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8ª FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATY
Autor israelense revê "promessas de um velho mundo"
Abraham Yehoshua divide mesa com iraniana Azar Nafisi e diz que existência judaica só pode ser plena em Israel
Sionista, ele afirma que pode "queimar a Bíblia e continuar sendo judeu" e questiona afã do Irã para ter a bomba
ROBERTO KAZ
ENVIADO ESPECIAL A PARATY
Quando indagado sobre os
motivos simbólicos que o levaram a escrever sobre um
poço de elevador onde o vento emite uivos, o israelense
Abraham.B Yehoshua foi
pragmático: "É o elevador do
meu prédio, em Tel-Aviv. Os
vizinhos ficaram felizes
quando escrevi sobre ele".
Autor de "Fogo Amigo"
(Cia. das Letras, tradução de
Davy Bogomoletz), Yehoshua divide, hoje, a mesa
"Promessas de um Velho
Mundo", às 17h15, com a iraniana Azar Nafisi. Na pauta
está o objetivo de discutir "o
papel da literatura como caminho para um diálogo entre
as culturas em conflito".
Aos 73 anos, Yehoshua diz
saber que a literatura tem um
poder lento e limitado de mudança. Por isso, além de escrever, ele costuma palestrar, em diversos países, para
promover o ideal sionista
(que defende o retorno dos
judeus a Israel).
Foi em um desses discursos, nos EUA, que Yehoshua
lançou a máxima: a de que
uma existência judaica só
pode ser completa se vivida
em Israel. "Se não", disse à
Folha, "é como um homem
que ama sua mulher, mas
prefere viver sozinho. Se você a ama, case-se".
JUDEU NÃO RELIGIOSO
Embora exagerado quanto
ao que chama de "plena
identidade judaica", Yehoshua carrega uma estranha
ambiguidade: não é religioso. "Antes de o Estado de Israel ser fundado, os judeus
não tinham um componente
nacionalista. Por isso, toda
energia se voltou para a religião. Agora não, temos um
país, uma língua. Posso queimar a bíblia e continuar sendo judeu. A religião é apenas
um dos nossos legados", diz.
Ele não é o primeiro israelense convocado à Flip para
tratar de política. Há três
anos, Amos Oz veio a Paraty
para pensar "o papel da literatura na luta contra a injustiça". Yehoshua concorda
que o contexto de guerras de
seu país serve como garoto-propaganda: "Não somos
publicados apenas por isso,
mas ajuda. Quando a literatura sul-americana era muito
popular, se devia à qualidade da escrita de alguém como
Borges aliada às disputas civis na Argentina da época".
Ultimamente, todavia, ele
anda mais interessado nos
meandros da engenharia mecânica: o elevador de seu prédio ainda não foi consertado.
Veja os principais trechos
de sua entrevista
Folha - Como é possível ser
sionista e ateu ao mesmo
tempo?
Abraham B. Yehoshua -
Um francês pode escolher se
é católico e um americano
pode escolher se é protestante. Mas quanto ao israelense,
costuma-se colocar nacionalidade e religião na mesma
palavra. Os fundadores do
sionismo eram intelectuais.
Judeus não são uma religião,
mas um povo. Sou a favor do
retorno dos judeus, só isso.
Como é vir ao país após a visita de nosso presidente ao Irã?
Se Lula estiver se aproximando do Ahmadinejad para moderar o país, serei o primeiro a dar as boas vindas.
Me pergunto por que os iranianos precisam de bomba
atômica. Se eles jogam em
Tel-Aviv, Israel acaba. Não
entendo a obsessão deles,
pois nem sequer temos fronteiras em comum. E ninguém
de Israel os está ameaçando.
Qual é o contexto político que
marca a nova geração de escritores em Israel?
As novas gerações não lidam muito com política. Preferem falar de amor. Os jovens escritores não estão tão
interessados em enxergar
um panorama abrangente.
CARLOS HEITOR CONY
Excepcionalmente hoje não
é publicada a coluna.
AMANHÃ NA ILUSTRADA:
Antonio Cicero
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