|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
"Um Só Coração" opta pelo parnasianismo
XICO SÁ
CRITICO DA FOLHA
O historiador Evaldo Cabral de Mello disse recentemente à revista "Nossa História",
publicada pela Fundação Biblioteca Nacional, que detestava
quando a TV, o cinema ou a literatura (via romance) se metiam
com os chamados fatos reais ou
históricos no Brasil. O resultado é
uma "patuscada". O agravante seria a falta de uma boa escolaridade do público, que passa a tomar
o teledrama como história de fato.
Não sejamos tão apocalípticos
assim. "Um Só Coração", nova
minissérie da Globo, na cola publicitária da efeméride dos 450
anos de SP, apenas sequestra um
punhado de personagens reais e
acontecimentos marcantes da cidade, como a Semana de 22, para
construir uma ficção de olhos
bem azuis. Trouxe para debaixo
da mesma chuva romântica uma
Penteado (Iolanda/Ana Paula
Arósio) e um pobre estudante
anarquista de família decadente
(Martim/Erik Marmo).
Iolanda é real; Martim fictício.
Amor ao primeiro minuto, à primeira vista -esse recurso que facilita a narrativa, como o uso de
sonhos, sempre milagrosos nas
mãos dos roteiristas em momentos de fastio de idéias. E como a
Globo gasta água nas suas cenas
românticas, tudo é gravado debaixo de muita chuva. Cada beijo
daria para molhar o semi-árido
brasileiro todo. Ora diríeis, tem
algo mais parnasiano dentro de
um suposto ambiente à beira do
modernismo?
Tudo bem, a vida é brega e derramada mesmo, que fazer? Além
do conflito da quatrocentona com
o estudante do interior, anuncia-se outro par entre nobres e plebeus, com a Maria Luíza (Letícia
Sabatella) e o pintor Mattei (Ângelo Antonio). Os dois são inteiramente fictícios. Mas os amores,
difíceis ou não, devolvem algum
sonho e generosidade ao enfadado telespectador de uma São Paulo nervosa e sem emprego. Ou vocês queriam que os autores gastassem toda a fita com a sabedoria
do Mario e as boutades do Oswald?
Não iria sobrar tempo para as
crueldades do coronel Totonho,
baile de interpretação de Tarcísio
Meira. A cena de sexo da estréia,
um primor, é promessa de que a
minissérie pode melhorar bastante. O personagem, católico ao extremo, travado, perverso, vai render. Assim como o seu filho Bernardo (Daniel de Oliveira), donzelo cuja virgindade está nas
mãos de Ana (Maria Fernanda
Cândido).
Um Só Coração
Quando: seg. a sex, às 22h40, na Globo
Texto Anterior: Mundo gourmet: Lola Bistrô traz amostra da nova geração de chefs Próximo Texto: Contardo Calligaris: Os feridos das festas Índice
|