São Paulo, terça-feira, 06 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ARTES VISUAIS

Obra "Acampamento dos Anjos", de Eduardo Srur, foi instalada em edifício do futuro Instituto Dr. Arnaldo

Artista monta barracas em prédio em SP

TEREZA NOVAES
DO GUIA DA FOLHA

Os anjos que zelam pelos túmulos do cemitério do Araçá, na avenida Dr. Arnaldo, ganharam vizinhos. Os novos "moradores" estão instalados em 35 barracas de camping fixadas na fachada da imensa estrutura de concreto de 24 andares, atrás do hospital Emílio Ribas. "Acampamento dos Anjos" não é um protesto dos céus, mas uma intervenção urbana criada pelo artista paulistano Eduardo Srur, 29.
A obra, que deve permanecer no local até o fim de abril, faz parte de um projeto em curso desde 2002. O acampamento foi montado pela primeira vez no prédio onde o artista mora, na rua Hungria, no bairro do Jardim Paulistano, e já esteve em dois salões de arte -no Museu de Arte Contemporânea, em Curitiba, e no Museu de Arte de Santa Catarina, em Florianópolis.
"A idéia surgiu quando li o salmo: "O anjo do Senhor acampa ao redor dos que o temem e os livra". Na época, minha mãe estava doente, e isso foi uma ponte de esperança", conta Srur.
O resultado plástico surpreendeu o artista, cujo trabalho está calcado essencialmente na pintura. Foi com os pincéis que ele ganhou, entre outros, os prêmios Michelangelo, do Centro Cultural São Paulo, em 1996, e o da Bienal de Santos, neste ano.
Além dessas premiações, dez telas de sua autoria foram reproduzidas em 5 milhões de cartões telefônicos em 1998.
A princípio, suas pinturas tinham caráter figurativo e retratavam cenas urbanas, automóveis e contêineres. Atualmente, Srur pende para a abstração na recente série "Celestiais". "O trabalho é mais cromático e perdeu a referência realista", diz. Em paralelo, ele planeja outra intervenção pública, desta vez no rio Pinheiros.
A trajetória pictórica reforça a relação entre a instalação no esqueleto de concreto e as famosas fachadas de Alfredo Volpi (1896-1988). O artista concorda e lembra que a escolha das cores das barracas é semelhante ao processo de pintura.
Ao todo, são seis tons distribuídos pelas diferentes faces do prédio da Dr. Arnaldo. À noite, lâmpadas iluminam o interior das barracas, que têm estruturas reforçadas com alumínio e são presas com cabos de aço. A montagem da instalação envolveu sete pessoas e levou uma semana.
A empreitada está sendo documentada em vídeo e fotos, que farão parte de um catálogo, com lançamento previsto para o próximo dia 27 na galeria Vermelho, na rua Minas Gerais, de onde é possível ver a obra.

Via-crúcis burocrática
Para povoar os vãos do edifício -cuja construção foi retomada no ano passado, depois de ficar paralisada por quase dez anos, e que deve sediar o hospital Instituto Dr. Arnaldo-, Srur percorreu uma via-crúcis burocrática para obter patrocínio e autorização para ocupar o imóvel do Estado.
Procurou a secretária estadual da Cultura, Cláudia Costin, pediu permissão ao secretário da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, e chegou a bater na porta do gabinete do governador Geraldo Alckmin, quando um banner publicitário ameaçou encobrir a fachada no mesmo período em que seria realizada a instalação. "Escutei até o último momento que talvez não fosse possível viabilizar o projeto", conta.
Apesar das adversidades, o acampamento ficou pronto na data desejada pelo artista: o Domingo de Ramos, que marca a entrada de Jesus em Jerusalém, quando lhe foram oferecidos ramos, e o início da Semana Santa, período da ressurreição e de esperança. "A pintura ganhou luz", diz. É noite e pela primeira vez o artista vê sua obra iluminada.


ACAMPAMENTO DOS ANJOS.
Instalação de Eduardo Srur. Onde: prédio do futuro Instituto Dr. Arnaldo (av. Dr. Arnaldo, s/nš, Cerqueira César, região oeste). Quando: até 30 de abril.



Texto Anterior: Festival em Buenos Aires convoca Brasil
Próximo Texto: Cinema: Mel Gibson afrouxa censura árabe
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.