São Paulo, sexta, 6 de novembro de 1998

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TELEVISÃO - ARTIGO
Teleteatro, "arte' popular

TELMO MARTINO
Colunista da Folha

² Às terças, no SBT, um breve momento para limpar os olhos ou mesmo a alma com um pouco de arte. É o que se deduz com a apresentação desse "Teleteatro", antes do Jô Soares conversar com os novos eleitos. Arte? Louca ilusão. Dramalhão.
A telepeça se chama "A Vingança", de Marissa Garrido, na tradução de Creyton Sarzy. Mas, como dizia Shakespeare, o que existe num nome? Tudo o que se desconfia. A atriz principal é Joana Fomm há muito restrita, com sua cabeça de melão, aos papéis de mulheres tão más que sempre azeda ainda mais tudo o que tem para dizer.
Aqui ela é mulher que de tanto lavar chão ficou milionária. Baú da felicidade? Talvez. No mato, que outras possibilidades para uma mulher trocar o esfregão pelo milhão?
No momento exato em que começa o teleteatro, Josefina Fomm está cobrando dinheiro do Osmar Prado (ator de todos os endereços). Ele não pode pagar por problemas com a colheita. "Então deixa sua filha casar com meu filho." Esse é um antigo sonho da nova-rica. Casar o filho na aristocracia rural.
Só que o filho (Delano Avelar) está todo feliz, em São Paulo, casadinho com a Suzy Rêgo e seus olhos grandes e bonitos.
Atendendo a um chamado de sua mãe, o filho vai até o mato com a mulher. Joana Fomm só não perde o rebolado porque esse já se perdeu pelos idos da Chiquita Bacana. Mas rica como ela só, não precisa rebolar. Vai de fúria mesmo, dando prosseguimento aos planos de casar o filho com a aristocrática Branca (Bete Coelho). "Ele me dará a separação assim que eu quiser."
Delírios de milionária podem tudo. Delírios? Enojada da perversa poderosa, a Suzy Rêgo volta para casa. Um telefonema interceptado pela mãe megera não deixa que o filho saiba que a fujona está grávida. Má, mas tola. O filho acaba sabendo. "Você será uma mulher para sempre solitária, tendo apenas a companhia de seus milhões."
Com o bebê nascido e já bochechudo, a campainha toca. É a mãe desnaturada pedindo perdão ao filho e nora e suplicando para que deixem ela segurar o neto nos braços. Muito desconfiado, o bochechudo consente.
Final emocionante? Pelo aplauso ouvido em todas as dependências de empregadas dos prédios do bairro, foi um final emocionante. "Teleteatro" é "arte" popular. Como ouro que se parte nos dentes de uma cigana.



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