São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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CRÍTICA

Coletânea cobre 20 anos do MPB-4

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

"MPB-4 - Quarenta Anos contra a Corrente" só cobre 20 anos (1965-85) da trajetória do grupo por uma razão prática: são os discos desse período que pertencem ao acervo da Universal, gravadora que está lançando o CD duplo.
Mas é significativo que a comemoração das quatro décadas se dê a partir das duas primeiras. Depois de 1985, com a abertura política, o MPB-4 perdeu o chão sobre o qual construiu o melhor de sua carreira: canções de viés político; interpretações em que a força do coro evocava uma espécie de grito coletivo do país; criações dos melhores compositores brasileiros.
Sem as bandeiras de protesto e com autores como Chico Buarque, a quem eram muito ligados, compondo menos, Miltinho, Magro, Aquiles e Ruy Faria passaram a fazer discos dedicados à obra de alguém (Noel Rosa, Milton Nascimento, Vinicius de Moraes) ou a expor em outros sua dificuldade de encontrar novos rumos. Em 2004, Ruy deixou o conjunto. Foi substituído por Dalmo Medeiros.
Seria mais rico oferecer ao público em CD discos importantes como "Deixa Estar" (1970), "De Palavra em Palavra" (1971), "Dez Anos Depois" (1975) e "Canto dos Homens" (1976) -felizmente, "Cicatrizes" (1972), o melhor álbum do MPB-4 e um dos melhores lançados no país durante a ditadura militar, foi relançado em 2004. Mas, como isso parece não dar lucro, compilaram 20 "sucessos" em um CD, enquanto 20 "raridades" ficaram em outro.
No primeiro, estranha-se a ausência de "Olê Olá" (Chico), um dos sucessos do grupo, de 1966. Mas estão lá "Roda Viva", na famosa gravação com Chico, "Sentinela" (Milton Nascimento/Fernando Brant), "Galope" (Gonzaguinha), "O Ronco da Cuíca" (João Bosco/Aldir Blanc) e outras músicas que marcaram a carreira.
O final do CD já mostra a busca do MPB-4 por caminhos diferentes. São os casos de "Vira, Virou" (Kledir), "Olhar de Cobra" (Moraes Moreira/Antonio Risério) e "A Lua" (Renato Rocha), que alcançaram sucesso nos anos 80.
No CD das "raridades", algumas faixas não justificam o rótulo. "Ana Luiza" (Tom Jobim) é uma delas, pois era uma das principais faixas do disco "Dez Anos Depois". "Cebola Cortada" (Petrúcio Maia/Clodô") é outra, pois fez sucesso ao ser gravada em 1979.
Mas há, sim, preciosidades como "Onde É que Você Estava" (Chico), uma versão de "Iaiá do Cais Dourado" (Martinho da Vila e Rodolfo), "Mariana" (Paulinho da Viola) e "Amigo da Onça" (Silvio da Silva Jr./Aldir Blanc), canção que os mesmos autores de "Amigo É pra Essas Coisas" fizeram em complemento à primeira.
O resultado é irregular, mas vale escutar o MPB-4 no período histórico em que ele fez história.


MPB-4 - Quarenta Anos contra a Corrente
   
Gravadora: Universal
Quanto: R$ 39, em média


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