São Paulo, quarta-feira, 07 de setembro de 2011

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Diretor modifica filme para mostrar catástrofe no Japão

GABRIELA LONGMAN
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA

O terremoto que atingiu o Japão em março, seguido por um tsunami e por acidentes nucleares na usina de Fukushima, mal teve tempo de sair do noticiário.
Ontem, já estava tudo na tela do cinema como pano de fundo de "Himizu", único filme japonês em competição do 68º Festival de Veneza. O diretor Sion Sono já havia terminado o roteiro -adaptação de um mangá de Minoru Furuya- quando viu seu país atingido pela tripla catástrofe. Mobilizado, rescreveu do começo ao fim o argumento, inserindo a história original no cenário de devastação que via pela janela.
"Todos viram o terremoto no noticiário. Em meu filme, me preocupei mais com o que aconteceu depois. O retrato do país pós-destruição", contou Sono em coletiva ontem. O drama acompanha Yuichi Sumida, um adolescente que tenta montar seu próprio negócio -um quiosque de aluguel de barcos-, depois de ser abandonado pela mãe.
O pai, cheio de dívidas, aparece para lhe pedir dinheiro em troca de ameaças. A colega de classe, Keiko Chazawa, nutre por ele um amor incondicional, por vezes sufocante. Sua casa dá para uma lagoa em que flutuam os restos de uma cabana. Ao redor, homens vivem em tendas, porque perderam suas casas.
A primeira cena se passa numa espécie de tapete de escombros. O noticiário fala de energia nuclear e as relações pessoais ao redor são também explosivas. O jovem oscila entre cenas de agressão verbal e física e uma certa inércia em relação à vida. "Cada cena mudou drasticamente em relação ao que eu havia previsto no original. Tudo foi filmado em maio, às pressas e com baixo orçamento" acrescentou o diretor.
"Fui tomado de uma urgência para terminar o filme, queria que chegasse ao público logo". Ele diz que espera realizar mais dois filmes em torno dos acidentes de março, criando uma trilogia. Essa é a segunda vinda de Sono ao festival. No ano passado, apresentou seu "Cold Fish", um thriller de horror exibido na mostra paralela Orrizonti e bastante elogiado.
Desta vez, com "Himisu" em competição, dividiu o público. Arrancou aplausos, mas também viu espectadores deixarem a sala antes do fim, aborrecidos com trechos de histeria, lentidão e certa carga de violência gratuita.


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