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COMIDA
Temporada de caça
Por seu sabor forte e textura firme, carne de animais como a perdiz e
o javali são ideais para o inverno; veja onde comer
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles não vivem mais em bosques nem em estado de liberdade e muito menos podem ser
abatidos por caçadores. Ainda
assim, animais como a perdiz, o
faisão e o javali -criados comercialmente no Brasil- permanecem sendo chamados de
"carnes de caça".
De sabor forte, textura firme
e preparada com ingredientes
encontrados nas estações frias,
como castanhas portuguesas,
cogumelos e frutos silvestres, a
carne de caça tem consumo associado ao inverno.
"Esse tipo de prato vai melhor no inverno. Caça não é um
prato ligeiro. Tem sabor forte,
bem intenso", diz o chef português Vitor Sobral, 39, que esteve no Brasil recentemente para
dar uma aula sobre carne de caça na Universidade Anhembi
Morumbi. "Hoje conseguimos
encontrar caça o ano inteiro,
mas há um condicionamento
psicológico de não consumi-la
fora da época. Dificilmente se
come uma lebre ou uma perdiz
em pleno verão."
Acostumado a cozinhar com
carne de caça "brava", modo como o animal selvagem é chamado, o chef português estranhou
a coloração da carne de javali
usada na aula, oriunda de criatório -ela era mais clara.
"É muito diferente o gosto da
caça brava. É mais intenso, genuíno. O outro não deixa de ser
bom, mas não é a mesma coisa.
Tem basicamente a ver com a
alimentação dos animais. E há
outra coisa fundamental: quando o animal tem de procurar
comida na natureza, a carne dele fica mais musculada", diz.
"Em Portugal, há regras muito
apertadas em relação ao que se
pode abater e, quando começa a
época da caça, é um alvoroço."
No Brasil, a caça é proibida
por uma lei federal, e a criação
comercial de animais silvestres
em cativeiro -incluindo espécies brasileiras como o jacaré, a
capivara e a queixada- deve seguir uma série de exigências do
Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis).
"O que existe hoje são carnes
ditas de caça. Na verdade, elas
são domésticas, criadas com
autorização do Ibama. Mas até
hoje deve ter no meio do Brasil
gente que caça para subsistência, por pura necessidade", diz
Marcelo Neri, 39, professor do
Centro Universitário Senac.
Os restaurantes, por sua vez,
só podem comprar esse tipo de
carne de produtores autorizados. "Meu pai deu o nome de Il
Cacciatore para o restaurante
não só por causa do nosso sobrenome [Caccia] mas também
porque naquele tempo ele podia servir caça: veado, tatu...
Depois foi proibido", conta
Jean Franco Caccia, 73, um italiano nascido na Lombardia
que aprendeu a fazer pratos caseiros com a avó e até hoje os
serve no Il Cacciatore. Há 52
anos na Bela Vista, o restaurante serve carne de javali, perdiz e
coelho -este último não é considerado animal de caça pela
maioria nem pelo Ibama.
Tenra e saborosa
Um dos segredos para preparar um bom prato de caça, conta Caccia, é deixá-la numa vinha d'alhos, cuja função é não
só conferir mais sabor à carne
mas também torná-la mais
úmida e macia. A vinha d'alhos
é feita com um elemento ácido
(vinho ou vinagre), vegetais
aromáticos (cebola, salsão, cenoura e alho), um buquê garni
(pequeno ramalhete feito com
ervas como tomilho, louro, salsa, aipo e alho-poró) e especiarias (pimenta-do-reino e, em
alguns casos, cravo e canela).
"O javali fica por 36 horas em
uma vinha d'alhos com vinho
merlot chileno. Não pode fazer
economia de vinho, tem que ser
uma boa marca", diz Caccio.
O cozimento é outro aspecto
a ser observado no preparo das
carnes de caça -é bem mais demorado que o das demais. "A
parte mais importante é dourá-la bem", explica o chef Giuseppe La Rosa, do Vecchio Torino.
"O coelho, por exemplo, fica
umas duas horas no forno."
IL CACCIATORE
r. Santo Antonio, 855, Bela Vista,
tel. 0/xx/11/3120-5119
VECCHIO TORINO
r. Tavares Cabral, 119, Jd. Paulistano, tel. 0/xx/11/3816-0592
LA GALIA
av. Macedo Soares, 340, Campos,
tel. 0/xx/12/3663-2993
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