São Paulo, terça-feira, 07 de dezembro de 2010

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Graciela Iturbide tem retrospectiva na Pinacoteca

DE SÃO PAULO

Mesmo em preto e branco, as fotografias de Graciela Iturbide não escondem as cores contrastantes de um universo em que a vida parece roçar a morte o tempo todo.
São rituais de sacrifício, serpentes que saltam pela boca, pássaros em revoada e sangue que lava o chão. Iturbide, agora com retrospectiva na Pinacoteca do Estado, retrata o México em ebulição, das festas e mercados populares aos povos do deserto. Na série que abre a mostra, a artista mexicana flagra os personagens do deserto de Sonora. Uma mulher de saia esvoaçante sobe uma encosta carregando um rádio na mão, como se levasse outra música à imensidão calada.
Um homem de óculos escuros encara a objetiva num misto de registro documental e ensaio de moda, como se Iturbide misturasse aqui a crueza de Sebastião Salgado, que lista como influência, e uma certa elegância agreste.
Noutro retrato, a textura da pele de uma mulher faz eco com os caules espinhosos das plantas desérticas. Essa mesma fusão poderosa de figura e mise-en-scène também pauta a série de retratos das mulheres de Juchitán. Uma delas equilibra iguanas na cabeça, como se fossem uma espécie de adorno tribal dotado de vida real.
Tudo parece pulsar com essa energia estranha, entre a violência da morte e a letargia de vidas esfarrapadas.
Cabras mortas para um ritual religioso parecem dormir ao lado de crianças no chão, não fosse a poça de sangue viscosa que inunda o quadro.
Uma gorda nua é retratada na penumbra, seu corpo disforme alvejado pela luz difusa -quase uma tradução da volúpia neoclássica de um quadro de Ingres à carnalidade grotesca do mundo real.
Sem carne, Iturbide busca outra mulher na série de fotografias que fez do banheiro de Frida Kahlo, quarto da casa azul que ficou fechado por décadas depois de sua morte.
São os rastros de uma presença que a fotógrafa registra largados, num meio termo entre exaltar a aura mítica da artista que viveu ali e um rebaixamento de tudo aquilo a um plano prosaico, resquícios de uma mulher sofrida.
Em seus autorretratos, não ignora a dor. Num deles, expõe os olhos a bicos de pássaros. Noutro, leva na boca um punhado de cobras.
(SM)

GRACIELA ITURBIDE

QUANDO de ter. a dom., das 10h às 18h; até 30/1
ONDE Pinacoteca (pça. da Luz, 2, tel. 0/xx/11/3324-1000)
QUANTO R$ 6 (grátis aos sáb.)


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