São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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CRÍTICA/POP

Jacobina faz elogio da despretensão

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em 1996, o cantor, compositor e guitarrista Rubinho Jacobina fazia parte de uma banda que planejava uma excursão pelos EUA. Na última hora, a produção deu para trás, a grana inexistiu e o diretor do espetáculo, umas daquelas pessoas que sempre se levam a sério demais, esbravejava à exaustão, indignado: "mas eu sou um artista, eu sou um artista!".
Rubinho, adepto da despretensão das coisas simples da vida, pensou consigo mesmo -"como se fizesse alguma diferença"- e escreveu na mesma hora a primeira estrofe de sua música mais famosa, "Artista é o K": "Eu sou bom de cama/ sei fazer café/ e ninguém reclama do meu cafuné/ mas artista é o caralho".
Quase dez anos depois, a música estaria em seu excelente disco de estréia, recém-lançado pela gravadora Nikita Music, mas antes ela se tornaria um hit nos bailes da Orquestra Imperial, da qual Rubinho foi um dos primeiros membros, no começo dos anos 00, ao lado de Rodrigo Amarante, do Los Hermanos, entre outros.
Aos 31 anos, o irmão mais novo de Nelson Jacobina (parceiro de Jorge Mautner em músicas como "Maracatu Atômico") é o mais novo representante de toda uma rica movimentação que tem acontecido nos últimos anos no Rio, promovida por uma turma de músicos originalíssimos, como a banda +2 (de Domenico, Kassin e Moreno Veloso) e as cantoras Thalma de Freitas (que lançou um EP produzido por Kassin no começo de 2004) e Nina Becker (que se prepara para gravar seu álbum de estréia, acompanhada de Nelson Jacobina). Todos membros da Orquestra Imperial.
Gravado com timbres que remetem aos anos 70 e algumas guitarras sensacionais, este primeiro disco de Rubinho (em que é acompanhado por músicos como Domenico e Pedro Sá, do +2) é na maior parte roqueiro, mas passeia também sem estranhamento pelo samba e pelo eletrônico retrô.
Rubinho canta com seu vocal particular canções que lembram o humor inteligente de sambistas antigos, como Assis Valente e Wilson Batista. Um dos momentos mais inspirados, por exemplo, é no samba "Meu Gato", onde ele conta a história real do fim de um relacionamento e o possível suicídio do gato do casal ("Meu gato morreu, pulou da janela/ o culpado fui eu, a culpada foi ela").
Mesmo tendo um bacharelado em composição e estudos de música erudita, Rubinho é autor de bem-acabadas pérolas pop, músicas espertas e boas de cantar junto. Não sem razão.
Ele explica: "O pop em geral a gente relaciona com música fácil, mas eu tento não complicar o que deve ser simples. As boas melodias devem ser simples, tudo na vida tem que ser simples. Quanto se tenta complicar demais as coisas, entra o pedantismo. Simples nem sempre é fácil. Podendo facilitar, eu não pretendo dificultar".


Rubinho e Força Bruta
    
Artista: Rubinho Jacobina
Lançamento: Nikita Music
Quanto: R$ 24, em média


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