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Crítica
Clube Chocolate se divide entre o apelo orgânico e a sedução consumista
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
A idéia de servir alimentos orgânicos tem seu
lado simpático, o de
buscar uma comida saudável
para quem come e para o planeta, e procurar nos ingredientes
seu gosto verdadeiro, ancestral.
Não aposto no futuro dos que
comem e, por isso, no do planeta onde vivem, mas aprecio que
se tenha uma comida melhor.
Parece ser o que persegue o restaurante da loja Clube Chocolate ao aderir à comida orgânica. A questão é saber se a boa
comida de lá melhorou por
conta dessa transformação.
Por enquanto acho que não.
Ali servia-se uma consistente e
gostosa cozinha de bistrô, com
toda a carga de sabores e excessos que ela felizmente traz. Era
feita com competência pelo
francês Pascal Jolly, que se
mantém no comando. O espaço
do restaurante, de bela arquitetura, ficava no subsolo da loja,
ladeado por uma praia cenográfica e pontuado por mesas
com ingredientes brasileiros.
Tudo mudou. Agora as mesas
são intercaladas por mostruários de roupas e sapatos. Será
tão bom para o organismo comer enquanto madames examinam etiquetas de vestidos a
seu lado? (Aliás, será tão bom
assim examinar um sapato, belo que seja, com aromas de peixe a meio metro de você?). E
mudou o cardápio, agora pequeno e tímido. Provavelmente
porque é tímida a oferta de produtos orgânicos. Então temos
que tomar sucos engarrafados
ou congelados (alguns péssimos), vinhos poucos e ruins (e
olha que tem muito vinho orgânico importado e bom), e pratos tíbios como peixe grelhado
com purê de batata (orgânico,
um dos dois?).
Tailandês sem pimenta
No meio das poucas opções
dá para garimpar batatas fritas,
competentes, com aioli (maionese de alho); espaguete ao
alho e óleo com camarões, rúcula e pimentões; filé mignon
(antes eram cortes bovinos
mais excitantes) com molho
béarnaise; embora seja preciso
fugir da salada thäi (camarão,
macarrão tailandês, manga, pepino, amendoim, chili, azeite de
erva-cidreira, tudo sem gosto e
sem pimenta).
Não seria melhor ter a velha e
boa cozinha de bistrô, farta e
variada, e ao lado uma seção de
"orgânicos", com os pratos que
ali coubessem (classificados
pelos proprietários como "alimentos funcionais")? E que tirassem da nossa frente aqueles
sapatos caros e reluzindo de sedução consumista, enquanto a
gente quer apenas comer?
josimar@basilico.com.br
CLUBE CHOCOLATE
Avaliação: regular
Endereço: r. Oscar
Freire, 913, subsolo
Clube Chocolate, tel.
0/xx/11/3084-1500
Funcionamento: seg. a
sáb., das 10h às 20h;
dom., das 12h às 18h.
Ambiente: a loja é
moderna e linda, o local
do restaurante também,
mas as araras entre as
mesas atrapalham
Serviço: simpático,
jovial
Vinhos: meia dúzia de
vinhos orgânicos e
fracos, pouco diante da
oferta já existente
Cartões: todos
Preços: entradas, R$ 8 a
R$ 20; pratos principais,
R$ 24 a R$ 38;
sobremesas, R$ 8 a
R$ 12
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