São Paulo, domingo, 06 de agosto de 2006

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Novela ajuda na secularização da sociedade

DA SUCURSAL DO RIO

A TV, apesar de sua superficialidade, é um importante meio de informação para populações menos escolarizadas. É por meio dela que alguns assuntos, pouco presentes no cotidiano de alguns, são comentados. Ela tem também contribuído para um processo de secularização da sociedade brasileira, mas sua influência é limitada por filtros individuais e é mais visível quando se trata de valores mais voláteis ou efêmeros.
Essas foram algumas das conclusões de um estudo realizado durante a exibição da novela "O Rei do Gado" (1996). Por meio de entrevistas e grupos de discussão realizados pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG em três localidades do Brasil -uma favela em São Paulo, uma cidade do interior do Rio Grande do Norte e um município do interior de Minas-, foi possível identificar nos telespectadores de que maneira as mensagens da TV influenciavam seu cotidiano.
A pesquisa mostrou que determinados assuntos são comentados principalmente por causa da TV. Foi perguntado, por exemplo, se os moradores já tinham ouvido falar de homossexualidade. Entre os que responderam sim, a principal fonte apontada foi a TV. Isso não significa que os valores sejam afetados de forma imediata.
"A TV tem impacto imediato em atitudes e opiniões mais efêmeras, como opiniões sobre vestuário, gírias, bijuterias, músicas etc. Isso atinge uma grande massa, mas é muito volátil e pouco duradouro. Na área de valores e comportamentos, o impacto é menos direto", diz Eduardo Rios-Neto, um dos autores da pesquisa.

Outras realidades
Rios-Neto explica que boa parte da influência da TV é no sentido de dar conhecimento sobre situações pouco presentes no cotidiano de alguns. "As pessoas de uma determinada área, principalmente aquelas de baixa escolaridade, aprendem com as tramas mostradas na TV, "scripts" de como é o mundo dos outros -ricos ou gente das grandes cidades. Estas informações servem de repertório para que eles se posicionem diante de situações externas".
Paula Miranda-Ribeiro, que também participou da pesquisa, acrescenta que a audiência não é passiva. "Todos assistem ao mesmo programa, mas cada telespectador decodifica a mensagem de acordo com a sua bagagem."
Para Rios-Neto, o apelo ao consumo e ao hedonismo presente na TV tem um papel transformador ao enfatizar a autonomia individual. "O romantismo e a fantasia são libertadores porque permitem o sonho, e no sonho você transgride. Muitos intelectuais consideram o pop e o kitsch como elementos alienantes das massas, mas outros, nos quais me incluo, consideram que este prazer aparentemente grotesco é democrático e transformador. Esse sonho permite quebra de tabus, como os da religiosidade e sexualidade."


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