São Paulo, quinta-feira, 07 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica

Clube Chocolate se divide entre o apelo orgânico e a sedução consumista

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

A idéia de servir alimentos orgânicos tem seu lado simpático, o de buscar uma comida saudável para quem come e para o planeta, e procurar nos ingredientes seu gosto verdadeiro, ancestral.
Não aposto no futuro dos que comem e, por isso, no do planeta onde vivem, mas aprecio que se tenha uma comida melhor.
Parece ser o que persegue o restaurante da loja Clube Chocolate ao aderir à comida orgânica. A questão é saber se a boa comida de lá melhorou por conta dessa transformação. Por enquanto acho que não.
Ali servia-se uma consistente e gostosa cozinha de bistrô, com toda a carga de sabores e excessos que ela felizmente traz. Era feita com competência pelo francês Pascal Jolly, que se mantém no comando. O espaço do restaurante, de bela arquitetura, ficava no subsolo da loja, ladeado por uma praia cenográfica e pontuado por mesas com ingredientes brasileiros.
Tudo mudou. Agora as mesas são intercaladas por mostruários de roupas e sapatos. Será tão bom para o organismo comer enquanto madames examinam etiquetas de vestidos a seu lado? (Aliás, será tão bom assim examinar um sapato, belo que seja, com aromas de peixe a meio metro de você?). E mudou o cardápio, agora pequeno e tímido. Provavelmente porque é tímida a oferta de produtos orgânicos. Então temos que tomar sucos engarrafados ou congelados (alguns péssimos), vinhos poucos e ruins (e olha que tem muito vinho orgânico importado e bom), e pratos tíbios como peixe grelhado com purê de batata (orgânico, um dos dois?).

Tailandês sem pimenta
No meio das poucas opções dá para garimpar batatas fritas, competentes, com aioli (maionese de alho); espaguete ao alho e óleo com camarões, rúcula e pimentões; filé mignon (antes eram cortes bovinos mais excitantes) com molho béarnaise; embora seja preciso fugir da salada thäi (camarão, macarrão tailandês, manga, pepino, amendoim, chili, azeite de erva-cidreira, tudo sem gosto e sem pimenta).
Não seria melhor ter a velha e boa cozinha de bistrô, farta e variada, e ao lado uma seção de "orgânicos", com os pratos que ali coubessem (classificados pelos proprietários como "alimentos funcionais")? E que tirassem da nossa frente aqueles sapatos caros e reluzindo de sedução consumista, enquanto a gente quer apenas comer?


josimar@basilico.com.br

CLUBE CHOCOLATE
Avaliação: regular
Endereço: r. Oscar Freire, 913, subsolo Clube Chocolate, tel. 0/xx/11/3084-1500
Funcionamento: seg. a sáb., das 10h às 20h; dom., das 12h às 18h.
Ambiente: a loja é moderna e linda, o local do restaurante também, mas as araras entre as mesas atrapalham
Serviço: simpático, jovial
Vinhos: meia dúzia de vinhos orgânicos e fracos, pouco diante da oferta já existente
Cartões: todos
Preços: entradas, R$ 8 a R$ 20; pratos principais, R$ 24 a R$ 38; sobremesas, R$ 8 a R$ 12



Texto Anterior: Crítica: CD traz músicas de tom otimista e particular
Próximo Texto: Bebidas: Empresário suíço traz bons argentinos a SP
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.