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Crítica/DVD/"O Absolutismo - A Ascensão de Luís XV" e "O Amor"
Roberto Rossellini enfatiza história da vida privada de rei
Obra-prima do diretor italiano, feita para a TV, descreve rituais do poder no séc. 17
CRÍTICO DA FOLHA
Roberto Rossellini foi
muito claro ao dar o título: "A Tomada do Poder por Luís 14". Se a Versátil o
apelida no Brasil de "O Absolutismo - A Ascensão de Luís XV"
por razões comerciais, para explorar um filão, digamos, pedagógico, muito bem: o dano terá
sido pequeno para que enfim
possamos ver essa que muitos
tomam como a obra-prima do
grande mestre italiano.
O que se passa no filme, em
poucas palavras, é o seguinte:
com a morte de seu primeiro-ministro e mentor, o cardeal
Mazarin, o jovem Luís 14 se vê
cercado de problemas. Estamos em meados do século 17,
quando as revoltas da Fronda
acabam de ser contidas, mas ao
preço de vários acordos políticos que os nobres agora dispõem-se a cobrar do jovem rei
(e de sua mãe).
Ora, Luís não pode enfrentá-los pela força, mas pela habilidade. E ela consistirá justamente nisso: em colocar a corte
sob direta dependência. O filme
procede a um rico detalhamento dessa operação, que introduz
seja a ideia de corte como a conhecemos ainda hoje, seja a
própria moda como motivo
central de um modo de vida.
Mesmo a etiqueta se torna algo tremendamente inflado nesse mundo que Luís sustenta à
base de um colossal dispêndio
(ele retira os recursos dos nobres, substituindo-os por generosas mesadas, em troca força-os a viver sob suas asas, no palácio de Versalhes, ao mesmo
tempo em que, para sustentar
esses luxos, desenvolve a indústria nacional).
Com essas e outras medidas,
Luís consegue apaziguar seu
reino e partir para a constituição de um império, tendo agora
como principal conselheiro
Colbert (sem relação familiar
com Claudette Colbert, a atriz).
Essa é, em linhas gerais, a
história. A particularidade do
filme é Rossellini substituir a
"grande história" por uma história da vida privada. Pois é
mostrando como pensavam os
médicos que viviam no século
17, introduzindo-nos aos rituais de poder (como o almoço
com o rei), que Rossellini nos
carrega para dentro da política
das aparências, que, pelo jeito,
o Rei Sol dominou melhor do
que ninguém.
E dizer "política das aparências" não é um modo de rebaixar Luís 14. As aparências dizem respeito ao que aparece.
São como a pele: não significa
que não haja nada por dentro e
por trás dela. Mais do que tudo,
sua identidade com o cinema
-outra arte das aparências- é
completa. E talvez seja isso que
explique o fato prodigioso de
Rossellini ter rodado essa maravilha para a TV, com um orçamento diminuto e em apenas
20 dias.
A mesma distribuidora lança,
do mesmo diretor, "O Amor",
filme com duas histórias, feitas
para Anna Magnani brilhar, antes de mais nada. Ela brilha, de
fato. É um belo filme (em especial a segunda história), talvez
sem o mesmo alcance.
(INÁCIO ARAUJO)
O ABSOLUTISMO - A ASCENSÃO DE LUÍS XV
Direção: Roberto Rossellini
Lançamento: Versátil
Quanto: R$ 44,90 (em média, cada DVD)
Classificação: livre
Avaliação: ótimo
O AMOR
Classificação: 14 anos
Avaliação: bom
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