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Acidente mudou eixo da carreira
DA REPORTAGEM LOCAL
Um episódio do qual Paulo Autran pouco fala em suas entrevistas mudou o eixo de sua vida pessoal e profissional. Em 1963, ele
sofreu um acidente automobilístico que o deixou de molho por dez
meses em plena temporada de
"My Fair Lady", quando atuava
ao lado de Bibi Ferreira.
Rememora: "Eu tinha comprado meu primeiro Fusca. Fazia
apenas 40 dias que dirigia. Num
dia lindo, na [rodovia Presidente]
Dutra, não havia ninguém na minha frente e, de repente, o carro
virou. As pessoas que estavam
dentro felizmente não sofreram
praticamente nada. Eu quebrei as
costelas, o fêmur e fiquei dez meses imóvel num hospital do Rio".
Autran avalia aquela "parada
forçada" como "período muito
produtivo" na sua vida, "de maior
reconhecimento humano, de valorização das coisas".
O musical "My Fair Lady", de
Frederick Loewe e Alan Jay Lerner, segue turnê paulista sem Autran. A bilheteria cai e só é recuperada em seu retorno ao palco.
"Anunciaram que eu iria voltar
e, naquela noite, o teatro estava
lotado. Fiquei emocionado. Acho
que foi o maior aplauso que recebi
na minha vida", afirma.
No ano seguinte, a instauração
do regime militar (1964-85) despertou a consciência política do
artista, culminando com a montagem de "Liberdade, Liberdade",
de Millôr Fernandes e direção de
Flávio Rangel.
"Comecei a notar que o sistema
de governo é importante, que política é uma coisa importante.
Quando a pessoa pensa que é
apolítica, ela está apenas aderindo
ao status quo."
Em 83, Autran implantou quatro pontes de safena e uma mamária. "Só me lembro delas quando os repórteres perguntam sobre
o coração", ironiza.
Os seus 80 anos serão comemorados hoje, logo após a estréia de
"Variações Enigmáticas", com
uma festa na Faap. Os organizadores convidaram personalidades da classe teatral para homenageá-lo em coquetel numa praça
do mesmo local.
Autran contracena pela primeira vez na carreira com Cecil Thirè,
58, filho da colega Tônia Carrero,
que, quando garoto, os espiava da
coxia nas temporadas de "Otelo"
(56), de Shakespeare e direção do
italiano Adolfo Celi.
Em "Variações Enigmáticas",
do autor francês contemporâneo
Eric-Emmanuel Schmitt, peça
que participou este ano do ciclo
"Leituras de Teatro" na Folha
(vem de temporadas no Rio e Sul
do país), Autran e Thirè protagonizam uma história cujo tema é o
amor.
Abel Zorko (Autran), um celebrado Nobel de literatura, opta
pela vida de ermitão em uma ilha.
O lançamento de seu último livro
motiva a visita do jornalista Eric
Larsen (Thirè). O embate verbal,
no princípio, evolui para o recuo
das couraças, até o desvelamento
que os porá nus diante de segredos formados involuntariamente
ao longo de 15 anos.
A montagem, dirigida por José
Possi Neto, incorpora a sugestão
original do autor para a trilha. O
próprio Schmitt gravou ao piano
a composição-título, "Variações
Enigmáticas", do inglês Edward
Elgar (1857-1934).
(VS)
VARIAÇÕES ENIGMÁTICAS. De: Eric-Emmanuel Schmitt. Tradução: Paulo
Autran. Direção: José Possi Neto. Com:
Paulo Autran e Cecil Thirè. Cenário: Jean
Pierre Tortil. Iluminação: Wagner Freire.
Onde: teatro Faap (r. Alagoas, 903,
Higienópolis, SP, tel. 0/xx/11/3662-1992). Quando: pré-estréia hoje, às 21h,
para convidados; amanhã, às 18h,
haverá sessão beneficente para a
Associação para Crianças e Adolescentes
com Tumor Cerebral, preço único de R$
45; de qui. a sáb., às 21h; dom., às 18h.
Quanto: de R$ 30 a R$ 40.
Patrocinadores: Embratel e Eletrobras.
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