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OSCAR 2006
Academia não sai do armário ao preterir "Brokeback Mountain" e evita a polêmica política de "Paradise Now"
Hollywood amarela e pulveriza seus prêmios
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Hollywood pulverizou e,
ao fazê-lo, amarelou. A edição de 2006 do Oscar vai entrar
para a história como a mais fragmentada das últimas décadas. Cada estatueta das seis principais categorias (filme, diretor, ator, atriz
e coadjuvantes) foi para um filme
diferente. As duas de roteiro foram as únicas que importam de
verdade a reforçar filmes nas categorias principais, respectivamente "O Segredo de Brokeback
Mountain" (diretor e adaptado) e
a zebra "Crash - No Limite" (filme
e original) -zebra, sim, mas um
excelente filme.
Levaram ainda o bom "Capote"
(ator), o péssimo "Johnny e June"
(atriz), o "brasileiro" "O Jardineiro Fiel" (atriz coadjuvante, para
Rachel Weisz, eleita a "rainha do
hexa" pela mídia canarinho) e o
importante "Syriana - A Indústria
do Petróleo" (George Clooney,
em seu único prêmio da noite).
Ou seja, os tiozinhos da Academia
de Sombra e Água Fresca não tiveram, com o perdão da expressão, bolas para premiar o "filme
gay". Ficaram no armário da indecisão. Assim, "O Segredo de
Brokeback Mountain" levou o tapinha nas costas (direção para
Ang Lee), mas ficou sem o abraço
do gol (filme).
(É importante relembrar que
não existe exatamente esta entidade una chamada "A Academia". São mais de 6.000 os votantes, influenciados por um sem-número de fatores, de presentinhos a palpites de parentes, o que
os assemelha de certa forma ao
colegiado que elege a melhor escola do Carnaval carioca.)
Amarelaram também em outra
categoria importante, filme estrangeiro, ao deixar de lado o importante e urgente "Paradise
Now", palestino, cedendo assim
ao poderoso lobby judaico da indústria do entretenimento norte-americana, que chegou a exigir
que o filme nem sequer fosse considerado como "da Palestina",
uma vez que a existência do país
não é unanimemente reconhecida pela comunidade internacional. Avestruzes, as centenas de votantes nessa categoria foram com
o mediano "Tsotsi".
De qualquer maneira, foi um
bom ano para os filmes. Não há
registro também na história recente de um Oscar com longas de
tanta qualidade, com cinco títulos
polêmicos e independentes dominando a categoria principal. Zeitgeist gay à parte, em termos estritamente cinematográficos, qualquer um ("Capote", "O Segredo
de Brokeback Mountain",
"Crash", "Boa Noite e Boa Sorte"
e "Munique") poderia ser escolhido com justiça.
E foi um bom ano ainda para a
transmissão de TV. Jon Stewart
lembrou Chris Rock no ano passado na qualidade das piadas, no
teor político e no propósito de
desrespeitar o politicamente correto que domina os eventos desse
gênero. Assim como Rock, não
deve ser mais convidado.
De resto, é pertinente que Paul
Haggis seja a zebra na mesma noite em que outro eterno azarão de
Hollywood -o diretor Robert
Altman- ganha reparação histórica e é o homenageado, aos 81
anos e sem nunca ter ganho um
Oscar. Seu "Crash" paga tributo
ao "Short Cuts" (1993) de Altman,
mesmo que salpicado com pitadas de "Traffic" (2000), de Steven
Soderbergh. Só faltou alguém dizer que a vitória de Higgis é por
tabela a vitória da cientologia, polêmica religião criada pelo escritor L. Ron Hubbard, da qual o canadense e centenas de celebridades hollywoodianas são simpatizantes/seguidores. Tom Cruise
deve ter ido para a cama feliz.
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