São Paulo, segunda-feira, 07 de maio de 2007

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Mautner se apresenta em tranqüilo CEU

NOEMI JAFFE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Fui para o show de Jorge Mautner, no CEU Alvarenga, em Pedreira, esperando mesmo uma pedreira. Errei longe.
O resultado foi uma pedreira sem pedras. Cerca de 60 pessoas, entre crianças, adolescentes e idosos, reunidos em um teatro como existem poucos em São Paulo. A porta fica aberta, algumas pessoas vão entrando durante o show, outras saem, depois voltam, tudo na mais absoluta tranqüilidade.
Um mano entra com o skate e senta com o amigo, que tem "dreads", vende brincos num painel e veste uma malha peruana. Na primeira fila, um garoto acompanha as músicas de cor e bate palmas freneticamente quando a música termina. Mais tarde, me conta que adora "Maracatu Atômico", em especial com Chico Science.
Uma senhorinha quase chora quando Mautner canta o bolero filosófico "Estilhaços de Paixão": "Eu só quero amar, mas o amor que eu tenho eu não posso dar". Mautner canta músicas estranhas, com letras refinadas, sambas tortos, uma bossa nova atonal, defendendo com fé a alquimia do amálgama, uma reinterpretação permanente do Brasil e de suas impossíveis possibilidades.
Saio da periferia, que em grego é a superfície da circunferência e de onde deriva também o número pi (um segredo racional e misterioso) com a sensação de que é o centro da periferia que está por fora. E que precisamos fazer um grande "revirão" (nome do último CD de Mautner) e permitir que as coisas girem muito mais.

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