São Paulo, sexta-feira, 06 de agosto de 2010

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8ª FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATY

Autor israelense revê "promessas de um velho mundo"

Abraham Yehoshua divide mesa com iraniana Azar Nafisi e diz que existência judaica só pode ser plena em Israel

Sionista, ele afirma que pode "queimar a Bíblia e continuar sendo judeu" e questiona afã do Irã para ter a bomba


ROBERTO KAZ
ENVIADO ESPECIAL A PARATY

Quando indagado sobre os motivos simbólicos que o levaram a escrever sobre um poço de elevador onde o vento emite uivos, o israelense Abraham.B Yehoshua foi pragmático: "É o elevador do meu prédio, em Tel-Aviv. Os vizinhos ficaram felizes quando escrevi sobre ele".
Autor de "Fogo Amigo" (Cia. das Letras, tradução de Davy Bogomoletz), Yehoshua divide, hoje, a mesa "Promessas de um Velho Mundo", às 17h15, com a iraniana Azar Nafisi. Na pauta está o objetivo de discutir "o papel da literatura como caminho para um diálogo entre as culturas em conflito".
Aos 73 anos, Yehoshua diz saber que a literatura tem um poder lento e limitado de mudança. Por isso, além de escrever, ele costuma palestrar, em diversos países, para promover o ideal sionista (que defende o retorno dos judeus a Israel).
Foi em um desses discursos, nos EUA, que Yehoshua lançou a máxima: a de que uma existência judaica só pode ser completa se vivida em Israel. "Se não", disse à Folha, "é como um homem que ama sua mulher, mas prefere viver sozinho. Se você a ama, case-se".

JUDEU NÃO RELIGIOSO
Embora exagerado quanto ao que chama de "plena identidade judaica", Yehoshua carrega uma estranha ambiguidade: não é religioso. "Antes de o Estado de Israel ser fundado, os judeus não tinham um componente nacionalista. Por isso, toda energia se voltou para a religião. Agora não, temos um país, uma língua. Posso queimar a bíblia e continuar sendo judeu. A religião é apenas um dos nossos legados", diz.
Ele não é o primeiro israelense convocado à Flip para tratar de política. Há três anos, Amos Oz veio a Paraty para pensar "o papel da literatura na luta contra a injustiça". Yehoshua concorda que o contexto de guerras de seu país serve como garoto-propaganda: "Não somos publicados apenas por isso, mas ajuda. Quando a literatura sul-americana era muito popular, se devia à qualidade da escrita de alguém como Borges aliada às disputas civis na Argentina da época".
Ultimamente, todavia, ele anda mais interessado nos meandros da engenharia mecânica: o elevador de seu prédio ainda não foi consertado. Veja os principais trechos de sua entrevista

Folha - Como é possível ser sionista e ateu ao mesmo tempo?
Abraham B. Yehoshua
- Um francês pode escolher se é católico e um americano pode escolher se é protestante. Mas quanto ao israelense, costuma-se colocar nacionalidade e religião na mesma palavra. Os fundadores do sionismo eram intelectuais. Judeus não são uma religião, mas um povo. Sou a favor do retorno dos judeus, só isso.

Como é vir ao país após a visita de nosso presidente ao Irã?
Se Lula estiver se aproximando do Ahmadinejad para moderar o país, serei o primeiro a dar as boas vindas. Me pergunto por que os iranianos precisam de bomba atômica. Se eles jogam em Tel-Aviv, Israel acaba. Não entendo a obsessão deles, pois nem sequer temos fronteiras em comum. E ninguém de Israel os está ameaçando.

Qual é o contexto político que marca a nova geração de escritores em Israel?
As novas gerações não lidam muito com política. Preferem falar de amor. Os jovens escritores não estão tão interessados em enxergar um panorama abrangente.


CARLOS HEITOR CONY
Excepcionalmente hoje não é publicada a coluna.



AMANHÃ NA ILUSTRADA:
Antonio Cicero




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