São Paulo, segunda-feira, 07 de maio de 2007

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Opinião

Evento mostra vontade de retomar as ruas

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Passei boa parte da madrugada caminhando pelas ruas do centro, menos preocupado em assistir aos shows do que apreciar a movimentação das tribos.
Numa cidade tão temerosa de suas ruas, retalhada em guetos que diziam a idéia de espaço público, o burburinho humano me parecia muito mais interessante do que qualquer espetáculo -o paulistano não está habituado a manifestações públicas de alegria, tamanha a violência que vivemos.
Senti uma certa irrealidade, como se voltasse no tempo quando, menino, caminhava sem medo pelas ruas do centro, encantado com a elegância das lojas ou com a animação das livrarias e cinemas.
A selvageria que ocorreu na praça da Sé é, certamente, um episódio isolado, provocado por um grupo de arruaceiros, um minúsculo ponto da gigantesca paisagem humana dos que se divertiam ouvindo rock, rap, boleros, sambas, repentes. Fala-se que a Virada Cultural teria atraído 3,5 milhões de pessoas, mas os arruaceiros que ganharam as manchetes não seriam mais do que 30 jovens. Sob esse aspecto, o evento seria um sucesso.
Os arruaceiros, porém, me trouxeram à realidade paulistana, ou melhor, à nossa tragédia metropolitana, na qual eles são exércitos de seres agressivos, ressentidos, sempre à espera de um pretexto para explodir, seja ele qual for; uma letra de música de Mano Brown ou a inabilidade policial.
A Virada Cultural são 24 horas de festa e revela mais do que um evento cultural, mas uma vontade de reconquistar as ruas e não nos fazer uma comunidade de acuados; a selvageria nos tira a ilusão de como essa tarefa é um desafio de toda uma geração.


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