Em "La Méridienne", que estréia hoje no Sesc Avenida Paulista, público acompanha a biografia de personagem polegar

Estética minimalista reflete a falta de sensibilidade nas relações cotidianas e tenta revelar pontos adormecidos no íntimo dos espectadores

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O espectador é exilado de ruídos, luz, contato social. Um feixe lhe permitirá acompanhar, no transcurso de apenas cinco minutos, a biografia de um boneco-personagem do tamanho de seu polegar, com uma expressão que lembra escultura grega em miniatura. Nascimento e morte "revelarão" um ponto adormecido no íntimo de cada um, espera o atuador e diretor de "La Méridienne", o franco-argentino Ezéquiel Garcia-Romeu. A produção estreou há 11 anos na França e chega para temporada inédita brasileira de hoje a 16/7, na unidade provisória do Sesc Avenida Paulista. São três sessões por noite para cada grupo de 12 pessoas que acompanham individualmente o espetáculo.
"Confessionário"
"Compartilha-se como que uma experiência espiritual, como se os espectadores estivessem diante de um confessionário", diz Garcia-Romeu. Não se recorre a palavras, mas a movimentos simples e delicados do boneco -recurso de animação que, em São Paulo, lembra os trabalhos do grupo Caixa de Imagens. "A idéia é colocar o homem frente à passagem do tempo e refletir sobre o destino da própria humanidade." É a esse caráter universal que o diretor atribui a permanência de "La Méridienne" por mais de uma década no repertório da companhia Ezéquiel Garcia-Romeu-Théâtre de la Massue. A opção por uma estética que define como minimalista tem a ver com a perda de sensibilidade nas relações cotidianas. Para o artista, deve-se prestar mais atenção a um caracol na parede do que às estatísticas econômicas dos discursos.