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ARTES PLÁSTICAS
Dupla britânica alimenta hábitos estéticos inusitados e já prepara exposição prevista para abril de 2007
Gilbert e George levam suas estripulias à Tate Galery
CAROL VOGEL
DO "NEW YORK TIMES", EM LONDRES
Há mais de três décadas, Gilbert
e George vêm fazendo da irreverência sua profissão. Sua arte já
tratou de todos os tipos de política: econômica, social, sexual.
Combinando fotografia com performances, eles já destacaram a
pornografia, as doenças pandêmicas como a Aids, o teatro de revista e a escatologia.
Num dia recente de verão, vestindo ternos e gravatas quase
idênticos (hoje em dia, diferentemente do que faziam no início de
sua parceria, eles tomam o cuidado de nunca se vestirem de maneira exatamente igual), os artistas conseguiram servir um chá
preparado em sua cozinha -um
espaço que não tem fogão, geladeira ou pia, mas louça antiga suficiente para servir um jantar formal para 150 pessoas.
Como Cher, Halston ou Madonna, Gilbert e George dispensaram seus sobrenomes. Isso aconteceu depois que os dois se conheceram, em 1967, na St. Martin's
School of Art, em Londres. Gilbert
é o mais baixo e o mais falante dos
dois, enquanto George é mais alto, fuma sem parar e tem o hábito
de concluir as frases iniciadas por
Gilbert.
O estúdio deles é um espaço impecavelmente limpo cuja sala central é ocupada por uma grande
maquete das galerias do Tate Modern, para onde os artistas preparam uma retrospectiva prevista
para abrir em 2007.
No início de junho eles foram
alvo de todas as atenções em Veneza, onde todo o pavilhão britânico ficou repleto de sua nova série intitulada "Ginkgo Pictures".
Usando sofisticadas técnicas de
edição digital, Gilbert e George
produziram 25 quadros, cada um
incorporando imagens das folhas
de uma árvore ginkgo, símbolo da
vida. Como já fizeram no passado, os artistas incorporam-se às
obras em várias poses, fazendo
caretas.
O trabalho de Gilbert e George
já entrou e saiu de moda várias vezes ao longo da carreira deles.
Agora, ao que parece, eles estão
vivendo mais uma fase de alta,
tanto assim que vêm vendendo
trabalhos que passaram anos sem
despertar o interesse de ninguém.
Atitude e originalidade
Os dois começaram a carreira
como artistas performáticos em
redutos londrinos como o Frank's
Sandwich Bar. Quando foram excluídos de "When Attitude Becomes Form", uma mostra da nova
arte conceitual realizada no Instituto de Arte Contemporânea, em
Londres, eles retaliaram pintando
suas próprias cabeças, vestindo
ternos e ficando imóveis no centro da galeria na noite de abertura
da mostra. Chamaram a atenção
das pessoas a tal ponto que um
marchand alemão, Konrad Fischer, imediatamente lhes ofereceu montar uma exposição na
Düsseldorf Kunsthalle.
No momento, Gilbert e George
estão voltados exclusivamente à
retrospectiva que terá lugar na
Tate. Diferentemente da maioria
dos artistas britânicos vivos, cujo
principal local de exposição é a
Tate Britain, Gilbert e George vão
mostrar seu trabalho na Tate Modern. "Arte é arte", disse Gilbert.
"Não dá para ter os artistas ingleses de um lado e os outros do outro lado." Ele disse que a exposição é fruto de três anos de negociações. Num primeiro momento,
os curadores queriam montar a
retrospectiva na Tate Britain. Mas
os artistas se recusaram, então sir
Nicholas Serota, diretor da Tate,
cedeu, embora a contragosto.
"Há uma série de instituições
muito boas que trabalham com
artistas nacionais", disse sir Nicholas. "Veja o caso da Whitney."
Ele observou, também, que Gilbert e George não serão os primeiros artistas britânicos cuja obra já
foi exposta na Tate Modern.
Anish Kapoor e Rachel Whiteread são outros dois exemplos.
O ambiente espartano do estúdio forma um contraste com a
parte residencial da casa, repleta
dos frutos de décadas de atividade
colecionadora séria. Sobre cada
piso se vêem exemplos do melhor
das obras de dois movimentos
britânicos do século 19, o movimento estético e o movimento
"Arts and Crafts" (arte e artesanato). Também são donos de uma
biblioteca ampla e catalogada de
livros sobre sexo.
Eles habitam um mundo autocontido. Fazem todas suas refeições fora de casa. Quando estão
trabalhando para cumprir um
"deadline", como aconteceu nos
quatro meses que levaram para
preparar-se para a Bienal de Veneza, eles não abrem nenhuma
correspondência nem atendem
ao telefone. Apenas cuidam do
trabalho imediato.
Será que se cansam um do outro? "Ainda não", disse Gilbert. "E
não faça aquela tradicional pergunta heterossexual: "E se um de
nós for atropelado por um ônibus, o que vai acontecer?'".
Mas o que vai acontecer, afinal?
"Não temos o que temer", ele respondeu. "Sempre atravessamos a
rua juntos."
Tradução de Clara Allain
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