São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA / ESTRÉIAS

Crítica/ "007 - Quantum of Solace"

007 volta com modernidade já esgotada

CRÍTICO DA FOLHA

007 é, a cada dia mais e em mais de um sentido, um caso de sobrevivência heróica. O agente britânico já teve charme inconfundível e estilo "bon vivant". Sabia tratar de vinhos, carros e mulheres com desenvoltura incomum. A aventura, para ele, era quase uma forma de repousar das atividades mundanas.
O emblema de tudo isso será, para sempre, o primeiro 007, Sean Connery. Mas esse foi o paradigma de que outros buscaram se aproximar. Isso até que, com Daniel Craig, tudo recomeçasse, tudo voltasse a "Cassino Royale". Tivemos ali a afirmação do 007 mais físico de todos, o que mais parecia freqüentar as academias de ginástica, aquele que mais tinha de andar, correr como louco, pular.
Por fim, com Daniel Craig, o agente 007 apaixonou-se por Vesper. Pior: Vesper morreu, legando a "007 - Quantum of Solace" um agente melancólico e vingativo. James Bond escapou à sua natureza. Até M (Judi Dench), a superiora, sabe disso.
Mas há o pior, que há anos se insinua: com o final da Guerra Fria, qual a função dos agentes secretos? Claro, eles sempre podem ser usados. Mas, só para lembrar a intriga, onde foi parar 007 desta vez? Na Bolívia, às voltas com uma organização secreta disposta a depor o governo, que se tornaria impopular devido à absoluta falta de água.
Para tanto, a organização trata, entre outras falcatruas, de acaparar toda a água do país, represada artificialmente.
Nada disso faz muito sentido, mas não importa -não fazer enorme sentido é em grande parte o dia-a-dia dos filmes de James Bond. A diferença é que, até agora, podíamos saber com razoável segurança quem era quem nas tramas. Quem trai e quem não trai. Se não sabíamos, 007 acabava por descobrir. Agora já não é assim.

Fio da navalha
O próprio 007 é objeto de suspeita e desautorizado pelo Serviço Secreto, a horas tantas.
Caminha-se sobre o fio da navalha, entre o dever para com a pátria e o dever para com os próprios sentimentos. O que é pessoal e o que é assunto de Estado? Quem é quem? Tudo isso tem sua pertinência. Um mundo multipolar substituiu um mundo bipolar.
A verdade, no entanto, é que Hal Hartley deu conta em "Fay Grimm", com mais desenvoltura, do destino do filme de espionagem em nossos dias: navegar entre um formidável "nonsense" e a rotina. Como opta, afinal, pela primeira hipótese, "007 - Quantum of Solace" se afirma como o que pode ser: uma eficiente diversão para o fim de semana.
Mas a modernidade de Bond parece novamente esgotar-se -e estamos apenas no segundo filme de Daniel Craig.
(IA)

007 - QUANTUM OF SOLACE

Produção: EUA / Inglaterra, 2008
Direção: Mark Forster
Com: Daniel Craig, Olga Kurylenko, Mathieu Amalric
Onde: estréia hoje nos cines Cine TAM, Unibanco Arteplex 1 e circuito
Classificação: não indicado para menores de 14 anos
Avaliação: regular



Texto Anterior: Crítica/"O Silêncio de Lorna": Melodrama é recriado pelos Dardenne
Próximo Texto: Crítica/"Meu Nome É Dindi": Encanto de estreante vai além de citações
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.