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Crítica/DVD/"Um Anjo em Minha Mesa"
Diretora de "O Piano" cria retrato intenso de escritora
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Há um tanto de loucura
por trás da arte? Criar
sempre pressupõe um
estranhamento em relação à vida e ao mundo? Responder a
essas questões sem cair no estereótipo romântico do lema
"de artista e de louco, cada um
tem um pouco" é o propósito de
"Um Anjo em Minha Mesa", segundo filme da cineasta neozelandesa Jane Campion antes de
ter alcançado fama (e inércia
criativa) a partir de "O Piano",
seu trabalho seguinte.
Produzido para a TV em
1990, o filme narra em três partes a complicada trajetória pessoal da escritora neozelandesa
Janet Frame (1924-2004), seguindo os três tomos de sua autobiografia publicada nos anos
80. A primeira parte, "Para a
Terra do Ser", descreve a infância pobre e as dificuldades escolares num ambiente limitado,
no qual suas habilidades poéticas passam despercebidas pela
maioria dos professores, preocupados com disciplina.
"Um Anjo em Minha Mesa" é
o nome da segunda parte, na
qual Janet passa à idade adulta
e, devido a um temperamento
fora dos padrões, sofre internações em instituições psiquiátricas. "O Enviado da Cidade dos
Espelhos", terceiro episódio,
mostra o percurso literário da
autora.
A diretora Jane Campion opta por adaptação que respeita a
cronologia dos eventos, o que
não impede que o filme tenha
implosões e rupturas que desorientam o percurso da personagem. Em vez de se manter fiel
ao gênero biográfico tradicional, Campion constrói retrato
movido a intensidades, com vibrações emocionais que permitem ao espectador entrar nas
experiências-limite de Janet.
Desse modo, a trajetória pouco conhecida da autora ganha
corpo e, em vez de oferecer
mais um mito, a ênfase se desloca para a força e os impasses
da subjetividade extrema.
UM ANJO EM MINHA MESA
Direção: Jane Campion
Lançamento: Lume (R$ 48)
Classificação: 16 anos
Avaliação: ótimo
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