São Paulo, terça-feira, 06 de julho de 2004 |
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FLIP Trio de estrelas da Festa de Parati diz que vivemos a pior época da história, tema que motiva seus próximos romances Já surgimos "não-inocentes", afirma Amis
DA REPORTAGEM LOCAL
Folha - Sobre o que vocês (Ian e
Martin) vão falar em Parati? Folha - Vocês crêem que os eventos dos últimos anos, desde o 11 de
Setembro, mudarão a literatura? Amis - Esta é a pior época da história em pelo menos um aspecto.
Existe menos inocência. Nós já
surgimos como os "não-inocentes", por pura agregação. Não
posso fugir do presente porque o
meu assunto sempre foi a masculinidade. E hoje vivemos uma nova e selvagem manifestação da
masculinidade. Ian McEwan - Nossa época, que é
muito ruim em particular, tem
um apelo para escritores, pois a
ficção sempre mostrou vidas particulares diante de movimentos
maiores. Escrever é uma investigação da natureza humana. Amis - Don DeLillo disse, há oito
anos, que o espírito do futuro será
determinado não pelos poetas,
mas por terroristas. Auster - As eleições na América
em 2000 me deixaram muito deprimido, me senti como se estivesse vivendo o período mais
sombrio da minha vida. Hoje temos um governo ilegítimo que está fazendo... Amis - Coisas ilegítimas. Auster - Isso, coisas ilegítimas.
Lembro-me de algo que Billy Wilder disse: "Quando você sentir
que está no topo de sua vida, deve
escrever uma tragédia. E quando
você se sente muito mal, escreva
uma comédia". Estou escrevendo
uma comédia que vai acabar na
manhã do 11 de Setembro de 2001. Folha - Como se sente em relação
à eleição? Folha - E qual vocês acham que
será o futuro político de Tony Blair? Auster - Mas por favor me expliquem uma coisa. Como acontece
uma aliança entre Bush e Blair. Eu
nunca entendi. McEwan - É uma tradição desde a
Segunda Guerra. Sempre os Estados Unidos estiveram com a Inglaterra. Teria sido um grande escândalo se eles se separassem. Auster - Mas como alguém articulado como Blair se alia a Bush? Amis - Creio que muito para não
deixar Bush agir sozinho. Blair
pensava que, pelo menos, poderia
sussurrar algo em seu ouvido. Os
americanos, em choque, poderiam fazer coisas piores. Folha - Como vocês enfrentam esse momento? Amis tem um livro sobre pornografia prestes a sair. Folha - Mas "Yellow Dog", seu último romance, era "pornográfico". Auster - Uma pergunta e tanto. McEwan - Torres gêmeas? Amis - Tenho tentado pensar no
Islã radical. Nessa manifestação
da masculinidade derrotada. E fico interessado pelas mulheres iranianas, pela explosão pela qual estão passando. Estão lendo Paul
Auster, estão lendo "Lolita", Saul
Bellow. É uma mudança radical. McEwan - Ainda assim os árabes
continuam odiando a América, e
eu entendo os motivos, além dos
óbvios. Eles não têm o melhor de
lá, o blues, o jazz, os filmes. Folha - Não vêem "Shrek" (risos). Auster - Os EUA e o Islã estão em
crise. Nós americanos temos sido
muito estúpidos. A América se
tornou o país mais desprezado do
planeta. E por quê? Há três anos,
depois do atentado, havia mais
simpatia pelos EUA do que em
qualquer época, até mesmo do
que no final da Segunda Guerra
Mundial. Fizemos tantos absurdos que o orgulho nos cegou. McEwan - Mas o fato de que estão
lendo "Lolita" em Teerã não mostra que o anti-americanismo não
é tão grande? Auster - Mas é apenas um pequeno grupo de pessoas que lêem. Amis - O público leitor é sempre
muito diminuto. E não inclui os
governos (risos)! Auster - Depois de 15 meses da
invasão do Iraque, a pergunta é: o
mundo está mais seguro? Não.
Existem mais terroristas? Sim.
Então o resultado é desastroso. Folha - Morrissey, ex-Smiths, acaba de lançar um disco em que critica o conservadorismo das sociedades americana e britânica. Vocês
concordam que esteja havendo
uma guinada para a direita? Folha - E qual deles é maior? McEwan - Sempre se discute se a
Grã-Bretanha está ficando mais à
direita ou mais à esquerda. O que
vemos hoje é que os conservadores estão sendo obrigados a discutir os temas da esquerda, saúde,
educação e serviços públicos. O
jogo está sendo jogado com as regras do Trabalhismo. Auster - Nos EUA é o oposto, a
direita é quem dita o discurso e as
regras do jogo eleitoral. McEwan - Acho importante dizer
que hoje, se o primeiro-ministro
fosse gay, ele não ia mais perder o
cargo, como aconteceria no início
dos anos 90. Hoje temos três ministros gays. Folha - E os imigrantes? Auster - O que estamos dizendo
é que a Grã-Bretanha está andando para a frente e que a América
está se movendo para trás. Folha - Como vocês estão enfrentando os tempos sombrios? McEwan - Estou escrevendo um
romance, sobre coisas que estamos conversando. Estou nos últimos rascunhos. Não consigo parar de pensar nele. Se passa num
único dia de 2003, durante grandes manifestações contra a guerra
no Iraque. Um personagem caminha por Londres, irritado porque
não consegue chegar a uma partida de squash. É algo meio "dark".
Quando se vive em tempos sombrios, se está mais vivo porque a
consciência vibra mais. Não falo
de nações, mas de indivíduos. Auster - Gostei dessa coisa de
três. Não vou mais querer dar entrevistas sozinho (risos). |
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