São Paulo, domingo, 07 de março de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Obras para o Fórum das Culturas, evento cultural que acontecerá entre os dias 9 de maio e 26 de setembro, são a maior transformação urbanística da Europa hoje

Barcelona inacabada

IVAN PADILLA
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BARCELONA

Uma nova Barcelona está nascendo entre a Vila Olímpica, área litorânea da cidade projetada para os jogos de 1992, e Sant Adrià de Besòs, município operário limítrofe ao norte.
Trata-se da maior transformação urbanística da Europa neste momento. No total, estão sendo tocados 35 projetos, a um custo total de 3 bilhões (mais de R$ 10 bilhões).
A intervenção tem por motivo o Fórum das Culturas 2004, que acontecerá entre os dias 9 de maio e 26 de setembro deste ano. A maioria das construções ainda está inacabada e o local destinado ao evento (214 hectares, equivalente a 430 estádios de futebol) é um canteiro de obras. Terminado o Fórum, a cidade de Gaudí herdará a infra-estrutura construída. Empresas privadas passarão a administrar a maior parte das instalações e a oferecer lazer e entretenimento a moradores e turistas.
O símbolo da reurbanização de Barcelona é o prédio Fórum, um edifício triangular coberto por espelhos azuis, com 125 m de cada lado, 25 m de altura e uma cascata de água reciclada no terraço.
Ao lado está sendo levantado o Centro de Convenções Internacional de Barcelona (CCIB), um enorme prédio coberto por lâminas de alumínio perfuradas. Com 67 mil metros quadrados e capacidade para 15 mil expectadores, será o maior centro destinado a congressos da Europa. Uma rampa subterrânea de 20 m de largura irá interligar os dois edifícios. Já estão agendados congressos nos locais até 2007.
A maior parte das apresentações de música e espetáculos de teatro acontecerá na praça Fórum. Com 14 hectares (quase 30 campos de futebol), será o segundo maior espaço público do mundo, depois da praça da Paz Celestial, em Pequim.
A construção do porto de Sant Adrià também está em fase de finalização. Terá capacidade para mil barcos de grande porte, além de uma marina seca, local fora da água destinado a embarcações de até nove metros de comprimento.
Junto ao porto estarão situadas duas novas praias artificiais. Devido às obras, a orla marítima irá desaparecer. Assim, a costa será de tombo, como se fosse uma enorme piscina de água salgada. Os banhistas poderão alcançar a nado a ilha Pangea, também artificial, a 60 m de distância dali.
"Como não é uma capital de Estado, Barcelona sempre precisou, historicamente, de desculpas para desenvolver projetos de ampliação", disse à Folha o porta-voz do Fórum, Oleguer Sarsanedas.
Em toneladas de cimento e investimento, o atual projeto se aproxima ao realizado para os Jogos Olímpicos de 92. Naquela ocasião, os projetos centraram-se em zonas urbanas desenvolvidas, como o bairro de Montjuic, onde foi construído o Estádio Olímpico, e a área da Vila Olímpica, um conjunto esportivo, gastronômico e comercial semelhante ao que será o porto de Sant Adrià.
Desta vez, a intervenção acontece em algumas das áreas mais degradadas da cidade, como o bairro da Mina. "Essa área é um gueto, é a não-cidade, uma zona perdida de Barcelona; os turistas nem sabem que existe. Com as obras, a cidade ganha dimensão", afirma um engenheiro da Infrastructures del Llevant, empresa responsável pelo planejamento do projeto.
Apesar do forte investimento, os construtores correm contra o tempo. Nem tudo está saindo conforme o planejado. O zoológico marítimo, previsto para ocupar uma plataforma ao lado do porto de Sant Adrià, não deve sair tão cedo do papel de acordo com a Infrastructures, devido a um atraso na cessão do terreno por parte da prefeitura.
Do orçamento total, cerca de 35% vem da prefeitura e dos governos regional e central. O resto é investimento privado. Boa parte do dinheiro público será destinada a projetos de geração de desenvolvimento sustentável, um dos três eixos centrais do Fórum.
As águas do rio Besòs, até agora bastante poluídas, estão sendo tratadas, e uma usina de tratamento de lixo está sendo adaptada para reciclar até 280 t de papel, plástico, metal e vidro por ano.
Da iniciativa privada, destaca-se a construção de 12 novos hotéis, todos de quatro estrelas para cima, num total de cerca de 2 mil novas vagas. Será uma contribuição preciosa ao fluxo de turistas. São esperados cerca de 5 milhões de pessoas do mundo inteiro durante o evento. Assim é a nova Barcelona culta, cosmopolita, ecológica e chique.


Texto Anterior: Brilhos e drama definem estação
Próximo Texto: Diálogos são eixo principal do projeto
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.