São Paulo, terça-feira, 07 de março de 2006

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OSCAR 2006

Academia não sai do armário ao preterir "Brokeback Mountain" e evita a polêmica política de "Paradise Now"

Hollywood amarela e pulveriza seus prêmios

SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL

Hollywood pulverizou e, ao fazê-lo, amarelou. A edição de 2006 do Oscar vai entrar para a história como a mais fragmentada das últimas décadas. Cada estatueta das seis principais categorias (filme, diretor, ator, atriz e coadjuvantes) foi para um filme diferente. As duas de roteiro foram as únicas que importam de verdade a reforçar filmes nas categorias principais, respectivamente "O Segredo de Brokeback Mountain" (diretor e adaptado) e a zebra "Crash - No Limite" (filme e original) -zebra, sim, mas um excelente filme.
Levaram ainda o bom "Capote" (ator), o péssimo "Johnny e June" (atriz), o "brasileiro" "O Jardineiro Fiel" (atriz coadjuvante, para Rachel Weisz, eleita a "rainha do hexa" pela mídia canarinho) e o importante "Syriana - A Indústria do Petróleo" (George Clooney, em seu único prêmio da noite). Ou seja, os tiozinhos da Academia de Sombra e Água Fresca não tiveram, com o perdão da expressão, bolas para premiar o "filme gay". Ficaram no armário da indecisão. Assim, "O Segredo de Brokeback Mountain" levou o tapinha nas costas (direção para Ang Lee), mas ficou sem o abraço do gol (filme).
(É importante relembrar que não existe exatamente esta entidade una chamada "A Academia". São mais de 6.000 os votantes, influenciados por um sem-número de fatores, de presentinhos a palpites de parentes, o que os assemelha de certa forma ao colegiado que elege a melhor escola do Carnaval carioca.)
Amarelaram também em outra categoria importante, filme estrangeiro, ao deixar de lado o importante e urgente "Paradise Now", palestino, cedendo assim ao poderoso lobby judaico da indústria do entretenimento norte-americana, que chegou a exigir que o filme nem sequer fosse considerado como "da Palestina", uma vez que a existência do país não é unanimemente reconhecida pela comunidade internacional. Avestruzes, as centenas de votantes nessa categoria foram com o mediano "Tsotsi".
De qualquer maneira, foi um bom ano para os filmes. Não há registro também na história recente de um Oscar com longas de tanta qualidade, com cinco títulos polêmicos e independentes dominando a categoria principal. Zeitgeist gay à parte, em termos estritamente cinematográficos, qualquer um ("Capote", "O Segredo de Brokeback Mountain", "Crash", "Boa Noite e Boa Sorte" e "Munique") poderia ser escolhido com justiça.
E foi um bom ano ainda para a transmissão de TV. Jon Stewart lembrou Chris Rock no ano passado na qualidade das piadas, no teor político e no propósito de desrespeitar o politicamente correto que domina os eventos desse gênero. Assim como Rock, não deve ser mais convidado.
De resto, é pertinente que Paul Haggis seja a zebra na mesma noite em que outro eterno azarão de Hollywood -o diretor Robert Altman- ganha reparação histórica e é o homenageado, aos 81 anos e sem nunca ter ganho um Oscar. Seu "Crash" paga tributo ao "Short Cuts" (1993) de Altman, mesmo que salpicado com pitadas de "Traffic" (2000), de Steven Soderbergh. Só faltou alguém dizer que a vitória de Higgis é por tabela a vitória da cientologia, polêmica religião criada pelo escritor L. Ron Hubbard, da qual o canadense e centenas de celebridades hollywoodianas são simpatizantes/seguidores. Tom Cruise deve ter ido para a cama feliz.


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