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comentário
Stand-up é gênero cômico que amplia limites do riso
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Como no "one man show",
gênero que marcou as carreiras
de José Vasconcelos, Chico
Anysio e Jô Soares, a stand-up
comedy supõe um ator com um
microfone em punho dirigindo-se diretamente à platéia,
munido de piadas, frases de
efeito, imitações e, a rigor, um
mínimo de adereços para se
multiplicar em cena.
Mas o humorista de stand-up
tem orgulho de se arriscar muito mais. Seu "material", mais do
que um mero improviso, consiste em textos do próprio punho no qual ele se expõe como
personagem principal, assumindo suas inadequações físicas e inabilidade diante do
mundo.
O jogo consiste em ganhar a
empatia do público comentando pequenos incidentes do cotidiano. É tão específico que
não raro cada performance deve ser adaptada de acordo com
o endereço do show ou de um
acontecimento marcante da
véspera. Por isso, seu grande
parceiro é o "heckler", o chato
da platéia que quer ser mais engraçado e se presta a uma queda de braço de insultos.
Como nos Estados Unidos,
onde nasceu o gênero, rastrear
a história da stand-up comedy
no Brasil é fazer uma lista de
pioneiros. Tudo começa com o
número de cortina do vaudeville, no qual um ator tem que entreter a platéia na boca de cena,
enquanto por trás o cenário é
trocado. Basta reler "O Mambembe", de Arthur de Azevedo,
para checar como o caipira se
dirige diretamente à platéia,
comparando-a às mulas tropeiras, em uma provocação típica
do gênero. Na era do rádio,
Noel Rosa era mais humorista
do que cantor, sendo a crônica
provocadora dos costumes a
essência de seus sambas -e a
televisão se adapta perfeitamente a esses esquetes curtos.
A internet volta a consagrar
esses camicases do humor, como Rafinha Bastos, que tinha
seu site já em 1999. No teatro
de São Paulo, proliferam grandes comediantes, como Grace
Gianoukas, Marcelo Mansfield,
Danilo Gentili e Danny Calabresa.
Em Curitiba, o "Risorama",
criado há cinco anos por Diogo
Portugal como um apêndice do
Festival de Curitiba, consagrou-se neste ano como atração
principal. E o Janeiro Brasileiro da Comédia, festival específico realizado em São José do
Rio Preto, instituiu a partir deste ano um "open mic" para descobrir talentos locais.
Democrática e insolente, a
stand-up é garantia de renovação ou, pelo menos, de boas risadas, desde que os performers
sobrevivam à dura prova de fogo de se expor ao ridículo de cara limpa.
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