|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMIDA
de volta para casa
Estudos apontam tendências da gastronomia para 2010: a cozinha de vanguarda sai de moda, e a comida simples e caseira entra em alta; cinco chefs brasileiros elegem ingredientes como bananas e feijões para o ano
CRISTIANA COUTO
COLABORAÇÃO PARA FOLHA
A cozinha de vanguarda
perderá terreno, e o cupuaçu
é a fruta da vez em 2010. Essas são algumas das modas
gastronômicas previstas em
estudos recentes e independentes feitos por empresas
internacionais, especializadas em avaliar tendências de
mercado.
A companhia inglesa The
Food People identificou o
que caiu de moda e o que vai
ser sucesso a partir deste
ano. A alta cozinha de Ferran
Adrià, por exemplo, está em
baixa. "Isso não significa que
ela irá desaparecer, mas sim
que a cozinha mais simples e
com menos intervenções
provavelmente será mais
"trendy'", diz o diretor Charles Banks (leia ao lado outras
tendências globais).
Para o mercado norte-americano, analistas da
Mintel identificaram seis sabores-chave: cupuaçu, cardamomo, batata-doce, hibisco, água de rosas e condimentos latinos, como o
coentro. Esses ingredientes
se inserem num contexto de
crise global, que reforçou o
hábito de comer em casa. "A
cozinha caseira está se aperfeiçoando conforme homens
e mulheres testam novos
temperos e sabores e preparam itens diários de outras
maneiras", diz Lynn Dornblaser, especialista em novos
produtos da empresa.
Também refletem a preocupação cada vez maior com
alimentos saudáveis. O cupuaçu, identificado como "a
próxima superfruta", tem
como maiores atrativos, segundo o estudo, mais de dez
vitaminas e antioxidantes,
além de ácidos graxos e aminoácidos essenciais.
Além da versatilidade, a
batata-doce é a nova aposta
entre os alimentos funcionais, pelo alto teor de fibras,
betacaroteno e vitaminas. "É
um ingrediente do nosso dia
a dia ainda pouco explorado", avalia a chef Roberta
Sudbrack. "Suas possibilidades de sabor, do preparo defumado ao cremoso, são sensacionais."
Na esteira dessas previsões, Roberta e outros quatro chefs de cozinha brasileira -Rodrigo Oliveira, Beto
Pimentel, Carlos Ribeiro e
Mara Salles- elegeram um
ingrediente ou um sabor no
qual apostam suas fichas em
2010. Se em 2009 brilharam
o mangarito, a priprioca e o
queijo da serra da Canastra,
nos próximos meses será a
vez das favas e dos feijões,
das farinhas, das bananas e,
também, do coentro.
APOSTAS DO BRASIL
Feijões e favas
"Estamos descobrindo que o nosso feijão é mais do que o preto e o carioquinha. Estou testando feijões que estouram como pipoca, fazendo purês, saladas, farofas e cozidos. Feijões e favas são saudáveis, nutritivos, baratos e versáteis. Neste ano, quero servir um purê de fava-branca cozida no leite e finalizada com manteiga"
Rodrigo Oliveira, do restaurante Mocotó (São Paulo)
Farinha de Uarini
"Essa farinha-d'água [da mandioca
fermentada] é produzida na região de Uarini, no Amazonas. Tem uma
acidez particular e é feita
por um processo artesanal complexo. Na nossa interpretação do chibé [bebida cabocla feita com farinha-d'água e água], juntei outros aromas (coentro e pimentas frescas amazônicas) e água gelada à farinha. Servido na cuia, tem um apelo extraordinário e apropriado para esse clima quente"
Mara Salles, do restaurante Tordesilhas (São Paulo)
Flor de coentro-selvagem
"A flor do coentro-selvagem tem um gosto forte e intenso. Gosto de usá-la no meu pesto 'baianês', que leva azeite, a flor machucada, manjericão, gengibre e, no lugar do pinoli, uso o licuri [fruto da palmeira Syagrus coronata], além de uma pimenta híbrida, mais cheirosa que a biquinho. Esse molho, com mais flor e menos manjericão, fica inigualável em peixes"
Beto Pimentel, do restaurante Paraíso Tropical (Salvador) Coentro
"É a 'lavanda do Nordeste'. Além de bonito para finalizar pratos, é delicado quando bem usado. Tenho feito algumas pesquisas com coentro em outras receitas que não o peixe, como em temperos de carnes vermelhas, aves e arroz. Neste mês, quero lançar minha torta capixaba ao perfume de coentro"
Carlos Ribeiro, do restaurante Na Cozinha (São Paulo)
Bananas
Neste ano, vamos nos debruçar sobre as bananas para entender sua composição, da casca à sementinha. Já conseguimos explorar seu açúcar no auge. Isso, com sua gelatina suntuosa e delicada, nos possibilitou preparar um sorvete artesanal sem adição de açúcar. O resultado é de uma pureza e cremosidade ímpares. Mas isso é só o começo
Roberta Sudbrack, do restaurante Roberta Sudbrack (Rio de Janeiro)
TENDÊNCIAS GLOBAIS
Combinações clássicas, ingredientes simples e locais
"Comfort food" (coq au vin, lasanha) Já anunciada como tendência, vai
permanecer como uma contrapartida
à gastronomia de vanguarda
Comida étnica (nos cardápios americanos)
Depois das cozinhas mexicana, chinesa
e italiana, é a vez de focar em regiões
específicas, como a Toscana e a Carolina
do Norte, e em países mais exóticos, como
o Brasil e o Marrocos
"Digital food" Lanches pedidos via SMS; petiscos entregues via
correio; guia de restaurantes em celulares
Várias cozinhas serão modernizadas e interpretadas: cozinha de bistrô, africana,
escandinava e coreana
Novas variedades de peixes, que não estejam sob ameaça de extinção, como a tilápia
no lugar de bacalhau e hadoque Fontes: Mintel e The Food People
Texto Anterior: Crítica/"Onde Vivem os Monstros": Diretor cria fábula a partir de fiapo de trama Próximo Texto: Crítica: Cezano emprega jovens de baixa renda para servir menu simples e simpático Índice
|