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Mautner se apresenta em tranqüilo CEU
NOEMI JAFFE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Fui para o show de Jorge
Mautner, no CEU Alvarenga,
em Pedreira, esperando mesmo uma pedreira. Errei longe.
O resultado foi uma pedreira
sem pedras. Cerca de 60 pessoas, entre crianças, adolescentes e idosos, reunidos em um
teatro como existem poucos
em São Paulo. A porta fica aberta, algumas pessoas vão entrando durante o show, outras
saem, depois voltam, tudo na
mais absoluta tranqüilidade.
Um mano entra com o skate e
senta com o amigo, que tem
"dreads", vende brincos num
painel e veste uma malha peruana. Na primeira fila, um garoto acompanha as músicas de
cor e bate palmas freneticamente quando a música termina. Mais tarde, me conta que
adora "Maracatu Atômico", em
especial com Chico Science.
Uma senhorinha quase chora
quando Mautner canta o bolero
filosófico "Estilhaços de Paixão": "Eu só quero amar, mas o
amor que eu tenho eu não posso dar". Mautner canta músicas
estranhas, com letras refinadas, sambas tortos, uma bossa
nova atonal, defendendo com
fé a alquimia do amálgama,
uma reinterpretação permanente do Brasil e de suas impossíveis possibilidades.
Saio da periferia, que em grego é a superfície da circunferência e de onde deriva também o número pi (um segredo
racional e misterioso) com a
sensação de que é o centro da
periferia que está por fora. E
que precisamos fazer um grande "revirão" (nome do último
CD de Mautner) e permitir que
as coisas girem muito mais.
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