São Paulo, quinta-feira, 07 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NINA HORTA

Os bastidores da comilança


É, foram-se as festas. E muito bem. Como diz um amigo, "respira fundo que passa logo"


ACABOU! NO dia 6 os reis chegaram com os presentes para o Menino. Agora, agenda nova em folha, eletrônica ou não, arrumação de gavetas, lé com lé, cré com cré. Botar ordem na geladeira, jogar fora o curry tailandês do ano atrasado, o xarope de romã, os chutneys e geleias vencidos. Inspecionar as vitaminas não tomadas, a pílula para os olhos comprada na internet, um vinho pela metade, limpar todo o freezer por causa da garrafa que estourou lá.
E as velas e as bolas no lugar de sempre até o ano seguinte, caixas, aproveitar ou não, o baú de palha veio com uma cadeira dentro e mil presentes de comer, baú e cadeira vão morar na sala, e procurar a receita de massinha para fazer figuras de presépio que não foi achada dessa vez. Sei que é farinha, água e sal, mas esqueci as proporções.
Aliás, agora parece tudo bem, mas quase não teve ceia. Os acompanhamentos todos prontos, as entradas, reinava a calma. O camarão chegaria cru, está virando tradição por ser muito fácil de fazer, à provençal, fresquíssimo, mandado pelo Rogério, que tem sua casa de peixes na Penha. Onde está? Quem encomendou? Já era hora de fechar o comércio, correria daqui e dali, consegui falar com ele, que estava fazendo as compras de Natal com a mulher, no shopping. Não encomendaram, dona Nina. (Acredito. É um fornecedor impecável de peixe fresquíssimo.) Mas o que eu vou fazer, Rogério, se fosse só a família... Mas tem convidado desgarrado para animar o Natal, não posso falhar! E Rogério e a filha dele, Natália, fizeram as vezes de Papai Noel. E o camarão chegou de táxi, noite já caindo, grande, fresco, pujante, estalando fora das cascas.
E estava salva a ceia. Querem a receita? Bem, todo mundo deve saber, mas não custa espalhar mais.
Sabem que aquela tirinha escura do dorso que tiramos não são os intestinos do camarão, que estão na parte de baixo? A sua retirada é puramente estética. Bom, camarões limpos, frigideira quente, um pouco de manteiga e azeite. Acomodar os bichinhos de modo que não se sobreponham. Deixar três minutos. Virar o camarão, apagar o fogo e deixar mais três minutos. Vão ficar no ponto sozinhos. Se uma frigideira bastar, tudo bem, se não bastar, vá fazendo outras e juntando o camarão numa tigela. Agora, na frigideira, com o azeite do camarão, saltear um alho picado ou cortado em rodelas bem finas, por pessoa. Sal, a gosto, volte todos os camarões para a frigideira, bastante caldo de limão, sal e salsa picada.
Rápido! Experimente! Não pode dar água e começar a cozinhar.
(Provavelmente vai ter que aumentar o azeite a cada vez que dourar os camarões. Mas pouco.) Geralmente despeja-se o azeite dos camarões sobre o arroz, mexe-se e serve-se o camarão ao lado do arroz. Não faço mais isso, quem quiser que faça a sua mistura.
Mas não é de se animar um gesto desses na noite de Natal? O maravilhoso peixeiro que deixa suas compras de última hora, volta para seu negócio, acha um táxi e manda lá da Penha a minha desencomenda. Deu tudo certo graças a ele.
E outra coisa que me ocorreu.
Falamos muito em castanhas no Natal, mas conheço pouca gente que as usa. Só no recheio do peru, às vezes. São nossa raiz portuguesa, não podemos deixá-las de lado, quem perdeu o costume tem que se acostumar de novo. E ainda mais agora, que são vendidas descascadas e congeladas, pré-cozidas, é só acabar de cozinhá-las no leite e está aí um ingrediente que se presta às mil maravilhas para purês, ao lado de uma carne de porco, por exemplo. Sem contar castanha com açúcar, ah, o mais delicioso dos Mont Blancs...
É, foram-se as festas. E muito bem. Como diz um amigo, "respira fundo que passa logo".


ROGÉRIO PÁSSARO (atacadista)

Onde: r. Engenheiro Trindade, 87, Penha, tel. 0/xx/11/2641-4817

ninahorta@uol.com.br




Texto Anterior: Crítica: Cezano emprega jovens de baixa renda para servir menu simples e simpático
Próximo Texto: Vinho: Região de Toro, na Espanha, produz goles rubros vigorosos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.