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Padilha filma antropólogos de elite entre índios
FERNANDA EZABELLA
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
A "tribo" que José Padilha resolveu filmar em novo documentário não vive na Amazônia e sim em altas cátedras de
universidades internacionais.
São antropólogos que se embrenharam entre os índios ianomâmis, na fronteira da Venezuela com o Brasil, nos anos
60 e 70, e saíram de lá com livros best-sellers, fama mundial
e uma série de acusações que
incluem pedofilia e genocídio.
"Conflitos existem em qualquer ambiente acadêmico [...]
Mas, na antropologia, se perdeu o controle a ponto de virar
um bate boca do mais baixo calão entre Ph.Ds do mais alto nível", diz Padilha à Folha, numa
brecha das filmagens no Rio de
"Tropa de Elite 2".
"Segredos da Tribo", que estreou em Sundance, abre a edição carioca do É Tudo Verdade,
na sexta, só para convidados. O
público pode conferir a partir
de sábado. O documentário foca principalmente dois antropólogos que viveram com os índios: o americano Napoleon
Chagnon, autor de "Ianomâmi:
O Povo Feroz" (1968), um dos
livros etnográficos mais vendidos, e o francês Jacques Lizot,
discípulo e protegido de Lévi-Strauss, um dos principais intelectuais do século 20.
O primeiro é acusado de genocídio, após a introdução nas
tribos de uma vacina contra sarampo, e o segundo, de pedofilia. O primeiro foi entrevistado
durante três dias por Padilha, o
segundo se recusou. Além de
imagens daquela época, registradas por Chagnon, que queria
provar que os ianomâmis eram
violentos por natureza, o filme
traz depoimentos de hoje dos
índios, bastante indignados,
como as vítimas de Lizot, que
trocavam sexo por armas.
No tiroteio de acusações acadêmicas, uma verdadeira fogueira das vaidades, falam ainda um antropólogo americano
arqui-inimigo de Chagnon que
se casou com uma ianomâmi
de 13 anos e o jornalista autor
de "Darkness in El Dorado"
(trevas no Eldorado), que lançou luz às polêmicas em 2000.
Assim como dividiu opiniões
com o violento Capitão Nascimento, de "Tropa de Elite", Padilha volta a causar desconforto com personagens da vida
real que agem de forma criminosa e protegidos pelo Estado.
"Talvez Lizot seja mais parecido [com Nascimento], mas é
pela situação [...] É muito difícil
para a academia discutir Lizot,
ele foi financiado pelo Collège
de France, ficou 20 anos [morando com os índios], é o pedófilo de maior sucesso na história", diz Padilha, diretor de
"Ônibus 174" e "Garapa".
Segundo ele, o filme foi bem
recebido por antropólogos,
embora alguns na França aleguem que a obra seja a favor de
Chagnon e contra Lizot. Outros, nos EUA, dizem o contrário. "Um filme que tenha uma
mensagem universalmente entendida talvez seja um filme
que eu não quero fazer", disse
Padilha, que pesquisou o assunto por dois anos e meio antes de rodá-lo para a BBC.
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