São Paulo, sexta-feira, 07 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CINEMA / ESTRÉIAS

Crítica/"Meu Nome É Dindi"

Encanto de estreante vai além de citações

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Em sua estréia na direção de longas, o jovem cineasta e produtor Bruno Safadi passa ao largo da originalidade para empreender um interessante retorno às origens. "Meu Nome É Dindi" nem chega a ser um filme que se resume numa história. Trata-se mais de um conjunto de situações, nas quais Safadi faz frutificar sua idéia de cinema.
"A gente vai fazer com que Belair deixe de ser um nome proibido", declama o militar Marcão. Nome mítico do cinema de invenção brasileiro, a produtora Belair resultou de ideais de criação dos diretores Rogério Sganzerla e Julio Bressane e da atriz Helena Ignez.
Em 1970, a Belair produziu sete títulos dos diretores que fizeram ventilar nosso cinema.
A fala de Marcão é dirigida à quitandeira Dindi (Djin Sganzerla, filha de Rogério e Helena). O jangadeiro Jacaré e a Dama de Shangai também são evocados, além de personagens feitos por Maria Gladys e Tereza Maron, filha de Gladys.
A profusão das referências a Sganzerla/ Bressane marca o lado negativo do longa, como se fosse necessário conquistar espectadores capazes de reconhecer citações e aprovar o filme pelo caminho da filiação.
Mas é por outro caminho da filiação que o filme afirma seu encanto. A quitandeira, órfã de mãe e de pai desconhecido, é posta sob o risco de forças vorazes do mercado, como o supermercado que vende tudo e compra todos.
Contra eles, Dindi vai sair em busca de salvação, esforço no qual reencontra as origens. Num jogo em que as imagens abrigam a convivência de presente e passado, de real e imaginação, a graça que a personagem alcança carrega junto o espectador, conduzindo-o pelas delícias da memória, do sonho e da poesia. Desse modo astuto, Safadi se posiciona contra o cinema de supermercado e nos oferece um saboroso filme de quitanda.

MEU NOME É DINDI
Produção:
Brasil, 2008
Direção: Bruno Safadi
Com: Djin Sganzerla, Gustavo Falcão
Onde: estréia no Frei Caneca
Classificação: não indicado a menores de 16 anos
Avaliação: bom



Texto Anterior: Crítica/ "007 - Quantum of Solace": 007 volta com modernidade já esgotada
Próximo Texto: Documentário acompanha produção de três artistas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.