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Música
Grupo mostra "tecno engajado" em SP
Atração do festival Nokia Trends, o coletivo Underground Resistance, de Detroit, faz a primeira apresentação no Brasil
Referência na música eletrônica, o grupo produziu peças importantes da dance music e promove iniciativas em bairros pobres dos EUA
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Se no rock atual já é complicado encontrar artistas que tratem temas políticos e sociais
com relevância e distinção, o
que esperar da música eletrônica, em que quase não há o apoio
dos vocais? Dá para estimular a
reflexão e ao mesmo tempo fazer o povo dançar? O coletivo
Underground Resistance está
há quase 20 anos nessa missão.
"Ao usar a linguagem sonora,
a necessidade da tradução é eliminada. Permite ao ouvinte
pintar uma imagem própria na
mente, em vez de ter alguém dizendo sobre o que é aquela canção", diz "Mad" Mike Banks, o
líder do coletivo, em entrevista
exclusiva à Folha, por e-mail.
"Ao inspirar a imaginação
das pessoas, as possibilidades
que existem na música são infinitas. Por exemplo, vários engenheiros mecânicos de Detroit, com a tarefa de construir
carros para o futuro, vêm ao
Undergroud Resistance para
adquirir... inspiração. Inspiração é o poder da música."
Dos bairros mais perigosos
de Detroit nasceu esse grupo,
que desembarca pela primeira
vez no Brasil amanhã, quando
toca no festival Nokia Trends,
no Memorial da América Latina, em São Paulo, com outras
atrações (veja texto e quadro
nesta página).
O UR, como é conhecido pelos fãs, é guiado pelo recluso
Mike Banks desde a sua criação, no final dos anos 80. Nesse
tempo, o coletivo tornou-se
uma referência musculosa na
música eletrônica -mais especificamente, no tecno.
O jazz, o funk, o electro, o
Kraftwerk, a house de Chicago
-são vários os elementos que
entram na bula do tecno, gênero criado em Detroit na metade
dos 80 por Juan Atkins, Derrick May e Kevin Saunderson.
Em SP, o UR se apresentará
como uma banda: com saxofonista, baterista e tecladistas.
Modelos falidos
Banks e o UR passaram a empunhar o bastão do tecno americano, mas com uma agenda
militante e engajada -promovem iniciativas para comunidades pobres de Detroit e criticam o que chamam de "música
convencional e conservadora"
martelada por rádios e DJs.
"Nosso primeiro objetivo era
continuar o trabalho do grande
"Electrifying Mojo" [importante DJ de Detroit; em 1985, ele
foi um dos poucos que teve a
oportunidade de entrevistar
Prince, que raramente dava entrevistas], e esse propósito é o
de esclarecer e educar as pessoas em como combater "Os
Programadores" e seus constantes bombardeios midiáticos, com seus estereótipos,
seus modelos falidos e imagens
de ignorância", filosofa. "Mojo
nos ensinou como a sabedoria e
a tecnologia poderiam nos
construir um futuro."
Futuro é para onde, teoricamente, o tecno olha -ele é, por
definição, um gênero que caminha lado a lado com as inovações tecnológicas. E, para
Banks, o futuro é uma meta:
"Tecno significa liberdade e
possibilidade de construir um
futuro. Como a tecnologia do
Cotton Gin [máquinas que separam fibras e sementes do algodão], que terminou com a escravidão nos EUA. Os instrumentos minúsculos e portáteis
criados pelos japoneses nos
anos 70 e 80 nos libertaram.
Nos mostram as possibilidades
mesmo de tecnologias que haviam sido descartadas."
B-52's e Kraftwerk
O discurso de Banks e o histórico do UR dão a idéia de um
grupo panfletário -mas o que
fica em destaque é a música.
Nessas duas décadas, o coletivo
produziu algumas das principais peças da dance music, como "High-Tech Jazz", "Knights
of the Jaguar" (do DJ Rolando,
que foi integrante do coletivo) e
"Nation 2 Nation". São faixas
que combinam elegância e robustez; batidas secas e linhas
melódicas de teclados.
"A inspiração vem de vários
lugares. De novo, cito Electrifying Mojo. Tocava Kraftwerk,
depois Parliament Funkadelic
e em seguida B-52's!", lembra.
"Não havia limites. Musicalmente, nada é impossível."
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