São Paulo, sábado, 7 de novembro de 1998

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EXPOSIÇÃO
Mostra "A África por Ela Mesma" abre hoje em São Paulo
Pinacoteca do Parque revela a história da fotografia negra

ANA MARIA GUARIGLIA
free-lance para a Folha

A Pinacoteca do Parque inaugura hoje a mostra "A África por Ela Mesma", com cerca de 400 obras, que conta a história da participação do negro na fotografia, de 1840 até os dias de hoje.
Serão apresentados registros de 37 fotógrafos e de agências oficiais da África do Sul, Mali, Serra Leoa, Senegal, Gana, Madagascar, Nigéria, Quênia, Angola e Etiópia.
Inclui obras da diáspora negra na França, Cuba, Canadá, EUA e Brasil, com 13 artistas da Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas.
O projeto é o resultado da parceria entre a Pinacoteca e a editora francesa Revue Noire, a Maison Européene de la Photographie e a South African Gallery.
A mostra será acompanhada pelo lançamento de um livro, em português, com textos e mais de 450 fotos.
Leia a seguir entrevista do editor-chefe da Revue Noire, Simon Njami, 36, que participou da elaboração do livro.

Folha - No contexto da sociedade atual e diante da multiplicidade racial, qual é a importância da fotografia tirada pelos negros?
Simon Njami -
Sua importância é fundamental. A partir delas pudemos recuperar a nossa própria alma. Durante muito tempo, ficou gravado no imaginário popular as imagens dos negros calcadas nos estudos etnográficos, antropológicos e coloniais.
Chegou-se ao ponto de fotografar arquétipos, como se os colonizadores quisessem dizer, "olha, eles são selvagens, usam ossos no nariz e nas orelhas".
Folha - Isso não seria um fato recorrente da missão civilizadora?
Njami -
Sim, mas quero dizer que essas fotos definem as fronteiras entre o colonizador e o colonizado, atingindo o ápice na fotografia antropométrica para especificar a pessoa e tipos de conduta. Os momentos críticos da história usaram esse tipo, como nos anos 40, especificando os judeus perseguidos.
Folha - E o apartheid?
Njami -
O sistema de segregação racial recolheu grande parte de fotos, que retratavam nossa história. O fotógrafo Santu Mofokeng está recuperando esses trabalhos, tornando possível a reabilitação da nossa imagem.
Folha- Na mostra e no livro, há muitos fotógrafos jovens. É uma tendência?
Njami -
A fotografia africana teve um grande vácuo até os anos 80. A partir daquela época, foi realizado um trabalho de descoberta e promoção. A exposição mostra bem isso: são os jovens se descobrindo e dando continuidade à descoberta de seus ancestrais.
Folha - Esse fato está ligado à tentativa de autodefinição de fotógrafos como Ajamu e Rotimi?
Njami -
Não tentativa, mas necessidade. Com a diáspora, os problemas passaram a ser colocados em vários termos. Em Londres, Rotimi enfrentou questões sérias, que envolviam a parte social, a afetiva e o aspecto da sexualidade.
Ajamu também tem os mesmos problemas. É complexa a busca proposta pelo fotógrafos da diáspora. Eles querem responder as questões pessoais por eles mesmos sem a ajuda de ninguém.
²
Exposição: A África por Ela Mesma Quando: hoje, às 15h (só para convidados); ter a dom, das 11h às 17h; até 29.11 Onde: Pinacoteca do Parque (Pavilhão das Artes Padre Manoel da Nóbrega, av. Pedro Alvares Cabral, s/nº, portão 10, parque Ibirapuera, tel. 011/549-8073) Quanto: R$ 2 e R$ 5; grátis às quintas Livro: Antologia da Fotografia Africana e do Oceano Índico Lançamento: Éditions Revue Noire Quanto: R$ 80 (432 págs.)


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