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LITERATURA
Segundo livro da catarinense Adriana Lunardi, volume de contos, que sai no fim do mês, enfoca nove autoras
"Vésperas" ata escritoras pelo fio da morte
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um livro delicado, que costura
com o fio comum da fugacidade
da vida histórias possíveis na vida
de nove escritoras.
Em ficções breves, Virginia
Woolf, Dorothy Parker, Ana Cristina César, Colette, Clarice Lispector, Katherine Mansfield, Sylvia
Plath, Zelda Scott-Fitzgerald e Júlia da Costa ocupam as páginas de
"Vésperas", de Adriana Lunardi.
O nome traduz o espírito que
move os contos do livro: todos se
realizam na iminência de um
acontecimento fatal -na maioria
dos casos, a morte da inspiradora.
O estalo que impulsionou três
anos de trabalho veio quando Lunardi, 38, descobriu o "modo profundamente irônico" como havia
morrido Zelda Scott-Fitzgerald.
"Ela tinha uma vida errática e
glamourosa, bebia doidamente e
acabava sempre internada em sanatórios. Pois bem, ela morre em
um incêndio no segundo andar
de uma clínica, cujas janelas eram
gradeadas para, justamente, evitar atos suicidas", conta a autora
de "Vésperas" à Folha.
"Isso me pareceu uma metáfora
sobre a total falta de controle que
temos sobre a vida. Escrevi um
conto, impulsionada por essa ironia. Depois fui pensando nas minhas autoras prediletas e vi que
quase todas tinham um final de
vida curioso. Então percebi que
gostaria de escrever sobre isso."
Lunardi entende, porém, que
"um projeto literário deve ir mais
longe", além do critério do gosto.
Por isso optou por mostrar "diferentes manifestações da morte".
Em nenhum dos escritos, a voz
que narra é da autora enfocada
("É uma opção estética e, pessoalmente, um desafio maior").
Em três deles, a personagem
inspiradora age sobre o narrador
já depois de morta. É o caso, por
exemplo, de "Victoria", em que
um homem "descobre" a poeta
americana Sylvia Plath ao ler sobre seu suicídio no jornal.
É também póstuma a influência
de Clarice Lispector sobre a adolescente que quer ser escritora
("Clarice"). E metafísica a mão
que se estende em "Ana C.", no
qual a poeta fluminense Ana Cristina César se "encontra" com um
narrador inspirado em seu amigo
Caio Fernando Abreu (1948-96).
Ainda que a voz não seja das autoras, é do seu universo literário o
ambiente que cada conto assume.
Em alguns, o mergulho de Lunardi chega a quase mimetizar traços
estilísticos das escritoras que os
inspiraram. Essa não foi, frisa Lunardi, uma "preocupação formal". Para ela, sua verdadeira
"carpintaria" ao escrever "Vésperas" está, justamente, nas histórias paralelas de cada conto.
VÉSPERAS - De: Adriana Lunardi.
Editora: Rocco (tel. 0/xx/21/2507-2000;
www.rocco.com.br). 128 págs. Preço a
definir (segunda quinzena de setembro).
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