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Obras para o Fórum das Culturas, evento cultural que acontecerá entre os dias 9 de maio e 26 de setembro, são a maior transformação urbanística da Europa hoje
Barcelona inacabada
IVAN PADILLA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BARCELONA
Uma nova Barcelona está nascendo entre a Vila Olímpica, área
litorânea da cidade projetada para
os jogos de 1992, e Sant Adrià de
Besòs, município operário limítrofe ao norte.
Trata-se da maior transformação urbanística da Europa neste
momento. No total, estão sendo
tocados 35 projetos, a um custo
total de 3 bilhões (mais de R$ 10
bilhões).
A intervenção tem por motivo o
Fórum das Culturas 2004, que
acontecerá entre os dias 9 de maio
e 26 de setembro deste ano. A
maioria das construções ainda está inacabada e o local destinado
ao evento (214 hectares, equivalente a 430 estádios de futebol) é
um canteiro de obras. Terminado
o Fórum, a cidade de Gaudí herdará a infra-estrutura construída.
Empresas privadas passarão a administrar a maior parte das instalações e a oferecer lazer e entretenimento a moradores e turistas.
O símbolo da reurbanização de
Barcelona é o prédio Fórum, um
edifício triangular coberto por espelhos azuis, com 125 m de cada
lado, 25 m de altura e uma cascata
de água reciclada no terraço.
Ao lado está sendo levantado o
Centro de Convenções Internacional de Barcelona (CCIB), um
enorme prédio coberto por lâminas de alumínio perfuradas. Com
67 mil metros quadrados e capacidade para 15 mil expectadores,
será o maior centro destinado a
congressos da Europa. Uma rampa subterrânea de 20 m de largura
irá interligar os dois edifícios. Já
estão agendados congressos nos
locais até 2007.
A maior parte das apresentações de música e espetáculos de
teatro acontecerá na praça Fórum. Com 14 hectares (quase 30
campos de futebol), será o segundo maior espaço público do mundo, depois da praça da Paz Celestial, em Pequim.
A construção do porto de Sant
Adrià também está em fase de finalização. Terá capacidade para
mil barcos de grande porte, além
de uma marina seca, local fora da
água destinado a embarcações de
até nove metros de comprimento.
Junto ao porto estarão situadas
duas novas praias artificiais. Devido às obras, a orla marítima irá
desaparecer. Assim, a costa será
de tombo, como se fosse uma
enorme piscina de água salgada.
Os banhistas poderão alcançar a
nado a ilha Pangea, também artificial, a 60 m de distância dali.
"Como não é uma capital de Estado, Barcelona sempre precisou,
historicamente, de desculpas para
desenvolver projetos de ampliação", disse à Folha o porta-voz do
Fórum, Oleguer Sarsanedas.
Em toneladas de cimento e investimento, o atual projeto se
aproxima ao realizado para os Jogos Olímpicos de 92. Naquela
ocasião, os projetos centraram-se
em zonas urbanas desenvolvidas,
como o bairro de Montjuic, onde
foi construído o Estádio Olímpico, e a área da Vila Olímpica, um
conjunto esportivo, gastronômico e comercial semelhante ao que
será o porto de Sant Adrià.
Desta vez, a intervenção acontece em algumas das áreas mais degradadas da cidade, como o bairro da Mina. "Essa área é um gueto, é a não-cidade, uma zona perdida de Barcelona; os turistas nem
sabem que existe. Com as obras, a
cidade ganha dimensão", afirma
um engenheiro da Infrastructures
del Llevant, empresa responsável
pelo planejamento do projeto.
Apesar do forte investimento,
os construtores correm contra o
tempo. Nem tudo está saindo
conforme o planejado. O zoológico marítimo, previsto para ocupar uma plataforma ao lado do
porto de Sant Adrià, não deve sair
tão cedo do papel de acordo com
a Infrastructures, devido a um
atraso na cessão do terreno por
parte da prefeitura.
Do orçamento total, cerca de
35% vem da prefeitura e dos governos regional e central. O resto é
investimento privado. Boa parte
do dinheiro público será destinada a projetos de geração de desenvolvimento sustentável, um dos
três eixos centrais do Fórum.
As águas do rio Besòs, até agora
bastante poluídas, estão sendo
tratadas, e uma usina de tratamento de lixo está sendo adaptada para reciclar até 280 t de papel,
plástico, metal e vidro por ano.
Da iniciativa privada, destaca-se
a construção de 12 novos hotéis,
todos de quatro estrelas para cima, num total de cerca de 2 mil
novas vagas. Será uma contribuição preciosa ao fluxo de turistas.
São esperados cerca de 5 milhões
de pessoas do mundo inteiro durante o evento. Assim é a nova
Barcelona culta, cosmopolita,
ecológica e chique.
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