHA
Os anjos que zelam pelos túmulos do cemitério do Araçá, na avenida Dr. Arnaldo, ganharam vizinhos. Os novos "moradores" estão instalados em 35 barracas de
camping fixadas na fachada da
imensa estrutura de concreto de
24 andares, atrás do hospital Emílio Ribas. "Acampamento dos
Anjos" não é um protesto dos
céus, mas uma intervenção urbana criada pelo artista paulistano
Eduardo Srur, 29.
A obra, que deve permanecer
no local até o fim de abril, faz parte de um projeto em curso desde
2002. O acampamento foi montado pela primeira vez no prédio
onde o artista mora, na rua Hungria, no bairro do Jardim Paulistano, e já esteve em dois salões de
arte -no Museu de Arte Contemporânea, em Curitiba, e no
Museu de Arte de Santa Catarina,
em Florianópolis.
"A idéia surgiu quando li o salmo: "O anjo do Senhor acampa ao
redor dos que o temem e os livra".
Na época, minha mãe estava
doente, e isso foi uma ponte de esperança", conta Srur.
O resultado plástico surpreendeu o artista, cujo trabalho está
calcado essencialmente na pintura. Foi com os pincéis que ele ganhou, entre outros, os prêmios
Michelangelo, do Centro Cultural
São Paulo, em 1996, e o da Bienal
de Santos, neste ano.
Além dessas premiações, dez telas de sua autoria foram reproduzidas em 5 milhões de cartões telefônicos em 1998.
A princípio, suas pinturas tinham caráter figurativo e retratavam cenas urbanas, automóveis e
contêineres. Atualmente, Srur
pende para a abstração na recente
série "Celestiais". "O trabalho é
mais cromático e perdeu a referência realista", diz. Em paralelo,
ele planeja outra intervenção pública, desta vez no rio Pinheiros.
A trajetória pictórica reforça a
relação entre a instalação no esqueleto de concreto e as famosas
fachadas de Alfredo Volpi (1896-1988). O artista concorda e lembra
que a escolha das cores das barracas é semelhante ao processo de
pintura.
Ao todo, são seis tons distribuídos pelas diferentes faces do prédio da Dr. Arnaldo. À noite, lâmpadas iluminam o interior das
barracas, que têm estruturas reforçadas com alumínio e são presas com cabos de aço. A montagem da instalação envolveu sete
pessoas e levou uma semana.
A empreitada está sendo documentada em vídeo e fotos, que farão parte de um catálogo, com
lançamento previsto para o próximo dia 27 na galeria Vermelho, na
rua Minas Gerais, de onde é possível ver a obra.
Via-crúcis burocrática
Para povoar os vãos do edifício
-cuja construção foi retomada
no ano passado, depois de ficar
paralisada por quase dez anos, e
que deve sediar o hospital Instituto Dr. Arnaldo-, Srur percorreu
uma via-crúcis burocrática para
obter patrocínio e autorização para ocupar o imóvel do Estado.
Procurou a secretária estadual
da Cultura, Cláudia Costin, pediu
permissão ao secretário da Saúde,
Luiz Roberto Barradas Barata, e
chegou a bater na porta do gabinete do governador Geraldo
Alckmin, quando um banner publicitário ameaçou encobrir a fachada no mesmo período em que
seria realizada a instalação. "Escutei até o último momento que
talvez não fosse possível viabilizar
o projeto", conta.
Apesar das adversidades, o
acampamento ficou pronto na
data desejada pelo artista: o Domingo de Ramos, que marca a entrada de Jesus em Jerusalém,
quando lhe foram oferecidos ramos, e o início da Semana Santa,
período da ressurreição e de esperança. "A pintura ganhou luz",
diz. É noite e pela primeira vez o
artista vê sua obra iluminada.
ACAMPAMENTO DOS ANJOS.
Instalação de Eduardo Srur. Onde: prédio
do futuro Instituto Dr. Arnaldo (av. Dr.
Arnaldo, s/nš, Cerqueira César, região
oeste). Quando: até 30 de abril.
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