São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2004

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MÚSICA

Compositor escocês lança seu novo CD, "Grown Backwards", e se apresenta em três capitais brasileiras; hoje no Rio

Byrne canta guerras norte-americanas

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REDAÇÃO

Mais do que uma cabeça pensante, David Byrne é um corpo em movimento. De suas andanças pelos EUA, foi recolhendo histórias de pessoas comuns. No meio do caminho, viu duas guerras: uma delas "movida pela vingança"; a outra, "para consolidar interesses petrolíferos".
Essa é a base de "Grown Backwards", mais recente CD do artista multimídia escocês. Seu novo itinerário é o Brasil, onde se apresenta hoje no Rio, amanhã em São Paulo e sábado em Porto Alegre.
Byrne, que fez história na Nova York do final dos anos 70 com o grupo Talking Heads, está em um momento particularmente inspirado. "Grown" é um disco conciliador. Consegue abarcar desde a sua faceta atual, a do pesquisador de sons latinos e africanos, até o pop esquizofrênico do TH. No meio do caminho, faz inusitadas versões para árias de Verdi e Bizet.
A política, no entanto, é o que fala mais alto. No mês passado, tocou em Nova York com o ministro da Cultura, Gilberto Gil, em show em defesa do software livre. A idéia é buscar formas alternativas de registro e recolhimento de direitos autorais.
Na mesma apresentação, cantou "Road to Nowhere" (sucesso do TH) e fez alusões à convenção republicana. Mas será que ele realmente acha que os EUA estão em uma "estrada que vai dar em nada"? "Se a América continuar da maneira que está, sim. O sistema de educação está piorando, os custos da gasolina estão aumentando... Durante décadas, os EUA eram o país que mais desenvolvia novas tecnologias e idéias; agora, eles não colocam muito dinheiro nisso e podem colocar tudo a perder", diz em entrevista à Folha.
O tom crítico de parte das canções de "Grown" e a aproximação com o ministro não o inspiram, no entanto, a tentar uma carreira política. "Acho que Gil consegue fazer isso muito bem; não acho que eu poderia. Política é, por natureza, um ato de conciliações e negociações."
Se, na música, Byrne é um intenso pesquisador dos sons brasileiros, na política, apenas vê a superfície. "Leio jornais e pergunto para amigos se o que está lá é verdade ou se é tudo distorção dos norte-americanos. Não é suficiente ter apenas grandes idéias. Continuo otimista, sei que Lula está no poder há mais ou menos o mesmo tempo que Bush, e eu penso: "Deus, que diferença"."

Arnaldo Baptista
Já o Byrne artista anda ocupado. Essa é uma das justificativas para explicar a razão do desinteresse de seu selo, Luaka Bop, pelo novo disco do ex-Mutantes Arnaldo Baptista. O fato chama a atenção já que, durante os anos 90, Byrne ficou conhecido como o principal divulgador de artistas como Tom Zé nos EUA.
"Eu estava um pouco cansado de ser o homem de negócios do Luaka Bop, então deixei o meu sócio tomar as decisões. É uma companhia pequena, com recursos limitados, e agora eles estão investindo no disco do Domenico", afirma o cantor.
Mas, se você é daqueles que acham que o Byrne legal mesmo era da época do Talking Heads, vá tranqüilo ao show. Em apresentações recentes, ele tem tocado músicas como "Psycho Killer", "I Zimbra" e "Once in a Lifetime" em versões modificadas, "com mais cordas".


DAVID BYRNE. Em São Paulo: amanhã, às 22h, no Tom Brasil (r. Bragança Paulista, 1.281, SP, tel. 0/xx/ 11/2163- 2100). Quanto: R$ 60 a R$ 120. No Rio: hoje, às 21h30, no Canecão (av. Wenceslau Brás, 215, tel. 0/xx/21/2105-2000). De R$ 40 a R$ 70. Em Porto Alegre: 9/10, às 21h, no teatro do Sesi (av. Assis Brasil, 8.787). De R$ 65 a R$ 125.


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