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CRÍTICA/POP
Jacobina faz elogio da despretensão
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em 1996, o cantor, compositor
e guitarrista Rubinho Jacobina fazia parte de uma banda que
planejava uma excursão pelos
EUA. Na última hora, a produção
deu para trás, a grana inexistiu e o
diretor do espetáculo, umas daquelas pessoas que sempre se levam a sério demais, esbravejava à
exaustão, indignado: "mas eu sou
um artista, eu sou um artista!".
Rubinho, adepto da despretensão das coisas simples da vida,
pensou consigo mesmo -"como
se fizesse alguma diferença"- e
escreveu na mesma hora a primeira estrofe de sua música mais
famosa, "Artista é o K": "Eu sou
bom de cama/ sei fazer café/ e ninguém reclama do meu cafuné/
mas artista é o caralho".
Quase dez anos depois, a música estaria em seu excelente disco
de estréia, recém-lançado pela
gravadora Nikita Music, mas antes ela se tornaria um hit nos bailes da Orquestra Imperial, da qual
Rubinho foi um dos primeiros
membros, no começo dos anos
00, ao lado de Rodrigo Amarante,
do Los Hermanos, entre outros.
Aos 31 anos, o irmão mais novo
de Nelson Jacobina (parceiro de
Jorge Mautner em músicas como
"Maracatu Atômico") é o mais
novo representante de toda uma
rica movimentação que tem
acontecido nos últimos anos no
Rio, promovida por uma turma
de músicos originalíssimos, como
a banda +2 (de Domenico, Kassin
e Moreno Veloso) e as cantoras
Thalma de Freitas (que lançou
um EP produzido por Kassin no
começo de 2004) e Nina Becker
(que se prepara para gravar seu
álbum de estréia, acompanhada
de Nelson Jacobina). Todos
membros da Orquestra Imperial.
Gravado com timbres que remetem aos anos 70 e algumas guitarras sensacionais, este primeiro
disco de Rubinho (em que é
acompanhado por músicos como
Domenico e Pedro Sá, do +2) é na
maior parte roqueiro, mas passeia
também sem estranhamento pelo
samba e pelo eletrônico retrô.
Rubinho canta com seu vocal
particular canções que lembram o
humor inteligente de sambistas
antigos, como Assis Valente e
Wilson Batista. Um dos momentos mais inspirados, por exemplo,
é no samba "Meu Gato", onde ele
conta a história real do fim de um
relacionamento e o possível suicídio do gato do casal ("Meu gato
morreu, pulou da janela/ o culpado fui eu, a culpada foi ela").
Mesmo tendo um bacharelado
em composição e estudos de música erudita, Rubinho é autor de
bem-acabadas pérolas pop, músicas espertas e boas de cantar junto. Não sem razão.
Ele explica: "O pop em geral a
gente relaciona com música fácil,
mas eu tento não complicar o que
deve ser simples. As boas melodias devem ser simples, tudo na
vida tem que ser simples. Quanto
se tenta complicar demais as coisas, entra o pedantismo. Simples
nem sempre é fácil. Podendo facilitar, eu não pretendo dificultar".
Rubinho e Força Bruta
Artista: Rubinho Jacobina
Lançamento: Nikita Music
Quanto: R$ 24, em média
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