São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

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Música

Grupo mostra "tecno engajado" em SP

Atração do festival Nokia Trends, o coletivo Underground Resistance, de Detroit, faz a primeira apresentação no Brasil

Referência na música eletrônica, o grupo produziu peças importantes da dance music e promove iniciativas em bairros pobres dos EUA

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Se no rock atual já é complicado encontrar artistas que tratem temas políticos e sociais com relevância e distinção, o que esperar da música eletrônica, em que quase não há o apoio dos vocais? Dá para estimular a reflexão e ao mesmo tempo fazer o povo dançar? O coletivo Underground Resistance está há quase 20 anos nessa missão.
"Ao usar a linguagem sonora, a necessidade da tradução é eliminada. Permite ao ouvinte pintar uma imagem própria na mente, em vez de ter alguém dizendo sobre o que é aquela canção", diz "Mad" Mike Banks, o líder do coletivo, em entrevista exclusiva à Folha, por e-mail.
"Ao inspirar a imaginação das pessoas, as possibilidades que existem na música são infinitas. Por exemplo, vários engenheiros mecânicos de Detroit, com a tarefa de construir carros para o futuro, vêm ao Undergroud Resistance para adquirir... inspiração. Inspiração é o poder da música."
Dos bairros mais perigosos de Detroit nasceu esse grupo, que desembarca pela primeira vez no Brasil amanhã, quando toca no festival Nokia Trends, no Memorial da América Latina, em São Paulo, com outras atrações (veja texto e quadro nesta página).
O UR, como é conhecido pelos fãs, é guiado pelo recluso Mike Banks desde a sua criação, no final dos anos 80. Nesse tempo, o coletivo tornou-se uma referência musculosa na música eletrônica -mais especificamente, no tecno.
O jazz, o funk, o electro, o Kraftwerk, a house de Chicago -são vários os elementos que entram na bula do tecno, gênero criado em Detroit na metade dos 80 por Juan Atkins, Derrick May e Kevin Saunderson.
Em SP, o UR se apresentará como uma banda: com saxofonista, baterista e tecladistas.

Modelos falidos
Banks e o UR passaram a empunhar o bastão do tecno americano, mas com uma agenda militante e engajada -promovem iniciativas para comunidades pobres de Detroit e criticam o que chamam de "música convencional e conservadora" martelada por rádios e DJs.
"Nosso primeiro objetivo era continuar o trabalho do grande "Electrifying Mojo" [importante DJ de Detroit; em 1985, ele foi um dos poucos que teve a oportunidade de entrevistar Prince, que raramente dava entrevistas], e esse propósito é o de esclarecer e educar as pessoas em como combater "Os Programadores" e seus constantes bombardeios midiáticos, com seus estereótipos, seus modelos falidos e imagens de ignorância", filosofa. "Mojo nos ensinou como a sabedoria e a tecnologia poderiam nos construir um futuro."
Futuro é para onde, teoricamente, o tecno olha -ele é, por definição, um gênero que caminha lado a lado com as inovações tecnológicas. E, para Banks, o futuro é uma meta:
"Tecno significa liberdade e possibilidade de construir um futuro. Como a tecnologia do Cotton Gin [máquinas que separam fibras e sementes do algodão], que terminou com a escravidão nos EUA. Os instrumentos minúsculos e portáteis criados pelos japoneses nos anos 70 e 80 nos libertaram. Nos mostram as possibilidades mesmo de tecnologias que haviam sido descartadas."

B-52's e Kraftwerk
O discurso de Banks e o histórico do UR dão a idéia de um grupo panfletário -mas o que fica em destaque é a música. Nessas duas décadas, o coletivo produziu algumas das principais peças da dance music, como "High-Tech Jazz", "Knights of the Jaguar" (do DJ Rolando, que foi integrante do coletivo) e "Nation 2 Nation". São faixas que combinam elegância e robustez; batidas secas e linhas melódicas de teclados.
"A inspiração vem de vários lugares. De novo, cito Electrifying Mojo. Tocava Kraftwerk, depois Parliament Funkadelic e em seguida B-52's!", lembra. "Não havia limites. Musicalmente, nada é impossível."


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