São Paulo, sábado, 07 de setembro de 2002

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Acidente mudou eixo da carreira

DA REPORTAGEM LOCAL

Um episódio do qual Paulo Autran pouco fala em suas entrevistas mudou o eixo de sua vida pessoal e profissional. Em 1963, ele sofreu um acidente automobilístico que o deixou de molho por dez meses em plena temporada de "My Fair Lady", quando atuava ao lado de Bibi Ferreira.
Rememora: "Eu tinha comprado meu primeiro Fusca. Fazia apenas 40 dias que dirigia. Num dia lindo, na [rodovia Presidente] Dutra, não havia ninguém na minha frente e, de repente, o carro virou. As pessoas que estavam dentro felizmente não sofreram praticamente nada. Eu quebrei as costelas, o fêmur e fiquei dez meses imóvel num hospital do Rio".
Autran avalia aquela "parada forçada" como "período muito produtivo" na sua vida, "de maior reconhecimento humano, de valorização das coisas".
O musical "My Fair Lady", de Frederick Loewe e Alan Jay Lerner, segue turnê paulista sem Autran. A bilheteria cai e só é recuperada em seu retorno ao palco.
"Anunciaram que eu iria voltar e, naquela noite, o teatro estava lotado. Fiquei emocionado. Acho que foi o maior aplauso que recebi na minha vida", afirma.
No ano seguinte, a instauração do regime militar (1964-85) despertou a consciência política do artista, culminando com a montagem de "Liberdade, Liberdade", de Millôr Fernandes e direção de Flávio Rangel.
"Comecei a notar que o sistema de governo é importante, que política é uma coisa importante. Quando a pessoa pensa que é apolítica, ela está apenas aderindo ao status quo."
Em 83, Autran implantou quatro pontes de safena e uma mamária. "Só me lembro delas quando os repórteres perguntam sobre o coração", ironiza.
Os seus 80 anos serão comemorados hoje, logo após a estréia de "Variações Enigmáticas", com uma festa na Faap. Os organizadores convidaram personalidades da classe teatral para homenageá-lo em coquetel numa praça do mesmo local.
Autran contracena pela primeira vez na carreira com Cecil Thirè, 58, filho da colega Tônia Carrero, que, quando garoto, os espiava da coxia nas temporadas de "Otelo" (56), de Shakespeare e direção do italiano Adolfo Celi.
Em "Variações Enigmáticas", do autor francês contemporâneo Eric-Emmanuel Schmitt, peça que participou este ano do ciclo "Leituras de Teatro" na Folha (vem de temporadas no Rio e Sul do país), Autran e Thirè protagonizam uma história cujo tema é o amor.
Abel Zorko (Autran), um celebrado Nobel de literatura, opta pela vida de ermitão em uma ilha. O lançamento de seu último livro motiva a visita do jornalista Eric Larsen (Thirè). O embate verbal, no princípio, evolui para o recuo das couraças, até o desvelamento que os porá nus diante de segredos formados involuntariamente ao longo de 15 anos.
A montagem, dirigida por José Possi Neto, incorpora a sugestão original do autor para a trilha. O próprio Schmitt gravou ao piano a composição-título, "Variações Enigmáticas", do inglês Edward Elgar (1857-1934). (VS)


VARIAÇÕES ENIGMÁTICAS. De: Eric-Emmanuel Schmitt. Tradução: Paulo Autran. Direção: José Possi Neto. Com: Paulo Autran e Cecil Thirè. Cenário: Jean Pierre Tortil. Iluminação: Wagner Freire. Onde: teatro Faap (r. Alagoas, 903, Higienópolis, SP, tel. 0/xx/11/3662-1992). Quando: pré-estréia hoje, às 21h, para convidados; amanhã, às 18h, haverá sessão beneficente para a Associação para Crianças e Adolescentes com Tumor Cerebral, preço único de R$ 45; de qui. a sáb., às 21h; dom., às 18h. Quanto: de R$ 30 a R$ 40. Patrocinadores: Embratel e Eletrobras.



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