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"Associei cada monstro a uma emoção"
O diretor Spike Jonze fala do processo de criação de seu novo longa-metragem, que estreia em SP na semana que vem
Em entrevista à Folha, norte-americano diz que fez um filme sobre a infância, mas não para ser visto apenas por crianças
DO ENVIADO A LOS ANGELES
Spike Jonze, 40, teve dois
grandes desafios na adaptação de "Onde Vivem os Monstros".
O primeiro foi transformar 30
páginas e meia dúzia de frases
em um longa de 101 minutos. O
segundo foi inventar um processo para criar monstros que não parecessem fantoches.
Isso incluiu muita computação gráfica (para fazer os rostos, originalmente parados, demonstrarem emoções). Mas além da tecnologia, Jonze filmou sete atores (como James Gandolfini e Forest Whitaker)
interpretando a história num palco. Depois, filmou as cenas
com novos atores vestidos com as fantasias, guiados pelas vozes previamente gravadas.
Assim, as vozes no palco são
as que estão no filme, mas os
atores que vemos não são os donos das vozes. "Eu não sei.
Foi uma enorme.... loucura", falou Jonze à Folha.
(IF)
FOLHA - Nunca tinha ouvido falar
desse livro. Quantos anos você tinha
quando o leu?
SPIKE JONZE - É, fora dos Estados Unidos acho que não é mesmo conhecido. Não sei exatamente. Provavelmente três,
quatro ou cinco anos quando
minha mãe leu para mim. A essa altura, tenho falado tanto dele que minhas memórias ficaram muito confusas.
FOLHA - E por que esse interesse 30 anos depois do primeiro contato?
JONZE - É uma boa pergunta.
Sabe, tudo o que você faz, você
faz porque naquele ponto da
sua vida é isso que você é. Não
sei exatamente por quê, talvez
isso se torne claro mais tarde.
FOLHA - No livro original, os monstros não têm personalidade, quer dizer, eles nem sequer falam. No filme, além de criar novas situações, cada um deles tem uma personalidade específica e nomes também.
JONZE - É, eles não têm nomes,
não falam. A primeira ideia que
me fez ter alguma confiança de
que conseguiria foi associar cada um dos monstros a uma
emoção.
FOLHA - Emoções?
JONZE - É... Eu acho que sim
(risos). Sabe, a essa altura eu já
repeti isso tantas vezes a atores,
colaboradores, produtores, jornalistas, que eu não sei se acredito nisso mais. Eu acreditava
há cinco anos, quando comecei
a adaptar o livro.
FOLHA - Pode dar o exemplo de qual dos monstros é qual emoção?
JONZE - Eu já falei demais sobre esse assunto, estou enlouquecendo, eu vou matá-lo [pega
um copo, finge que quebra na
ponta da mesa e ataca a garganta do repórter].
FOLHA - Por que não usou os próprios atores nas fantasias?
JONZE - Pareceu pouco prático
contratá-los para estar nas fantasias.... a) não era necessário;
b) não era prático; c) eles não tinham os tamanhos certos. Precisávamos de suas ideias, suas
vozes, da criação dos personagens. Eu não sei. Foi uma enorme.... loucura. Os atores nas
fantasias interpretaram os personagens. Eles assistiam ao videoteipe de Forest Whitaker
ou James Gandolfini, viam o
que eles faziam em determinados momentos e traduziam isso
para essa nova forma monstruosa.
FOLHA - É um filme para crianças?
JONZE - Sim. Não muito pequenas. Talvez seja muito forte para crianças de três ou quatro
anos. A história é sobre um garoto de oito, então acho que há
coisas ali com as quais um garoto de oito anos pode lidar, mas
um menor talvez não possa.
FOLHA - Mas você diria que também é um filme para adultos ou serve apenas para levar os filhos?
JONZE - Eu não fiz para um garoto de oito anos, e sim sobre
um. Fiz a partir do que tinha
dentro de mim.
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