São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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"Escritor é personagem em extinção"

Italiano Alessando Baricco afirma que, no futuro, autores devem se aventurar em outros meios, e não ficar presos em livros

Escritor de 50 anos, que acaba de fazer o filme "Lezione 21", diz que ainda busca diferentes panoramas para sua obra literária

EDUARDO SIMÕES
ENVIADO ESPECIAL A PARATY

Um dos representantes da literatura propriamente dita numa Flip marcada pela presença de uma cineasta (a argentina Lucrecia Martel), uma psicanalista (a francesa Elisabeth Roudinesco) e um quadrinista (o inglês Neil Gaiman), o escritor italiano Alessando Baricco diz que uma das coisas interessantes da festa de Paraty é justamente o fato de que os livros não são vistos como um totem.
"Aqui trata-se, antes, do contar uma história, de se expressar e das técnica de narrar para diferentes meios. Isso é absolutamente bom", disse Baricco, um dos principais escritores contemporâneos de seu país.
"Quando comecei eu queria, é claro, escrever livros. Mas também para outros meios. E fiz teatro, cinema etc.", contou Baricco, que teve o monólogo "Novecentos" adaptado para o cinema por Giuseppe Tornatore, e que acaba de escrever e dirigir um filme, "Lezione 21", estrelado por John Hurt.
"Acho que, no futuro, escrever será assim. O escritor que faz livros apenas é um personagem em extinção".
Pela terceira vez no Brasil, Baricco lança no país "Sem Sangue" (Companhia das Letras). Seus livros "Esta História" e "Seda" também já saíram aqui. O escritor, que completou 50 anos em janeiro, conta que muitas coisas mudaram na Itália e na literatura do país desde que ele começou a publicar livros, no início da década de 90.
"Minha geração foi a primeira a crescer com televisão, com muita ficção sendo feita para a TV, mas ainda sem computadores. Agora, há uma nova geração, que cresceu com novas tecnologias, com a internet, e ela vem dando passos cada vez mais distantes da chamada tradicional literatura italiana. Não sei exatamente para onde. Mas há muitos escritores talentosos, um bom mercado livreiro. Fala-se que não se lê muito na Itália, mas não é verdade."

Mudanças
Baricco não se considera de uma "velha escola" de literatura italiana. Mas que se encontra no meio do processo. "O que tenho escrito tem a ver com o meu tempo agora. Talvez mude em 20 ou 25 anos. Ainda estou procurando diferentes panoramas para a minha literatura."
De Paraty, Baricco diz que vai levar para a Roma, onde vive, as memórias da cidade, que acha muito bela e curiosa. O espírito da Flip, diz, é semelhante ao de pequenos festivais que acontecem ao redor do mundo. "E eu talvez prefira assim do que grandes feiras de livros."
O escritor vem tomando notas do que observa no Brasil, especialmente as diferenças entre o comportamento dos brasileiros e de europeus. "Tenho muitas pequenas idéias anotadas destas viagens à América do Sul. Na minha última ida a São Paulo, sobretudo as pessoas me interessaram. Os brasileiros são tão diferentes de nós. Vocês jogam um outro jogo. Os movimentos são semelhantes, mas o tabuleiro é diferente."


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