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CRÍTICA
Coletânea cobre 20 anos do MPB-4
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
"MPB-4 - Quarenta Anos contra
a Corrente" só cobre 20 anos
(1965-85) da trajetória do grupo
por uma razão prática: são os discos desse período que pertencem
ao acervo da Universal, gravadora
que está lançando o CD duplo.
Mas é significativo que a comemoração das quatro décadas se dê
a partir das duas primeiras. Depois de 1985, com a abertura política, o MPB-4 perdeu o chão sobre
o qual construiu o melhor de sua
carreira: canções de viés político;
interpretações em que a força do
coro evocava uma espécie de grito
coletivo do país; criações dos melhores compositores brasileiros.
Sem as bandeiras de protesto e
com autores como Chico Buarque, a quem eram muito ligados,
compondo menos, Miltinho, Magro, Aquiles e Ruy Faria passaram
a fazer discos dedicados à obra de
alguém (Noel Rosa, Milton Nascimento, Vinicius de Moraes) ou a
expor em outros sua dificuldade
de encontrar novos rumos. Em
2004, Ruy deixou o conjunto. Foi
substituído por Dalmo Medeiros.
Seria mais rico oferecer ao público em CD discos importantes
como "Deixa Estar" (1970), "De
Palavra em Palavra" (1971), "Dez
Anos Depois" (1975) e "Canto dos
Homens" (1976) -felizmente,
"Cicatrizes" (1972), o melhor álbum do MPB-4 e um dos melhores lançados no país durante a ditadura militar, foi relançado em
2004. Mas, como isso parece não
dar lucro, compilaram 20 "sucessos" em um CD, enquanto 20 "raridades" ficaram em outro.
No primeiro, estranha-se a ausência de "Olê Olá" (Chico), um
dos sucessos do grupo, de 1966.
Mas estão lá "Roda Viva", na famosa gravação com Chico, "Sentinela" (Milton Nascimento/Fernando Brant), "Galope" (Gonzaguinha), "O Ronco da Cuíca"
(João Bosco/Aldir Blanc) e outras
músicas que marcaram a carreira.
O final do CD já mostra a busca
do MPB-4 por caminhos diferentes. São os casos de "Vira, Virou"
(Kledir), "Olhar de Cobra" (Moraes Moreira/Antonio Risério) e
"A Lua" (Renato Rocha), que alcançaram sucesso nos anos 80.
No CD das "raridades", algumas faixas não justificam o rótulo.
"Ana Luiza" (Tom Jobim) é uma
delas, pois era uma das principais
faixas do disco "Dez Anos Depois". "Cebola Cortada" (Petrúcio Maia/Clodô") é outra, pois fez
sucesso ao ser gravada em 1979.
Mas há, sim, preciosidades como "Onde É que Você Estava"
(Chico), uma versão de "Iaiá do
Cais Dourado" (Martinho da Vila
e Rodolfo), "Mariana" (Paulinho
da Viola) e "Amigo da Onça" (Silvio da Silva Jr./Aldir Blanc), canção que os mesmos autores de
"Amigo É pra Essas Coisas" fizeram em complemento à primeira.
O resultado é irregular, mas vale
escutar o MPB-4 no período histórico em que ele fez história.
MPB-4 - Quarenta Anos contra a Corrente
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 39, em média
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