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CINEMA - ESTRÉIAS
O furacão Ricci passa por "O Oposto do Sexo"
LÚCIO RIBEIRO
Editor interino da Ilustrada
Em uma corruptela do termo cinematográfico "filme de autor", é
apropriado classificar "O Oposto
do Sexo" como um autêntico "filme de ator". Ou melhor, "de atriz".
A teen Christina Ricci leva nas costas a produção de estirpe independente que estréia hoje no Brasil.
Ricci não é mole, não. Já é a garota da hora na América dos filmes,
capa de revista descolada aqui e ali,
presença destacada em meia-dúzia
de produções recém-estreadas ou
por estrear, entre elas "Fear and
Loathing in Las Vegas" (livro filmado do visionário e "lesado" escritor Hunter Thompson) e "Buffalo 66", dirigido pelo ator, modelo, pintor e músico Vincent Gallo.
Precisa de pouco mais de dois
minutos de "O Oposto do Sexo"
para perceber por que Hollywood
tem um belo espinho na garganta.
Ricci vem na contramão das novas atrizes que costumam passear
pelo Santa Monica Boulevard, em
LA. Espécie de Courtney Love da
geração Sundance, não é uma das
muitas belezocas egressas dos seriados de TV. Gordinha, cara estranha e emburrada, Ricci vive dizendo que no dia em que sentir que
está parecendo uma dessas atrizes
hollywoodianas "normais" ela vai
se achar uma otária.
Introdutório feito, o filme então.
"O Oposto do Sexo" é uma comédia das boas sobre Dedee, menina
que à luz de seus 16 anos se enche
de sua cidade natal, abandona a
mãe e resolve passar uns tempos
como o meio-irmão gay Bill (o bacana Martin Donovan, ator predileto do diretor cult Hal Hartley).
Encrenca das grandes. Em minutos, Dedee vira para o avesso a vida
estável de Bill, seduz o namorado
bissexual dele, azucrina a reprimida Lucia (Lisa Kudrow, de
"Friends"), se envolve com roubo,
assassinato, gravidez.
O imbróglio todo de "O Oposto
do Sexo" vem embalado pela divertida narração em off de Dedee,
que destila da primeira à última cena seu parecer sobre as vertentes
sexuais (os gays são o alvo predileto) e inclusive comentários sobre o
roteiro do próprio filme.
Não perdendo de vista que Dedee é uma adolescente, as intervenções dela sobre sexo, família,
preconceitos, sensibilidade são divertidas. Impagável seu comentário venenoso logo após a cena em
que seu irmão beija o namorado.
Este delicioso "O Oposto do Sexo" cai bem como comédia de humor negro, road movie, filme de
apelo sexista e até mesmo terror,
dependendo do ponto de vista de
quem foca o personagem de Ricci.
A ótima história do filme é escrita pelo roteirista-que-virou-diretor Don Roos, figura indie que pega a câmera pela primeira vez.
É brilhante a idéia de colocar Dedee para narrar o filme, fato muito
mais subversivo do que mostrar
simplesmente a história de uma
teen peralta. Você nunca sabe se
Dedee está contando a trama como
realmente está acontecendo ou
"maquiando" a seu modo. Não raro no filme, ela retorna com seus
comentários em off, para mudar
de idéia sobre algo que já fez parte
de sua narrativa e que de certa forma deu condução à trama.
Para quem pensou que já tinha
visto tudo sobre "bad girls" com
Alicia Silverstone, Jennifer Jason
Leigh e Drew Barrymore, "O Oposto do Sexo" apresenta a vamp
Christina Ricci, a mais bem-acabada Lolita deste fim de século. É o
primeiro filme destes tempos a
mostrar cenas devastadoras de um
furacão sem usar efeitos especiais.
²
Filme: O Oposto do Sexo
Produção: EUA, 1998
Direção: Don Roos
Com: Christina Ricci, Martin Donovan, Lisa
Kudrow, Lyle Lovett
Quando: a partir de hoje, nos cines Top Cine
1, Center Iguatemi 1 e circuito
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