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LIVRO/LANÇAMENTO
"A ARTE SECRETA DO DESEJO"
Simone Ostrowski, que tem recebido elogios do meio literário, lança seu segundo livro
Autora-revelação fica presa em abstrações
MARCELO PEN
CRÍTICO DA FOLHA
Simone Ostrowski, com
apenas 29 anos, vem saudada
por intelectuais ilustres: o crítico
literário Antonio Olinto e o professor Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras, além
do escritor Moacyr Scliar. Vale a
pena prestar atenção no que dizem, e não só pelo fato de que dois
dos autores brasileiros mais interessantes hoje, embora não necessariamente em atividade, sejam
mulheres: as paulistas Hilda Hilst
e Zulmira Ribeiro Tavares.
"A Arte Secreta do Desejo" é a
segunda ficção de Ostrowski. É
pena que tenha sido vítima de
uma edição apressada, que deixou vários pequenos erros. A obra
é classificada como romance. A
rigor, seria coisa semelhante a
uma novela, de extensão intermediária entre conto e romance. No
país, o exemplo famoso é o de "O
Alienista", de Machado de Assis.
Nesta novela de Ostrowski, há
bem pouca ação. Um homem rico, colecionador de quadros, encontra uma jovem historiadora de
arte, por quem se apaixona. Ela
aceita seu convite para ser sua
hóspede, mas se esquiva de uma
aproximação maior. Vivem "cercados de boa arte, perdidos em
[..." ócio de jogos sedutores e discussões interessantes", até que
uma revelação derradeira lhes define o destino. Não há indicação
de espaço nem de tempo. Os personagens têm sobrenomes de artistas renomados: Goya, ele; Kandinsky, ela. Passam o tempo discutindo a arte, o amor, a religião.
O grande conflito declarado se
dá no plano das idéias. Goya é um
"esteta mórbido", colocando "a
beleza acima de tudo". A beleza e
as mulheres, aliás. Seria um libertino consumado, se não fosse por
um detalhe. Houve uma mulher a
quem amou. Apelidou-a de "Jardim Fechado". Fugiu dela com
medo do sentimento de perfeição
que lhe despertava. Para ele, o ser
humano é necessariamente imperfeito, e deve se contentar com
isso. Já Kandinsky crê na busca
pela perfeição e desaprova a morbidez. Também confia no poder
da graça, artística e religiosa. "Todo amor digno do nome é platônico", diz, concordando, em tese,
com o que Goya fizera, na prática.
Há algo curioso com que os dois
concordam. Ambos defendem a
estética clássica, em oposição a
"toda essa arte vazia e todos os
malabarismos intelectuais para
justificar o que já não emociona
nem atinge ninguém". O problema residiria no fato de a arte contemporânea excluir o elemento
humano, o afeto, a sedução.
Curiosamente, Goya e Kandinsky são aportes de conceitos, e
não personagens plenos, que
agem por meio de uma rede palpável de motivações. Vivem imersos em abstrações. Por isso, são
mais porta-vozes de uma literatura pós-moderna, irônica, racionalista e desencarnada do que figuras tradicionais, capazes de nos
transmitir emoção e "densidade
psicológica". Apenas no final,
com grande estrondo, como um
"deus ex machina", é que surge a
explicação para seu comportamento. Ela surge tão fantasiosa e
romanesca, porém, que pouco
nos convence da concretude dos
personagens. Eles continuam pairando sobre nós, como a tese e a
antítese de uma idéia.
A Arte Secreta do Desejo
Autor: Simone Ostrowski
Editora: Revan
Quanto: R$ 18 (112 págs.)
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