São Paulo, domingo, 06 de abril de 2008

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comentário

Stand-up é gênero cômico que amplia limites do riso

SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Como no "one man show", gênero que marcou as carreiras de José Vasconcelos, Chico Anysio e Jô Soares, a stand-up comedy supõe um ator com um microfone em punho dirigindo-se diretamente à platéia, munido de piadas, frases de efeito, imitações e, a rigor, um mínimo de adereços para se multiplicar em cena.
Mas o humorista de stand-up tem orgulho de se arriscar muito mais. Seu "material", mais do que um mero improviso, consiste em textos do próprio punho no qual ele se expõe como personagem principal, assumindo suas inadequações físicas e inabilidade diante do mundo.
O jogo consiste em ganhar a empatia do público comentando pequenos incidentes do cotidiano. É tão específico que não raro cada performance deve ser adaptada de acordo com o endereço do show ou de um acontecimento marcante da véspera. Por isso, seu grande parceiro é o "heckler", o chato da platéia que quer ser mais engraçado e se presta a uma queda de braço de insultos.
Como nos Estados Unidos, onde nasceu o gênero, rastrear a história da stand-up comedy no Brasil é fazer uma lista de pioneiros. Tudo começa com o número de cortina do vaudeville, no qual um ator tem que entreter a platéia na boca de cena, enquanto por trás o cenário é trocado. Basta reler "O Mambembe", de Arthur de Azevedo, para checar como o caipira se dirige diretamente à platéia, comparando-a às mulas tropeiras, em uma provocação típica do gênero. Na era do rádio, Noel Rosa era mais humorista do que cantor, sendo a crônica provocadora dos costumes a essência de seus sambas -e a televisão se adapta perfeitamente a esses esquetes curtos.
A internet volta a consagrar esses camicases do humor, como Rafinha Bastos, que tinha seu site já em 1999. No teatro de São Paulo, proliferam grandes comediantes, como Grace Gianoukas, Marcelo Mansfield, Danilo Gentili e Danny Calabresa.
Em Curitiba, o "Risorama", criado há cinco anos por Diogo Portugal como um apêndice do Festival de Curitiba, consagrou-se neste ano como atração principal. E o Janeiro Brasileiro da Comédia, festival específico realizado em São José do Rio Preto, instituiu a partir deste ano um "open mic" para descobrir talentos locais.
Democrática e insolente, a stand-up é garantia de renovação ou, pelo menos, de boas risadas, desde que os performers sobrevivam à dura prova de fogo de se expor ao ridículo de cara limpa.


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