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Novela ajuda na secularização da sociedade
DA SUCURSAL DO RIO
A TV, apesar de sua superficialidade, é um importante meio de informação para populações menos escolarizadas. É por
meio dela que alguns assuntos, pouco presentes
no cotidiano de alguns, são
comentados. Ela tem também contribuído para um
processo de secularização
da sociedade brasileira,
mas sua influência é limitada por filtros individuais
e é mais visível quando se
trata de valores mais voláteis ou efêmeros.
Essas foram algumas
das conclusões de um estudo realizado durante a
exibição da novela "O Rei
do Gado" (1996). Por meio
de entrevistas e grupos de
discussão realizados pelo
Centro de Desenvolvimento e Planejamento
Regional da UFMG em
três localidades do Brasil
-uma favela em São Paulo, uma cidade do interior
do Rio Grande do Norte e
um município do interior
de Minas-, foi possível
identificar nos telespectadores de que maneira as
mensagens da TV influenciavam seu cotidiano.
A pesquisa mostrou que
determinados assuntos
são comentados principalmente por causa da TV.
Foi perguntado, por
exemplo, se os moradores
já tinham ouvido falar de
homossexualidade. Entre
os que responderam sim, a
principal fonte apontada
foi a TV. Isso não significa
que os valores sejam afetados de forma imediata.
"A TV tem impacto imediato em atitudes e opiniões mais efêmeras, como opiniões sobre vestuário, gírias, bijuterias, músicas etc. Isso atinge uma
grande massa, mas é muito volátil e pouco duradouro. Na área de valores e
comportamentos, o impacto é menos direto", diz
Eduardo Rios-Neto, um
dos autores da pesquisa.
Outras realidades
Rios-Neto explica que
boa parte da influência da
TV é no sentido de dar conhecimento sobre situações pouco presentes no
cotidiano de alguns. "As
pessoas de uma determinada área, principalmente
aquelas de baixa escolaridade, aprendem com as
tramas mostradas na TV,
"scripts" de como é o mundo dos outros -ricos ou
gente das grandes cidades.
Estas informações servem
de repertório para que eles
se posicionem diante de
situações externas".
Paula Miranda-Ribeiro,
que também participou da
pesquisa, acrescenta que a
audiência não é passiva.
"Todos assistem ao mesmo programa, mas cada
telespectador decodifica a
mensagem de acordo com
a sua bagagem."
Para Rios-Neto, o apelo
ao consumo e ao hedonismo presente na TV tem
um papel transformador
ao enfatizar a autonomia
individual. "O romantismo e a fantasia são libertadores porque permitem o
sonho, e no sonho você
transgride. Muitos intelectuais consideram o pop
e o kitsch como elementos
alienantes das massas,
mas outros, nos quais me
incluo, consideram que este prazer aparentemente
grotesco é democrático e
transformador. Esse sonho permite quebra de tabus, como os da religiosidade e sexualidade."
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